Topo

Aluguel de apartamento vira saída para turistas que querem economizar e viver novas experiências

Simone Graf com o namorado e amigos no apartamento alugado em Buenos Aires - Arquivo pessoal
Simone Graf com o namorado e amigos no apartamento alugado em Buenos Aires Imagem: Arquivo pessoal

Claudia Silveira

Do UOL, em São Paulo

08/02/2012 07h00

Durante o planejamento de uma viagem para Buenos Aires com o namorado e mais quatro amigos, a universitária Simone Graf, 31 anos, decidiu trocar a hospedagem em um hotel pelo aluguel de um apartamento mobiliado e com toda a infraestrutura. Era a primeira vez que o grupo de turistas recifenses se aventurava pela locação temporária de um imóvel, opção que tem se tornado cada vez mais popular entre os viajantes.

Em um dos principais sites que oferecem este tipo de serviço para turistas em 192 países, o Airbnb.com, a demanda no Brasil cresceu mais de 1.100% em 2011. Somente no passado, segundo a empresa, mais de 50 mil diárias foram reservadas mundo afora, sendo metade delas por pessoas do Rio de Janeiro e de São Paulo. De acordo com Jakob Kerr, gerente de comunicação da Airbnb, a maioria dos brasileiros que usam o serviço está com viagem marcada para o exterior. “Mas nós esperamos um crescimento das viagens domésticas dentro do Brasil”, diz.

  • Arquivo pessoal

    A carioca Lili Vieira de Carvalho mora em Vancouver, onde aluga dois apartamentos para turistas vindos de diferentes partes do mundo

O preço é um dos principais atrativos para quem opta pelo aluguel por temporada, que pode variar entre dias e até meses. “Foi muito mais em conta”, afirma Simone, que alugou um apartamento de três quartos em uma área residencial do bairro Palermo por meio do site Welcome2BA. “Os benefícios do hotel não compensavam a diferença de valor. Pagamos US$ 700 por uma semana de hospedagem. Dividindo, ficou cerca de R$ 200, por pessoa, pelos sete dias.”

Há quem não ligue tanto para a economia e queira mesmo é sentir a cidade como se fosse um morador, por mais que temporário. Ao alugar apartamento, é possível optar por um bairro residencial, onde a oferta de hotel não é tão farta e a presença de turistas, mais tímida. O analista de sistemas Leandro Melo, 30 anos, se hospedou por 12 dias em um apartamento em Paris.

“Quando me hospedo em um hotel, a impressão que eu tenho é que estou vivendo em um mundo paralelo ao das pessoas daquele lugar, por mais que tente entender os pequenos detalhes da cidade, fica mais difícil. Ao alugar um imóvel, você consegue se inserir naquela sociedade porque precisa ir ao supermercado, à padaria, consegue ver o movimento da rua e até observa os móveis de uma casa daquele local”, compara. “E ainda dá pra bater um papo com o dono do apartamento em vez de conversar com o recepcionista do hotel”, complementa Melo.
 

É dessa interação com o morador da cidade onde está visitando que o cineasta Felipe Dall´Anese, de 33 anos, mais gosta. A lista de cidades do mundo por onde ele andou e alugou imóveis e quartos é extensa e inclui Nova York, Roma e Berlim. Com tanto carimbo no passaporte, o cineasta também coleciona histórias para contar. Uma delas é ter observado o furacão Irene, que atingiu a costa leste dos Estados Unidos em agosto do ano passado, do alto de um edifício no Brooklyn, onde ele dividiu um apartamento alugado com outras pessoas.

“Foi demais. Se tivesse em um hotel, eu jamais teria feito isso e até era possível que o prédio tivesse sido evacuado por causa da segurança”, relembra. Outra lembrança inesquecível de uma viagem de Dall´Anese, desta vez à Itália, foi durante o aluguel de um quarto. Depois de um longo dia de passeios, ele voltou para o apartamento e encontrou a dona do imóvel e o namorado dela preparando o jantar. “Eu cheguei e eles tinham acabado de fazer a massa e jantamos juntos. Eles faziam a própria massa, a própria geleia...”, conta.

Conheça alguns dos sites mais populares para aluguel de temporada

O Airbnb está presente em quase 200 países e tem como principais destinos cidades como Nova York, Paris e Rio de Janeiro. Há apartamentos, casas, quartos privados e até compartilhadoswww.airbnb.com
O AlugueTemporada existe desde 2001 e se especializou no aluguel de imóveis por temporada dentro do Brasil. Em 2010, o site foi comprado pela rede internacional HomeAway, que incluiu a oferta de propriedades em outros paíseswww.aluguetemporada.com.br
O BahiaHomes trabalha com aluguel por temporada e venda de casas de alto padrão na Bahia. O valor cobrado inclui serviços de arrumadeira e caseiro e ainda há a opção de contratar massagista e babáwww.bahiahomes.com.br
O Homelidays tem aproximadamente 75 mil acomodações distribuídas por 100 países, mas a maior oferta está mesmo na Europa, sobretudo França e Reino Unidowww.homelidays.com
No QuickHome é possível alugar por temporada mas também fazer a troca de casas. Há opções de imóveis luxuosos e mais simples no Brasil e no exteriorwww.quickhome.com
O Welcome2BA oferece, além do aluguel de apartamentos mobiliados em Buenos Aires, o serviço de traslado do aeroporto até o imóvel, além de passeios turísticoswww.welcome2ba.com

