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Em São Paulo, galerias de arte estão cada vez mais acessíveis ao público

Shivani Vora

New York Times Syndicate

21/04/2012 13h00

Galerias de arte são itens básicos da maioria das grandes cidades, mas, em São Paulo, elas sempre foram escassas e voltadas para uma pequena elite. Acontece que, com a economia brasileira se expandindo rapidamente na última década, surgiu uma nova classe social com dinheiro suficiente para gastar em itens de luxo como arte.

Em resposta à crescente demanda, estão pipocando vários estabelecimentos pela capital paulista: o número de participantes da SP Arte, por exemplo, a feira de arte brasileira, pulou de 41 em 2005 para 109 este ano. Esses novos espaços, concentrados na Vila Madalena, o bairro boêmio da cidade, e em Pinheiros, também redefiniram o cenário artístico local.

  • Ana Ottoni/The New York Times

    Homem visita as instalações da Galeria Rachel Arnaud, na cidade de São Paulo

"A arte em São Paulo costumava ser elitista. Visitar galerias nunca foi uma prática comum", explica Paul Irvine, um dos fundadores da Dehouche, uma agência de viagens especializada em passeios artísticos individuais pela cidade. "Os ricos iam às galerias, geralmente com hora marcada, de carro, porque não era seguro andar a pé. Os novos espaços estão ajudando a tornar a arte mais acessível ao público em geral".

Espaços criativos

Um dos grandes destaques da cidade é a Galeria Raquel Arnaud (Rua Fidalga 125; 55-11-3083-6322; raquelarnaud.com/en/artistas), com três andares e 930 m², inaugurada em 2011. A dona, Raquel Arnaud, já tinha uma das galerias mais antigas de São Paulo, aberta em 1973, mas com a expansão do cenário artístico, ela precisou de mais espaço para exibir os trabalhos de mais de vinte artistas que representa, que variam de nomes já conhecidos, como o do falecido escultor Sergio Camargo, até revelações, como Frida Baranek.

Baixo Ribeiro é outro dono de galeria considerado uma anomalia quando abriu seu primeiro espaço, o Choque Cultural, há quase uma década. "Na época, eu era um renegado e não havia interesse em arte", ele resume. Não demorou, porém, para que Baixo abrisse uma segunda galeria (Rua Medeiros de Albuquerque 250; 55-11-3061-2365; choquecultural.com.br), para dar destaque à nova onda de artistas ecléticos que criam "trabalhos de imersão", como vídeos e instalações. O próprio prédio parece uma experiência artística: com dois níveis, inóspito, o edifício dá a impressão de refletir o interior de um cubo.

  • Ana Ottoni/The New York Times

    Os novos espaços de arte de São Paulo têm enriquecido o cenário cultural da cidade

Já a Galeria Jaqueline Martins (Rua Dr. Virgilio de Carvalho Pinto 74; 55-11-2628-1943; galeriajaquelinemartins.com/en), inaugurada em 2011, exibe trabalhos de artistas novos e veteranos simultaneamente em vez de organizar apenas exposições isoladas. "O nosso objetivo é criar a discussão sobre os artistas que estão chegando e os que estão aí já há um tempo", diz o gerente Guido Hunn. A mostra atual, por exemplo, traz as obras de dois artistas que fazem colagens: o renomado Hudinilson Jr. e o novato Nino Cais.

Perto dali, o Ateliê Fidalga (Rua Fidalga 299; 55-11-3813-1048; ateliefidalga.com.br; somente com hora marcada) é um espaço que vai além da galeria tradicional: é um tipo de cooperativa e ateliê administrado pelo casal Albano Afonso e Sandra Cinto. Ali, os artistas novos se encontram durante as aulas em grupo e o público pode participar de palestras e ver as exposições dos artistas, além de conhecê-los pessoalmente.

"É o nosso local de trabalho, mas também um espaço de interação entre artistas e o público que vem apreciar a nossa arte", Cinto explicou durante uma visita recente. "Acho que deveria sempre existir um diálogo sobre arte e espero que um lugar como esse sirva de inspiração para tal".