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Entre no mundo de 'Os Pioneiros' na Dakota do Sul, nos EUA

ANNA BAHNEY

New York Times Syndicate

13/11/2011 07h00

“Eu quero ser uma pioneira!” exclamou Annie Foley, nove anos, de Omaha, subindo em uma gangorra feita de velhas rodas de carroça e uma tábua de madeira na Fazenda Laura Ingalls Wilder, em De Smet, Dakota do Sul.

Annie estava vestindo um longo vestido verde de morim e avental branco. Sua irmã, Lily, 11 anos, vestia um longo vestido azul, com seu cabelo loiro balançando ao vento da campina. Lily disse estar gostando de ler o primeiro dos livros “Uma Casa na Campina”, a série autobiográfica de Wilder baseada em sua infância como pioneira na mesma propriedade onde essas meninas agora estavam brincando. “Eu acho muito legal morar em uma fazenda; eu gostaria de viver assim.”

“Você pode sair e ficar com os animais”, disse Annie.

“E todos ajudam uns aos outros”, acrescentou Lily. “E você sai para explorar.”

Mas a melhor parte? Ambas concordam: se vestir.

O pai delas disse que não achava que as meninas suportariam muito tempo sem televisão, mas ficou satisfeito com o entusiasmo delas. “É um bom motivo para fazê-las se interessar pela leitura.”

Situada em meio a amplos pastos ondulantes de campinas de capim e milharais no leste de Dakota do Sul, De Smet há muito é um destino popular para as famílias como lar de Laura Ingalls Wilder. Mas recentemente o movimento está em alta. E segundo aqueles que dirigem os museus, casas históricas e a fazenda, grande parte do aumento se deve a meninas pequenas - e não há nem mesmo uma tiara cintilante ou tutu de balé a vista.

Sim, há meninas para as quais nada supera um vestido de baile cor-de-rosa. Mas muitos pais estão descobrindo que Laura e suas irmãs são alternativas bem-vindas às princesas Bela e Mulan da Disney como fantasias na escola primária. Assim que chegam a De Smet, a chance de experimentar o mundo aventureiro de Laura por meio de exposições interativas, peças e atividades dá às famílias uma visão real de um lugar de livro de histórias.

“Há mais meninas chegando vestidas a caráter e prontas para ser Laura”, disse Cheryl Palmlund, diretora executiva da Sociedade Memorial Laura Ingalls Wilder, em De Smet. “Elas chegam aqui para brincar nas campinas e elas conhecem todas as histórias.”

Laura Ingalls Wilder chegou a De Smet em 1879 como uma menina curiosa de 12 anos e viveu aqui até 1890, quando já tinha se casado e já era mãe. Cinco dos nove livros “Uma Casa...” se passam na cidade ou arredores, onde há 20 endereços relacionados a Laura (a maioria aberto ao público), incluindo casas históricas, a fazenda da família Ingalls e a encenação anual ao ar livre - que celebrou seu 40º aniversário em julho - de um romance diferente a cada ano.

Como a família Ingalls tinha um caso sério de febre por terras - após a Lei das Terras de 1862, eles viajaram cerca de 2.500 quilômetros pelas planícies em busca das melhores oportunidades - De Smet é apenas um dos muitos locais de Laura no Meio-Oeste.

Há os museus Laura Ingalls Wilder e as casas históricas em Pepin, Wisconsin, seu local de nascimento; Independence, Kansas, cenário de fato de “Uma Casa na Campina”; Walnut Grove, Minnesota, cenário da popular série de televisão dos anos 70 e 80; Burr Oak, Iowa, onde a família morou por apenas um ano; e Mansfield, Missouri, onde Wilder escreveu os livros “Uma Casa...” e está enterrada.

Mas De Smet tem a distinção de ser o lugar onde Laura cresceu.

  • David Eggen/The New York Times

    As dependências da Sociedade Memorial Laura Ingalls Wilder contam com uma réplica da escola da autora, na Dakota do Sul, nos EUA


Para ter uma visão geral da vida de Laura e de sua família no Território de Dakota, comece pelo passeio com guia promovido pelos docentes bem-informados da Sociedade Memorial Laura Ingalls Wilder.

O passeio começa pela Casa do Agrimensor, onde a família Ingalls passou o inverno antes de construir sua própria casa, como descrito em “Às Margens da Lagoa Prateada”. Então passa para a Primeira Escola de De Smet, presente em “Uma Casa na Campina”, que foi frequentada por Laura e sua irmã mais nova, Carrie. A última parada é a casa de Ingalls, que o pai de Laura, Charles Ingalls, construiu para cumprir sua promessa para sua esposa, Caroline, de que seu desejo por terras melhores tinha passado. Charles e Caroline passaram o restante de suas vidas em De Smet e estão enterrados no cemitério da cidade, juntamente com as irmãs de Laura, Mary Ingalls, Carrie Swanzey e Grace Dow, e o filho de 12 dias de Laura.

Nos arredores de De Smet fica a fazenda de 62 hectares onde a família Ingalls vivia e cultivava, atualmente chamada de Fazenda Ingalls, uma atração comercial. Barracões e celeiros reconstruídos ou deslocados, assim como uma escola dos anos 1880, se espalham por uma vasta campina aberta. De muitas formas, a fazenda é o oposto do passeio da Sociedade Memorial. Esta é uma oportunidade autoguiada e aberta de explorar a campina mais ou menos como Laura a via. A fazenda também conta com quatro carroças cobertas fixas com beliches para camping, assim como um alojamento com ar condicionado, estacionamento para trailers e áreas de camping.

