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Praia do Rosa, em Santa Catarina, tem cenário refinado e intocado

Shivani Vora

New York Times Syndicate

27/01/2012 17h50

Da varanda da Quinta do Bucanero, uma pousada no centro da Praia do Rosa, o apelo da cidade praiana brasileira é óbvio. Empoleirado no alto de um penhasco, o hotel com dez quartos é cercado por uma floresta tropical e montanhas cobertas de mata, com vistas de um longo trecho de areia dourada e duas lagoas. Surfistas pontilham as ondas e orquídeas perfumam o ar.


Foi esta beleza natural que atraiu Jacqueline Biazus, que é dona da Bucanero juntamente com seu marido, há quase quatro décadas, quando ela era uma hippie de 18 anos - e a fez voltar 15 anos depois para construir o hotel. “Na época, não havia nada aqui no Rosa”, ela disse sentada à mesa na varanda, vendo o cenário. “Não era como é hoje.”

Localizada no Estado de Santa Catarina, a Praia do Rosa fica a cerca de uma hora de carro ao sul de Florianópolis, a popular capital do Estado, conhecida pelas mais de 40 praias que se transformaram em destino para o jet set internacional.

Apesar do ambiente adorável, a Praia do Rosa tem demorado a atrair turistas ou infraestrutura de turismo. Mesmo hoje, ela possui apenas duas ruas pavimentadas; as demais são trilhas de terra. Mas novos moradores se estabeleceram aqui nos últimos anos para abrir pousadas, restaurantes e bares, transformando este ponto antes não desenvolvido em um destino litorâneo chique, que pode passar a atrair parte dos visitantes regulares de Florianópolis. Por ora, ela oferece beleza natural prazerosa e uma combinação curiosa de sofisticação e uma atmosfera descontraída, de pés descalços.

Durante o verão, a vida noturna geralmente começa ao por do sol, quando grupos de surfistas carregando pranchas voltam da praia e os casais começam a lotar as mesas das boates elegantes, algumas com vista para o oceano e lagoas. Enquanto a noite avança, uma clientela bem vestida, a maioria com menos de 40 anos, começa a transbordar do punhado de bares ao redor da rua principal semipavimentada, bebendo caipirinhas de manga e taças dos mais recentes vinhos vintage argentinos. Sons de reggae ao vivo e remixes de música pop sendo tocadas por D.J.s internacionais estão constantemente presentes ao fundo.

O nome da Praia do Rosa não vem da cor de sua areia, mas de Dorvino Manoel da Rosa, um dos primeiros pescadores a ocupar uma casa na praia nos anos 1970. Na época, não havia muita atividade aqui; a via principal que levava até a cidade, a BR 101, que liga a Praia do Rosa até Florianópolis, ainda não existia e o acesso era difícil. A Praia do Rosa era um simples vilarejo de pescadores.

  • Andre Vieira/The New York Times

    Vista da Praia do Rosa, em Santa Catarina


Poucos anos depois, grupos de jovens brasileiros descobriram a área. Muitos deles, incluindo Jacqueline Biazus, vieram de Porto Alegre, uma grande cidade litorânea a cerca de cinco horas e meia ao sul. “As praias ali eram feias, então viajávamos para o norte à procura de melhores, e topamos com a Praia do Rosa”, disse Jacqueline, que veio pela primeira vez em 1978. Por que a Praia do Rosa? Simplesmente não havia opções mais próximas de casa com o mesmo afastamento e ondas perfeitas para surfe, ela disse.

Como não havia hotéis, ela e seus amigos alugavam casas de pescadores que moravam próximos da praia e passavam seus dias aproveitando as ondas. As noites eram passadas ao redor de fogueiras, tocando violão e ouvindo bossa nova. Eles não se incomodavam com a falta de eletricidade, que os moradores locais disseram que só chegou no início dos anos 1980.

Hoje, esses mesmos hippies estão na raiz da nova onda de atividade na Praia do Rosa. Empreendedores com ensino superior como Jacqueline, que tem diploma de Direito, abriram restaurantes, hotéis, bares e butiques. Outros seguiram o exemplo deles e nos últimos anos mais de três dezenas de negócios foram abertos. A julgar pelo número de obras em construção, há mais crescimento à frente.

A população ainda é pequena - cerca de 20 mil pessoas vivem em Ibiraquera, a área que inclui a Praia do Rosa, em comparação a 400 mil em Florianópolis - apesar das coisas estarem começando a mudar.

Os hippies cantando ao redor de fogueiras na praia foram substituídos por mulheres em biquínis se bronzeando e homens em bermudas de surfe, como Fernanda Pereira, 29 anos, e seu marido, Ricardo, 30. O casal, que é de Curitiba, no Estado do Paraná, começou a passar férias aqui anualmente há poucos anos e disse que o aumento do número de locais badalados, somado ao ambiente atraente, continua os atraindo de volta. “Há um ar cosmopolita na Rosa que não existia antes”, disse Fernanda, que trabalha em publicidade e propaganda, “mas ela permanece igualmente imaculada”.

