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No Panamá, Ilha de Taboga é recanto para pelicanos e amantes do mar

FREDA MOON

The New York Times Syndicate

15/10/2011 07h40

Eu acordei com o sol e os galos. As nuvens no horizonte pairavam sobre o Panamá continental – a apenas 19 quilômetros de distância, do outro lado da larga Baía do Panamá – em faixas cor de caramelo. Era terça-feira de Carnaval na Ilha Taboga. Na noite anterior, o cheiro sulfuroso dos fogos de artifício se misturava com a brisa do mar, enquanto a Rainha do Carnaval, vestida de modo elaborado, era carregada pela cidade ao som dos tambores de uma banda.

Mas agora a vila de San Pedro, um emaranhado de casas pintadas em cores vivas, considerada o coração da ilha, estava calma e silenciosa. Na praia, ondas pequenas quebravam como uma série de pequenos suspiros. A única ação estava no céu, onde pelicanos marrons realizavam seu deslocamento matinal, caçando peixes lá do alto.

A menos de uma hora da Cidade do Panamá de barco, Taboga há muito atrai os panamenhos, que vão para a ilha nos fins de semana, atraídos pelas praias, ar fresco e pelas barracas de peixe. Mas depois que a última balsa parte e os excursionistas voltam para casa, San Pedro retoma sua atmosfera original: um vilarejo de aproximadamente mil habitantes, uma igreja com quase 500 anos de idade (que dizem ser a segunda mais antiga do hemisfério) e uma história envolta em mito.

Taboga já foi uma importante instalação militar americana para proteção do Canal do Panamá. Relíquias desse tempo, aninhadas na floresta tropical seca da ilha, ainda existem por lá: bunkers de concreto, equipamentos de comunicações desmontados e barracões pré-fabricados Quonset (atualmente lar de colônias de morcegos). E antes da chegada dos americanos, a ilha serviu como base para piratas e conquistadores como Henry Morgan e Francisco Pizarro, que usavam sua ancoragem em águas profundas como ponto de partida para suas façanhas. Hoje, uma grande faixa da pequena ilha é uma reserva natural, que abriga uma das maiores colônias de reprodução de pelicanos marrons do mundo.

Mas é a proximidade de Taboga da Cidade do Panamá, uma cidade próspera de proporções quase como de Dubai, que cria o maior senso de desconexão. Vista da ilha, a silhueta vertical da cidade é ao mesmo tempo deslumbrante e misteriosa, uma metrópole que parece estar crescendo exponencialmente para o alto. Mas em Taboga, mesmo as casas de férias dos ricos são relativamente humildes. Aqueles em busca de luxo – ou mesmo vida noturna – vão para outro lugar.

Circulando

Às 7 horas da manhã da terça-feira de Carnaval, grande parte de San Pedro ainda estava dormindo. Mas na praia Honda, o trecho de areia mais próximo à cidade, o sol já estava ardente. Um pescador preparava seu cayuco, um barco longo e estreito, parecido com uma canoa, entalhado a partir de um único tronco de uma árvore de caju-açu.

Em espanhol entrecortado, eu perguntei se ele estava disposto a me levar para um passeio ao redor da ilha (normalmente, é possível organizar passeios de barco para pesca, mergulho e observação de pássaros por intermédio de um dos dois hotéis locais. Mas durante o Carnaval, me disseram, os operadores de passeios de barco estariam de ressaca para sair). Ao lado do motor barulhento, o pescador gritou um preço (US$ 20 por hora; o dólar americano é a moeda corrente do Panamá, embora também seja chamado de balboa), de modo que ingressei no morno Pacífico e meio que pulei, meio que caí, em seu pequeno barco.

Meu guia, Arturo Herrera, tinha 68 anos, embora parecesse pelo menos uma década mais jovem. Quando eu lhe disse sobre minha fascinação por “aves comicos” – aqueles pássaros cômicos, os pelicanos – ele apontou seu barco na direção de Urabá, uma ilha desabitada do outro lado de um canal estreito na ponta sul de Taboga, parte da reserva natural Refugio de Vida Silvestre Isla Taboga y Urabá. Lá, um grande número de pássaros pretos, marrons e brancos circulavam no alto; pelicanos dormiam regiamente – com seus bicos enfiados entre o peito. “Em maio”, ele disse, “há bebês por toda parte – pequenos e brancos”. Em abril, Herrera acrescentou, as plantas dão flores brancas e produzem pitaia vermelha brilhante.

