Topo

Número de baleias francas no sul do Brasil aumenta nesta temporada

CRIS GUTKOSKI

Colaboração para UOL Viagem, em Garopaba (SC)

29/09/2011 07h30

Setembro traz cores novas na Terra e uma boa notícia no mar: o mês significa o auge do período de migração das baleias francas da Antártida para as praias de Santa Catarina, onde elas aproveitam as águas claras para acasalar, parir e amamentar os filhotes. Neste mês, um sobrevoo de monitoramento dos mamíferos realizado pelo Projeto Baleia Franca avistou 172 baleias desde o sul de Florianópolis até Torres, ao norte do Rio Grande do Sul.

É o segundo maior número de baleias registrado nos 29 anos de pesquisas do Projeto Baleia Franca. Em 2006, foram contados 194 cetáceos, adultos e filhotes. Em 2008, também em sobrevôo de helicóptero, foram 156 e, no ano passado, 102 baleias francas.

O número expressivo de agora confirma que a população da espécie está crescendo no hemisfério sul, e encheu de alegria os biólogos e pesquisadores de baleias. “Os números são resultado do nosso esforço de quase três décadas para a conservação da espécie", afirma a bióloga Karina Groch, diretora de pesquisa do Projeto Baleia Franca.

No grande grupo de cetáceos avistados e fotografados pelo analista ambiental Paulo Flores, do Centro Mamíferos Aquáticos/ICMBio, destacam-se 48 pares de baleias-mães com filhotes nascidos recentemente, em águas brasileiras do Oceano Atlântico, mais 70 baleias adultas, machos e fêmeas, não acompanhadas de filhotes, e ainda sete animais juvenis.

“O nascimento de 48 filhotes este ano é fundamental para dar continuidade à recuperação populacional que observamos nos últimos anos”, salienta Karina Groch. Segundo os registros do PBF, em 2007 nasceram 54 baleias francas em Santa Catarina, ou praticamente uma por dia, considerando o período de final de julho a setembro. As francas retornam para a Antártida em novembro.

Observação de baleias

Nesta temporada, a atividade de “whale watching” (observação de baleias) para turistas está sendo realizada por duas operadoras com sede na cidade de Garopaba, a 70 km de Florianópolis. As saídas são diárias, em horários variados, dependendo das condições de clima e das marés.

A operadora Vida Sol e Mar é parte do Instituto Baleia Franca, uma ONG que também monitora o comportamento dos animais marinhos e foi pioneira nos passeios embarcados na região, desde 1998.  No ano passado, transportou 1.740 turistas para ver baleias em alto mar, sendo que 88% deles eram brasileiros, vindos sobretudo de Santa Catarina, São Paulo e Paraná. A Base Cangulo é vizinha do IBF na rua Manoel de Araújo, à beira-mar, no centro histórico de Garopaba. As duas operadoras oferecem palestras antes dos passeios, com informações sobre as características e o comportamento das francas.

“Mas dá pra ver a baleia bem de pertinho"? Antes mesmo de colocar os coletes salva-vidas, a pergunta se faz freqüente entre os adultos e crianças que experimentam pela primeira vez essa modalidade de turismo de aventura. Os mamíferos são animais curiosos e, entre as baleias francas, é grande a possibilidade de que elas se aproximem lentamente da embarcação, depois que os motores são desligados.

Prepare-se, portanto, para uma visão inesquecível: o corpo de uma franca adulta, que pesa entre 30 e 50 toneladas, chega a ter 16 metros de comprimento. Equivale ao tamanho de um ônibus e meio, solto em alto mar, emitindo sons, esguichando água, sacudindo nadadeiras dorsais e uma cauda com quase 5 metros de envergadura.

  • Enrique Litman/Divulgação

    Na praia da Ferrugem, baleias francas se aproximam da costa entre julho e novembro

Com sorte, os machos, mães e filhotes vão brincar e emergir nas proximidades do barco, mas nunca há certeza da aproximação. As baleias francas que visitam o Sul do Brasil a cada ano estão livres em ambiente selvagem e fazem o que querem, não são amestradas, como as baleias que nadam e saltam nas piscinas dos parques da Flórida.

Os filhotes são comilões, bebem cerca de 200 litros de leite por dia. Eles já nascem com cerca de 4 metros de comprimento, com duas ou três toneladas de peso. Os bebês batem a cabeça no corpo da mãe para pedir alimento e um leite grosso, gorduroso, jorra das glândulas mamárias para a boca do filhote.

Do Brasil à Antártida

Nos meses em que freqüentam o enorme berçário natural do litoral brasileiro, de julho a novembro, as francas ensinam os filhotes a nadar, respirar, saltar e a ganhar resistência. A decisão da viagem de volta, para as ilhas Geórgia do Sul da Antártida, é um momento delicado, que antecipa uma prova brutal de resistência física para mãe e filho.

“A decisão do retorno depende de um balanço entre a condição física do filhote e a condição nutricional da fêmea”, explica a bióloga do Projeto Baleia Franca. “A fêmea permanece aqui o tempo necessário para que o filhote engorde e desenvolva habilidades de natação e manutenção do contato com a mãe, mas ao mesmo tempo ela necessita ter reserva na forma de gordura suficiente pra resistir à viagem até a Antártida”.

Na maratona de milhares de quilômetros rumo ao sul gelado do planeta, o filhote é apenas um bebê de três ou quatro meses, acostumado a comer e a brincar. Se ele se perde da mãe, confundido por predadores, pelas tempestades ou pela poluição sonora das grandes embarcações, morre de inanição.

  • Cris Gutkoski/UOL

    A baleia franca produz esguicho quando emerge à superfície para respirar

Ao mesmo tempo, a baleia adulta está com fome e exaurida pelas funções da maternidade. Para estes mamíferos, o período na costa brasileira é de completo jejum, as francas só se alimentam na Antártida, de um crustáceo minúsculo chamado krill. Os biólogos contam que os cetáceos adultos emagrecem e começam a mostrar os ossos sob a pele, a partir de outubro e novembro. Baleias sim, gordas não.

Segundo Karina Groch, nesta temporada as baleias estão concentradas em algumas enseadas de Garopaba e Paulo Lopes, com as praias de Siriú e Gamboa, e também na cidade vizinha de Imbituba, nas praias de Ibiraquera, Ribanceira e Itapirubá. Há concentrações eventuais na Praia do Rosa, na Praia do Porto e em Laguna. Todo esse trecho do litoral pertence à Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, criada por decreto em 2000, abrangendo nove municípios e cerca de 130 km de costa, praias e lagoas, desde o sul de Florianópolis até o balneário de Rincão.

No Brasil, a caça às baleias está proibida por lei federal desde 1987. A medida ajudou a evitar a extinção da espécie. No hemisfério norte, as francas boreais estão praticamente em processo de extinção, o número total não ultrapassa atualmente os 500 indivíduos. A APA da Baleia Franca é administrada pelo Instituto Chico Mendes.

SERVIÇOS:

Base Cangulo (passeios embarcados)
Tel: (48) 3354-1606 e (48) 8842-2993
www.basecangulo.com.br

Turismo Vida Sol e Mar & Instituto Baleia Franca (passeios embarcados)
Tel: (48) 3254-4199
www.vidasolemar.com.br

Projeto Baleia Franca – Programa de Pesquisa e Conservação
Tel: (48) 3255-2922
www.baleiafranca.org.br