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Turismo rural e festas locais agitam a Serra Catarinense na primavera

CRIS GUTKOSKI

Colaboração para UOL Viagem, na Serra Catarinense

31/10/2011 18h18

A região mais fria de Santa Catarina - e do Brasil - é também um espaço privilegiado para o turismo rural e o ecoturismo. Nos municípios da Serra Catarinense, a beleza das montanhas, da Serra do Rio do Rastro e das araucárias sempre pontilhando o horizonte despertam no visitante o desejo de interagir com a natureza. E esse desejo pode ser atendido prontamente nas próprias hospedagens da região: são cerca de 50 opções entre hotéis-fazenda e pousadas que oferecem cavalgadas, trilhas a pé ou em veículos 4x4, observação de pássaros, pesca em águas geladas e ainda atividades radicais como escalada, mountain bike e tirolesa.

 


A partir de setembro, com a primavera e o verão a caminho, as temperaturas ficam mais amenas e facilitam as atividades ao ar livre. Neste ano, as cidades de Lages, São Joaquim e Urubici vão promover novos eventos de setembro a dezembro, dentro do projeto Viva Serra, lançado pelo governo do Estado. Urubici sedia o Festival da Primavera, São Joaquim lança o Vitrine Cultural e Lages encerra o segundo semestre de 2011 com o Festival Gastronômico. Além de ofereceram a degustação de comidas típicas como o pinhão e os pratos com carne, truta e maçã, as festas locais realizam shows de música e atividades como trilhas e passeios a cavalo.

Distante 228 km a oeste de Florianópolis, Lages é a maior cidade da região serrana, pioneira no turismo rural e sede da Festa Nacional do Pinhão, em maio e junho. A fama de Urupema, São Joaquim, Urubici e Bom Jardim da Serra, ao sul de Lages, se renova a cada inverno com imagens de frio excessivo: são freqüentes as temperaturas abaixo de zero, a geada tornando branca a paisagem verde e mesmo a neve caindo em flocos. Rodovias destas cidades exibem uma placa rara no país tropical: “Cuidado: gelo na pista”. Graças ao conforto e ao luxo de algumas hospedagens, como lareiras, aquecimento central, piscinas térmicas e jacuzzis com vista para lagos e montanhas, o clima inóspito vira um dos principais atrativos.

No Boqueirão Hotel Fazenda, em Lages, os hóspedes podem percorrer sete tipos de trilhas na mata. As mais curtas levam ao pôr-do-sol e ao espetáculo da revoada das gralhas azuis, ave símbolo da região, na copa das araucárias. Nas mais longas, como a Trilha do Tatu e a Trilha do Veado Campeiro, os caminhantes alcançam morros altos e também campos de altitude, paisagens entrecortadas por açudes que são berçários da vida selvagem, de aves, répteis e mamíferos. Recebendo turistas desde 1989, a fazenda centenária oferece cavalgadas de uma hora, de um turno ou de dia inteiro, estas com pausa para uma refeição campeira, um churrasco assado no capão de mato.

São cavalos mansos, acostumados a carregar cavaleiros experientes e também viajantes sedentários que estão curtindo uma montaria pela primeira vez na vida. “Aqui o turista vai a passo, quem corre é o peão”, diz o dono do hotel, Rogério Le Barbenchon da Silveira. “A passo” é o ritmo mais tranqüilo, o trote acelera um bocado, e aos poucos cavalos e cavaleiros atingem o topo de colinas íngremes, de onde se revela o horizonte infinito do planalto serrano. Realizada com guias, a programação das cavalgadas atende adultos e crianças a partir de 6 anos.

Outro destaque do Boqueirão são os shows de música e dança, apresentados nas amplas instalações do restaurante. Numa mesma noite, quando se apresentam os artistas do CTG Barbicacho Colorado, por exemplo, dá para conhecer as coreografias de ritmos como a chimarrita balão, a chula, o malambo com boleadeiras, a chacareira e a dança dos facões, esta de origem afro-muçulmana, segundo o patrão de CTG Mario Sérgio Arruda Antunes. A roupa dos artistas, as canções, os móveis e o chimarrão servido da manhã à noite no hotel lembram as tradições do Estado vizinho, o Rio Grande do Sul.