  • Crianças se divertem em praia da ilha de Taboga, destino popular entre os panamenhos

Há duas Tabogas: a de Arturo Herrera e seus companheiros ilhéus e a Taboga daqueles que vêm para passar o dia ou para um rápido pernoite. Para os transeuntes, a festa começa no momento em que pagam suas passagens de US$ 6.

As balsas Calypso partem de um prédio largo de um andar no final da longa Calzada de Amador da Cidade do Panamá, uma península construída a partir dos detritos do projeto do Canal do Panamá. No domingo em que eu parti para Taboga, uma hora antes da partida da balsa das 10h30, já havia uma multidão festiva de excursionistas carregando guarda-sóis, churrasqueiras portáteis, brinquedos de água, esteiras de praia e cerveja, muita cerveja. Quase toda mão de adulto segurava cerveja nacional, como Atlas, Balboa ou Panama. Diante do calor tropical do meio da manhã (a temperatura já era aproximadamente de 32 graus), eles criaram um sistema: cada família deixava uma sacola, cadeira dobrável ou geladeira de isopor guardando seu lugar na fila única levando à balsa, enquanto se espremiam na sombra de um toldo nas proximidades.

Assim que embarcavam no Calypso King, os passageiros, vestindo coletes salva-vidas laranjas, disputavam os assentos próximos das janelas. Quando o barco finalmente se afastou da Amador, um jovem, segurando uma cerveja, gritou “Odelay!”, provocando aplausos e risos de seus colegas passageiros. A balsa navegou por um canal estreito rochoso, passando por veleiros ancorados e então ingressou no Pacífico. Ao nosso lado estava o canal, fonte de grande parte da riqueza e fardo do Panamá; em sua boca, enfileirados como carros em um posto de gasolina, estavam petroleiros imensos – cascos enferrujados, expelindo fumaça negra enquanto aguardavam ociosos. Costa acima, arranha-céus se erguiam acima de praias de areia bronzeada, com guindastes em seus topos. As vistas do mar por si só já fariam a viagem de uma hora valer a pena.

Prazeres rotineiros

Enquanto a balsa se aproximava de Taboga, a capital desapareceu em meio à névoa seca, e a ilha, com sua costa repleta de guarda-sóis em uma variedade de cores primárias, ficava à vista. A maré estava baixa e uma faixa fina de areia formava uma ponte de terra tênue entre Taboga e El Morro, uma íngreme ilhota rochosa coberta de vegetação. El Morro já foi de propriedade da Pacific Steam Navigation Company, que foi, por um breve período no final dos anos 1800, a maior companhia de navios a vapor do mundo. Posteriormente, a Marinha dos Estados Unidos passou a realizar uma operação de treinamento de lanchas torpedeiras, ou “mosquito”, na ilha. Detritos náuticos – enormes âncoras e engrenagens enferrujadas – ainda enchem seus bancos.

  • Vila de San Pedro, na ilha de Taboga, é vista desde barco que chega da Cidade do Panamá

O fato de ter chegado em Taboga durante o Carnaval, quando a ilha se dedica a beber, dançar e desfilar, foi um acaso feliz. Na terça-feira de Carnaval, o ponto culminante de dias de música e meses de trabalho, as meninas de San Pedro – crianças e adolescentes – vestiam saias de hula e vestidos colantes, plumas e fluorescência. Elas desfilavam pela cidade, acenando para os espectadores admirados, com o traje de cada menina mais elaborado que o anterior.

Vários dias depois, após o término do Carnaval e a volta de San Pedro à sua calma habitual de meio de semana, eu fui convidada para um coquetel de suco de toranja e vodca à beira da piscina por Jane Lewis, uma artista de Martha's Vineyard que conheci na balsa. Uma mulher pequena com uma grande risada, Lewis estava sublocando um apartamento no fim da cidade. Passando as casas e o cemitério, onde ervas daninhas e flores silvestres crescem entre os modestos mausoléus à beira-mar, há um afloramento ímpar de casas ao estilo do sul da Califórnia. O condomínio fechado, distribuído ao redor de uma pequena piscina à temperatura de uma banheira, foi batizado de Pizarro Place pela comunidade insular de americanos que vive lá.