Laura Ingalls Wilder não pode competir com marcas globais para meninas como as princesas da Disney, que rende bilhões de dólares, ou com as bonecas American Girl da Mattel, cujas lojas já receberam 40 milhões de visitantes desde que a primeira foi aberta em 1998. A sociedade memorial recebe 20 mil visitantes por verão e os proprietários da Fazenda Ingalls não ganham a vida com o local.

Mesmo assim, durante os vários anos recentes de turismo em baixa, os gastos dos visitantes têm se mantido constantemente em alta em De Smet e seu condado, Kingsbury, segundo o Departamento de Turismo de Dakota do Sul. De 2009 a 2010, os gastos dos visitantes no condado subiram 27% e, em De Smet, a receita de impostos com alimentação e hospedagem dos turistas cresceu 17% no mesmo período. Neste ano, a receita do condado com o imposto de turismo subiu 22% até julho, e o verão nem mesmo tinha acabado.

“Não se trata deste lugar ‘se parecer’ com o livro”, disse Tim Wolles, gesticulando para um milharal próximo e para a campina verdejante em que estava na Fazenda Ingalls. “É o livro. Este é o local onde viveram e acho que esse tipo de autenticidade empolga as crianças.”

Wolles, da vizinha Dell Rapids, Dakota do Sul, estava visitando com seus três filhos, incluindo sua filha de 14 anos, Anna, e o grupo do clube 4-H dela, que estava recebendo 20 estudantes do Japão.

Juntos, os meninos e meninas americanos e japoneses, de 12 a 15 anos, esticavam fios para fazer corda e criavam bonecas com espigas de milho, conduziam as carroças puxadas por cavalos e se sentavam juntas na escola com uma só sala de aula.

Namika Kita, 14 anos, de Hiroshima, disse que ainda não leu os livros, mas que lerá assim que voltar para casa.

Desde que o primeiro livro “Uma Casa...” foi publicado em 1932, quando Wilder tinha 65 anos, a série esteve constantemente disponível nas livrarias e já foi traduzida para 22 idiomas (incluindo japonês).

Há algo atraente na exuberante e brigona Laura, assim como em seu mundo ao mesmo tempo estranho e familiar, que cativa as meninas.

Trajando touca de sol e avental de morim, Ellie Allard, 8 anos, de Minneapolis, rodava de prazer no restaurante Oxbow na cidade, antes de dormir na carroça coberta na Fazenda Ingalls com sua mãe, tia e primos. Para ela, o único interesse era ligado ao livro.

Mas sua prima Kaela Erickson, 7 anos, de Minot, Dakota do Norte, preferia os DVDs da série de televisão com Michael Landon e Melissa Gilbert.

Ellie leu todos os livros e disse que gosta deles porque, diferente dos livros “American Girl” ou dos filmes de princesas, “eles são sempre verdadeiros”.

Independente de como absorvem as histórias, a diversão para Ellie e Kaela era viverem as histórias. Mesmo assim, fantasiar tem seus limites.

Após um dia correndo pela campina sob o sol forte em um céu sem nuvens, Elle agarrou seu avental e disse: “É divertido, mais é meio quente e volumoso. Pelo menos não temos que vestir saias-balão!”

 

  • David Eggen/The New York Times

    Faça o passeio com guia oferecido pela Sociedade Memorial Laura Ingalls Wilder, que inclui duas casas dos Ingalls repletas de artefatos e a escola de Laura em De Smet

Para os fãs de ‘Uma Casa na Campina’

De Smet fica a duas horas ao norte da maior cidade de Dakota do Sul, Sioux Falls, e a uma hora ao norte da Interestadual 90 que liga as duas costas americanas.

Faça o excelente passeio com guia oferecido pela Sociedade Memorial Laura Ingalls Wilder (800-880-3383; discoverlaura.org), que inclui duas casas dos Ingalls repletas de artefatos e a escola de Laura em De Smet (US$ 8; crianças com menos de 12, US$ 4; entrada franca para menores de 5 anos). Aberta das 9h às 17h30 de segunda a sábado, das 11h às 17h30 nos domingos; em setembro e maio fecha às 16h e aos domingos; de outubro a abril fecha nos fins de semana.

Os visitantes podem explorar os 62 hectares onde Laura Ingalls Wilder cresceu na Fazenda Ingalls (800-776-3594; ingallshomestead.com) por meio de atividades em um barracão, uma escola e um celeiro, ou em passeios em carroças cobertas. Aberta das 9h às 19h no verão; das 9h às 17h em setembro e outubro; ingressos, US$ 10; entrada franca para menores de 5 anos. As instalações de camping incluem quatro carroças cobertas fixas com beliches ou um alojamento (US$ 50 a noite), assim como estacionamento de trailers (US$ 30) ou área de camping (US$ 10).

Não está a fim de acampar? Hospede-se na lindamente restaurada Heritage House Bed and Breakfast (888-235-3637; heritagehousesd.com), um antigo banco de 1888 no centro de De Smet, com quatro quartos com diárias a partir de US$ 89.