O Beleza Pura, por exemplo, é um dos bares que animam a cena noturna, frequentemente aberto até às 3h ou 4h das manhã na alta temporada (de dezembro a abril; a maioria dos estabelecimentos geralmente só abre aos fins de semana no restante do ano). Seu proprietário, Luciano Manu-Marque, 35 anos, veio de Buenos Aires para a Praia do Rosa há poucos anos para um fim de semana de surfe com os amigos e acabou ficando, ao ver que a cidade não tinha casas noturnas. Grande o bastante para 300 pessoas - há espaço adicional em um pátio ao ar livre - o bar tem o teto pintado com tema cósmico e é enfeitado com peças que Manu-Marque reuniu em suas viagens pelo mundo, incluindo camisas de futebol autografadas. O bar recebe regularmente bandas ao vivo e D.J.s de todo o mundo, que se apresentam para uma casa lotada.

Os restaurantes, que exploram bastante os peixes e frutos do mar, também são um atrativo. O mais notável é o Lua Marinha, aberto em 2001, que serve pratos de peixes e frutos do mar sem frescura, mas requintados, usando apenas ingredientes locais. Da varanda de madeira com vista para a lagoa, os clientes podem ver os pescadores partindo para pescar aquilo que será servido no jantar da próxima noite. Uma recente refeição começou com um ceviche de polvo salpicado com pimenta jalapeño bem picada, seguido por um prato principal para dois de um camarão pequeno e excepcionalmente doce, acompanhado por um molho espesso de ervas.


Para a maioria desses proprietários, se estabelecer na Praia do Rosa visa menos enriquecer e mais desfrutar da riqueza ao redor. Luciano Manu-Marque disse que já teve bares em Ibiza e Buenos Aires - onde ganhava bem mais do que no Beleza Pura. “Há lugares melhores para ganhar dinheiro do que na Rosa, de modo que você não vem para cá para lucrar financeiramente”, ele disse. “Mas nenhum outro lugar no mundo é tão bonito.”

De fato, as vistas deslumbrantes estão disponíveis em quase toda parte na cidade, e as caminhadas pelas montanhas ao redor levam a praias cujo acesso só é possível a pé e são completamente vazias. É possível até mesmo avistar baleias, algo mais comum de julho a novembro. Durante essas caminhadas, preste atenção na flora colorida, incluindo bromélias vermelhas e amarelas, açucenas, orquídeas e pés de jaca com frutos do tamanho de bolas de futebol americano.

Como os turistas notaram, os quartos nas pousas estão se tornando mais difíceis de encontrar durante a alta temporada e também estão mais cheios durante os meses de baixa temporada. Jacqueline disse que as reservas no Bucanero se esgotaram por três meses em dezembro e agora a pousada está vendo mais movimento nos demais meses; há poucos anos, eram poucos os hóspedes fora de temporada. A Morada da Praia do Rosa é uma pousada aberta há um ano que está completamente reservada nos fins de semana mesmo fora da temporada, segundo seu proprietário, Demian Alaimo, outro argentino de Buenos Aires.

Mas apesar daqueles que vêm aqui poderem pensar que a Praia do Rosa é o novo destino do momento na costa brasileira, os moradores não estão interessados nisso. “É claro que precisamos de turistas para nos sustentar, mas não queremos que todos descubram a Praia do Rosa e que ela ganhe uma reputação de cidade de festa”, disse Jacqueline. “Vir aqui é realmente para apreciar a beleza e a tranquilidade, o que fica difícil com pessoas demais.”

 

 


Se você for

Onde ficar

Quinta do Bucanero, (55-48) 3355-6056; bucanero.com.br. Situada em uma encosta, esta luxuosa pousada com dez quartos conta com um pequeno spa e belos jardins. Diárias a partir de R$ 450.

Morada da Praia do Rosa, (55-48) 3355-7342; moradadapraiadorosa.com. Diárias a partir de R$ 240.

Onde comer e beber

Beleza Pura, (55-48) 8829-1253; belezapurabar.com. Drinques entre R$ 10 e R$ 15. Uma refeição para dois, sem bebidas, sai por cerca de R$ 60.

Lua Marinha, (55-48) 3354-0613; luamarinha.com.br. Jantar para dois, sem bebidas, sai por cerca de R$ 150.

Sapore di Pasta, (55-48) 3355-6100; pousadabougainville.com.br. Jantar para dois, com vinho, sai por cerca de R$ 180. (Tradução: George El Khouri Andolfato)