Em Massachusetts, Lewis mora em uma casa construída por John Roebling, o engenheiro responsável pela Ponte do Brooklyn e que também trabalhou na construção do Canal do Panamá. “O Panamá estava na minha lista de coisas para fazer antes de bater as botas”, ela disse. Suas planejadas duas semanas de férias já tinham se transformado em um mês.

Mais tarde, Lewis, uma ávida colecionadora de vidro marinho, me mostrou sua “galeria” – um balcão largo em sua cozinha coberto de cerâmica cantonesa pintada à mão, meia dúzia de tampas de perfume, pedaços de pratos gravados com os nomes de transportadoras há muito extintas e mármores em cores raras como pêssego, vermelho e preto. Ao longo dos séculos, milhares de navios passaram pela Baía do Panamá. Lewis, que desenvolveu uma paixão pela procura do lixo colorido que foi jogado ao mar, está “no paraíso do vidro marinho”.

Ela passa “todo dia, o dia todo” revirando a costa. “Eu sou viciada nestas coisas”, ela disse. À noite, ela se junta aos seus anfitriões para tomar coquetéis. Em Taboga, há pouco para um visitante fazer além destes prazeres rotineiros. Para os escapistas em Pizarro, esse é exatamente o apelo.

  • Restaurante Donde Pope Si Hay serve sucos de frutas frescas e lagostins em clima rústico

Para chegar à ilha de Taboga

Do centro da Cidade do Panamá, tome um táxi (cerca de US$ 5) até a Calzada de Amador. O “rapida” – ou barco rápido – leva cerca de 30 minutos e sai diariamente do Balboa Yacht Club (ao lado do T.G.I. Fridays; sem telefone) às 8h e 15h (voltando às 9h e 16h, com uma partida adicional às 7h30 de segunda à sábado). As balsas Calypso (perto de Mi Playita; 507-314-1730) maiores, mais lentas e que proporcionam vistas mais bonitas, levam menos de uma hora e saem às 8h30 de segunda à sexta-feira, às 15h às segundas, quartas e sextas e às 10h30 no sábado e domingo. As viagens de regresso partem às 9h30 nas segundas, quartas e sextas; às 16h, de segunda à sexta; e às 9h, 15h e 17h no sábado e domingo. Ligue para confirmar os horários.

O que fazer

Os hotéis mencionados abaixo aceitam cartões de crédito, mas não há caixas eletrônicos em Taboga. Leve dinheiro. Tanto o Hotel Vereda Tropical quanto o B & B Hotel Cerrito Tropical organizam viagens de mergulho e pesca com barcos locais. Os preços variam; contate o hotel para informações. Para exploração simples, experimente Arturo Herrera (507-6-627-3285, US$ 20 por hora).

Onde ficar

O Hotel Vereda Tropical (a cerca de 550 metros da igreja, diretamente acima da rua principal entre o cais e a cidade; 507-250-2154; veredatropicalhotel.com; quartos a partir de US$ 71,50) tem quartos arejados com piso de cerâmica, móveis simples e vistas deslumbrantes. O pátio coberto de buganvílias do Vereda oferece pratos razoáveis – mas não empolgantes. Mas é um ótimo lugar para um coquetel ao pôr do sol.

Onde comer

O B & B Hotel Cerrito Tropical (primeira à direita após o Bar Chu, no topo da colina; 507-6-489-0074; www.cerritotropicalpanama.com) fica fora do caminho, mas vale a pena procurar pelo camarão grande do Panamá com manteiga de alho (US$ 12) ou o recém-pescado peixe do dia com molho crioulo e batatas fritas ou mandioca frita (US$ 10). É recomendado fazer reserva.

Para peixes e frutos do mar preparados de modo simples, ao estilo panamenho, siga para o Donde Pope Si Hay (do outro lado da praça na rua principal, sem telefone), onde sucos de frutas frescos (US$ 1,50 a US$ 2,25) e lagostins (US$ 10) são servidos em mesas com toalhas de plástico.