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Conheça a nova safra de hotéis voltados para o público gay em Nova York

Steven McElroy

New York Times Syndicate

01/05/2012 07h00

Em um recente sábado à noite na nova casa noturna XL, na West 42nd Street, clubbers dançavam em uma pista abaixo do nível do chão, enquanto o DJ Manny Lehman tocava um house percussivo, luzes piscavam, go-go boys flutuavam em plataformas elevadas e o pessoal do bar preparava coquetéis. Não sou do tipo que fica na rua a noite toda, mas fiquei até bem tarde, uma vez que minha cama ficava a poucos passos, passando por algumas portas de vidro que levavam à recepção de um hotel de Manhattan.

Bem-vindo ao Out NYC, cujos proprietários o chamam tanto de primeiro hotel gay em Nova York quanto de “resort urbano hetero-friendly”. Localizado no oeste de Clinton, entre as Avenidas 10 e 11, o hotel de três andares e 6500m², o filhote de Ian Simpson Reisner, sócio diretor da Incorporadora Parkview, possui 105 quartos. O clube e bar XL fica logo ao lado da recepção, e um restaurante e outras facilidades estão sendo construídos.

Minha pergunta era: em um lugar como Nova York, o que significa ser um hotel gay, exatamente? Para responder, eu fui conhecer uma bela quantidade de hotéis que se identificam como gay ou gay-friendly, e me presenteei com algumas lições de história durante o processo.

O teste padrão para um lugar gay-friendly é se ele é tem a aprovação TAG, um padrão estabelecido pela organização chamada Community Marketing Inc. para identificar estabelecimentos que possuem uma política não discriminatória, além de oferecer treinamento sobre diversidade para os funcionários, por exemplo. Muitos hotéis em Nova York possuem a aprovação TAG, mas poucos (alguns fundados, silenciosamente, há décadas) fazem mais do que simplesmente garantir aos hóspedes e funcionários gays um ambiente confortável, e realmente cuidam da sua clientela gay.

Uma vez que o Out é certamente o maior, mais ostensivo e mais atrevido de todos, comecei por ali, fazendo o check-in no dia 3 de março com o meu companheiro, Brett, e um casal de amigas lésbicas que poderiam ajudar a avaliar se o termo gay diria respeito somente aos gays homens.

Chegamos separados; as mulheres receberam seu quarto na hora, enquanto tivemos que esperar por quase uma hora. Então o Out passou no nosso teste secreto de discriminação contra lésbicas mas perdeu pontos por não estar com meu quarto pronto antes das 17h, apesar do check-in ser às 15h. (Era o final de semana de abertura, então problemas ainda estavam sendo resolvidos.)

Depois de fazer o check-in, fomos para o nosso quarto e passamos por áreas ainda fechadas, em construção. Pareceu um pouco como ir a um show da Broadway durante os ensaios técnicos.

Mas a sensação de inacabado não se estendeu aos serviços. Todo empregado que encontrei era amistoso. Além disso, o staff era universalmente atraente (a maioria dos empregados também parecia ser do sexo masculino).

Nosso quarto no segundo andar tinha uma decoração minimalista e chic em preto e branco. Mobiliário e roupas de cama brancos contrastavam com as cortinas escuras e o carpete preto. Não havia closet, o local para guardar as malas ficava no banheiro, onde havia um cabideiro grande o suficiente para acomodar somente algumas camisas.

Entre os pontos positivos estavam uma grande tv de tela plana pendurada na parede, ao pé da cama, persianas para blackout, uma cama king size com um colchão perfeito e lençóis macios e imaculados. 

Outro ponto positivo: o banheiro. A pia, uma bola de vidro; azulejos cor de café nas paredes e o piso de pedra no box do chuveiro eram elegantes e atraentes. Uma das paredes do box era de espelho, havia outro espelho imenso sobre a pia e um ainda maior na cabeceira da nossa cama. É difícil se esconder das superfícies reflexivas por aqui, é bom aprender a amar o seu corpo.

  • Julie Glassberg/The New York Times

    Área externa do hotel OUt NYC em Midtown conta com um gramado repleto de pufes coloridos

Do lado de fora do nosso quarto ficava o “grande gramado”, um espaço ao ar livre coberto por grama sintética com pufes em cores vivas espalhados pelo espaço. Quase todos os quartos vão abrir para ou dar de frente para este espaço ou para um dos outros dois jardins que estão em fase de acabamento (um terá plantas e mesas, o outro terá jacuzzis, uma piscina com espelhos, uma cascata e áreas para tomar sol). 

A proximidade dos jardins – abertos para todos os hóspedes – às janelas dos quartos cria um efeito de aquário, onde as pessoas podem facilmente olhar de dentro para fora e vice-versa. Isso pode fazer com que alguns se sintam expostos enquanto, digamos, tomam sol, outros podem não querer parecer voyeurs.

Eu também pude ouvir todas as conversas de quem passava em frente à nossa porta, embora o jardim tivesse ficado a maior parte do tempo vazio durante a nossa estada. Fico imaginando se a recepção não vai começar a receber reclamações de barulho quando o local estiver mais cheio de baladeiros noturnos. (Nossas amigas lésbicas ganharam novamente neste quesito: encontraram protetores auriculares sobre seus travesseiros.)

Além disso, uma vez que estes serão a maior parte do espaço comum do hotel (a recepção é bem apertada), o mau tempo pode atrapalhar a socialização.

Mas sempre há a XL para isso.

O clube, dirigido pelo promoter John Blair, é um complexo de 1300m² que compreende um bar com vista para a rua 42, a pista de dança, outros dois bares, uma área VIP para descanso e uma imensa cabine para o DJ.

Um espaço no estilo de um cabaré, com mesas em algumas noites e uma imensa festa dançante em outras, o clube tem pouco mais de um mês de idade, mas estava lotado perto da meia-noite na noite em que fiquei hospedado.

Ao observar o público (misturado, mas a maioria era de homens) pude lembrar do objetivo do hotel: oferecer um local que não seja somente gay-friendly mas que seja abertamente gay – e orgulhoso disso –, ou, como Reisner me disse pelo telefone poucos dias após minha estada, “um lugar que foi construído pelo ponto de vista gay desde o começo.”

O Out certamente parece gay quando pensamos no equilíbrio entre hóspedes gays e héteros (cerca de 80 por cento deles é gay, afirma Reisner), baseado na cena que vi no clube, e também pelo staff, cuja maioria é de belos homens com pinta de modelos. 

Há também uma medida mais abstrata. Como Cristian Bonetto, viajante e escritor do Lonely Planet, me falou através de um email recente, alguns viajantes gays buscam “um aceno, uma luz verde proativa, afirmando que eles podem ser eles mesmos”, e o Out certamente oferece isso.

Reisner disse que queria fazer algo especificamente melhor e com menos apologia ao universo gay do que os pequenos hotéis gays de até então. Abaixo estão algumas considerações sobre alguns deles, e de outros locais em Nova York em que estive recentemente.