  • Cris Gutkoski/UOL

    A Serra do Rio do Rastro vista do principal mirante de Bom Jardim da Serra, em Santa Catarina


Em São Joaquim, as trilhas no Vale da Neve (Snow Valley), com xaxins gigantes da mata nativa e cachoeiras, são desafiadoras em qualquer época do ano. Na mesma cidade, amantes do vinho são atraídos para a Villa Francioni, vinícola que lançou seus primeiros rótulos em 2005. Com parreirais localizados a 1.260 m de altitude, em São Joaquim, e a 960 m, em Bom Retiro, a casa produz oito tipos de vinho tinto (como cabernet, cabernet franc, merlot e pinot noir), dois tipos de vinho branco (chardonnay e sauvingnon blanc) e um raro vinho rosé, elaborado com oito uvas distintas, vendido em garrafas de quatro tamanhos: 500 ml, 750 ml, 1.500 ml e 1.750 ml.

Durante a visita guiada às instalações, que pode incluir degustação ao final, num salão com vista para os vinhedos, impressionam os amplos espaços com obras de arte e raridades como portas adquiridas em antiquários, uma da Tailândia, outra do Uruguai, interligando salas e corredores erguidos com tijolos de demolição, de olarias desativadas. Segundo Daniela Borges de Freitas, filha do fundador da Villa Francioni, o empresário Manuel Dilor de Freitas, a arte é um três pilares da vinícola, juntamente com a tecnologia e a relação do homem com a terra.

Vizinha de São Joaquim, a 1.245 m de altitude, a pequena cidade de Bom Jardim da Serra abriga uma das paisagens mais espetaculares desta região catarinense, que é a Serra do Rio do Rastro. A estrada sinuosa, trecho da rodovia SC-438 que liga Bom Jardim a Lauro Müller, tem 23 km de extensão (7km de concreto com ranhuras na pista), com curvas fechadas em meio a paredões verdes e quedas d´água. Iluminada à noite, por questões de segurança e também para prolongar o tempo da atração turística, a rodovia tem um de seus principais mirantes localizado a poucos metros de uma hospedagem luxuosa, o Rio do Rastro Eco Resort.

Ali o turismo rural combina cavalgadas com vinhos e espumantes finos e ainda chocolates importados dispostos em pequenas vitrines: o frio intenso pede reposição imediata de calor e calorias. As cavalgadas organizadas pelo resort são de curta e longa duração, diurnas e também noturnas, nas noites de lua cheia. Para a expedição até o cânion das Laranjeiras, por exemplo, parte do trajeto de difícil acesso é feito a pé. Cânions de menores dimensões, mas igualmente majestosos, podem ser visitados a poucos minutos de automóvel do resort, que numa área de 350 hectares desenvolve também criação de gado e criação de trutas em lagos.

São 18 chalés, todos com calefação, lençóis térmicos e vista privilegiada para suaves colinas que trocam de cor a cada estação. Os mais bem equipados (os chalés da mata) dispõem de lareira e jacuzzi. O casarão que serve de centro de convivência do resort, diante dos melhores ângulos do pôr-do-sol, conta com fitness center, saunas seca e a vapor, boutique, DVDteca, biblioteca e sala de massagem. Vizinha da piscina térmica coberta, a jacuzzi ao ar livre convida a esquecer do relógio para admirar o entorno: um lago gigantesco ao fundo, trapiches para pesca, uma fonte que serve de chuveiro, o perfil das araucárias por toda a parte.

Os lagos gelados abrigam criação de trutas, que viram prato típico, servidas com vários tipos de molho, como na região dos cânions de Cambará do Sul (RS). Uma piada local informa que, tendo em vista a proteção da fauna e do meio ambiente, quando chove muito e as águas de rios e lagos da Serra Catarinense transbordam, as placas com a inscrição “Cuidado: gelo na pista” são rapidamente trocadas para “Cuidado: trutas na pista”.
 

SERVIÇOS


  • Cris Gutkoski/UOL

    Final de tarde no lago do Boqueirão Hotel Fazenda, em Lages, na Serra Catarinense

Santur – Órgão Oficial de Turismo de Santa Catarina
www.santur.sc.gov.br

Boqueirão Hotel Fazenda, em Lages
Tel: (49) 3221-9900
www.fazendaboqueirao.com.br

Fazenda Serra do Panelão, em Urubici
Tel: (49) 3278-4566
www.serradopanelao.com.br

Villa Francioni, em São Joaquim
Tel: (49) 3233-2451 e 3233-3713
www.villafrancioni.com.br

Rio do Rastro Eco Resort, em Bom Jardim da Serra
Tel: (48) 9931-6100 e (49) 9112-0073
www.riodorastro.com.br