Dall´Anese gostou tanto da experiência de se hospedar na casa dos outros que decidiu alugar um dos quartos do apartamento onde mora, na rua Augusta, em São Paulo. Há quase um ano ele anuncia o quarto no site Airbnb.com, que funciona como uma espécie de classificados online e faz a ponte entre o proprietário e o inquilino.

Ao alugar um imóvel, você consegue se inserir naquela sociedade porque precisa ir ao supermercado, à padaria, consegue ver o movimento da rua e até observa os móveis de uma casa daquele local

Leandro Melo, analista de sistemas

Quem também tem um apartamento anunciado no mesmo site é a carioca Lili Vieira De Carvalho, que mora em Vancouver, no Canadá. Casada com um canadense e responsável pela programação do Vancouver Latin American Film Festival, ela se dedica em tempo integral ao aluguel dos dois apartamentos que possui no Centro da cidade.

“Meus hóspedes são principalmente casais, em todas as faixas etárias. Tenho recebido muitos professores universitários que vêm participar de conferências, mas também gente de todo tipo, com todo tipo de passado e profissão. Acho que o que eles têm em comum é que são viajantes experientes, interessados em experimentar um novo modelo de hospedagem”, conta a carioca, que comprou dois apartamentos para investimento e fez do aluguel por temporada sua profissão.

Fazer um imóvel gerar renda é opção também para os anunciantes do site brasileiro AlugueTemporada, que, ao contrário do Airbnb, tem forte demanda do turismo nacional. “A maior quantidade dos imóveis está no litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas há opções no Brasil inteiro”, descreve Nicholas Spitzman, presidente do AlugueTemporada.

O procedimento do site nacional e dos estrangeiros é muito parecido. O interessado faz busca pela cidade onde deseja se hospedar e navega pelas diferentes opções de imóveis e preços. A variedade é um diferencial, pois há desde propriedades simples, com apenas um quarto, até mansões, casa na árvore, iglu e castelo.

Segurança
Uma das principais preocupações tanto de quem aluga o imóvel a um turista quanto de quem viaja e troca o hotel pelo aluguel por temporada é com a segurança da transação, da veracidade das informações e até - no caso do turista - com a existência da propriedade anunciada. Viajantes mais experientes costumam orientar a procurar sites de confiança, buscar referências entre os amigos e não deixar de ler os comentários de quem já se hospedou no imóvel.

“Nos sites que oferecem esse tipo de serviço, existe sempre a parte onde os locatários deixam seus testemunhos. O bom é optar sempre pelos imóveis que possuem mais testemunhos, e também que esses testemunhos sejam recentes”, sugere o analista de sistemas Leandro Melo.

Navegar por um site voltado para o aluguel de temporada para turistas também é importante para não cair numa roubada como a vivenciada por Felipe Dall´Anese. Ao procurar por uma propriedade em Cannes, o cineasta recorreu a um site local que alugava imóveis no método tradicional e não voltado para turistas. “Eu não me senti em casa, e o imóvel acabou se resumindo a um lugar barato para ficar”, relembra.

Tanto a viajante Simone Graf quanto a “host” Lili recomendam entrar em contato direto com o anunciante antes de fechar negócio. Nesse caso, pode ser necessário dominar uma segunda língua, como inglês ou espanhol. “Acho altamente recomendável contatar o anfitrião e tirar todas as dúvidas antes de fechar a reserva. A prontidão e qualidade das respostas vão te dar uma boa idéia da eficiência do anfitrião e do tipo de hospedagem que você vai ter”, observa a carioca Lili.

O método de pagamento da hospedagem varia de site para site. Há a possibilidade de o dinheiro ser pago em espécie, diretamente ao dono, há ainda sites que recebem o pagamento e o repassam ao proprietário e há ainda a possibilidade de trabalhar com transferência de dinheiro pela internet, utilizando mecanismos como o PayPal.

As regras de conduta que cada hóspede deve seguir também são variáveis de acordo com o imóvel. Fumar pode ser estritamente proibido, assim como a presença de animais domésticos. Há proprietários que não aceitam mais de três, quatro hóspedes e ainda os que não permitem pessoas extras, mesmo que visitantes. Para quem fica por um longo período, a sujeira pode se tornar um grande inconveniente. Cabe ao viajante balancear que tipo de experiência está disposto a ter.