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Roteiro pelas históricas cafeterias italianas revela diferentes tradições locais

ANELISE SANCHEZ

Colaboração para o UOL, da Itália

20/09/2011 07h07

Para entender a grande relação de amor que une os italianos ao café, nada é mais eloquente do que as palavras de Edoardo De Filippo, um dos maiores intérpretes teatrais do país.

Em uma de suas mais célebres interpretações, da sacada de sua própria casa o dramaturgo e ator conversa com o seu vizinho sobre o seu maior vício: o café. “Io a tutto rinuncierei tranne che a questa tazzina di caffè” (Renunciaria a tudo, menos a esta xícara de café), afirma em sua comédia.

Na verdade, De Filippo era un napoletano DOC, ou seja, arraigado à sua cidade de origem, mas o hábito de degustar um café não é uma exclusividade do sul da Itália. Muito pelo contrário. Pode ser considerada uma arte, ou melhor, um patrimônio nacional.

Para os italianos, a praça que abriga um bar representa muito mais do que um lugar de passagem. É uma àgora contemporânea: nas pequenas cidades, o ponto de encontro entre velhos e novos amigos; nas capitais, uma parada obrigatória para fazer uma pausa no escritório e degustar um café rigorosamente curto.

Ao contrário dos hábitos brasileiros, o típico café expresso preferido pelos italianos é aquele ristretto, ou seja, concentrado e que, obrigatoriamente, não supera os 30 ml.

Preparar um café expresso à italiana significa seguir um ritual preciso que inclui regras como respeitar a quantidade de 50 grãos de café torrado por xícara, esquentá-la com o vapor, manter a pressão da água a 9 atmosferas e a sua temperatura a 90ºC e extrair a bebida em, no máximo, 30 segundos. Uma maneira de obter do café o melhor sabor, aroma e a característica espuma cor de avelã que recobre a superfície de um expresso.

Modos de consumo

A busca italiana pela perfeição no momento de preparar ou degustar um café é tanta que, em 1999, foi inaugurada no país uma universidade do café e, recentemente, foi lançada uma aplicação que, utilizando um celular de terceira geração, indica ao seu usuário onde encontrar, em qualquer lugar do mundo, uma cafeteria para saborear o clássico expresso italiano.

Por estes e outros motivos, conhecer algumas das históricas cafeterias italianas é não só uma maneira de viajar no tempo, mas também de conhecer um pouco mais sobre as tradições locais.

Basta pensar que, na Itália, alguns dos hábitos de consumo do café podem variar de uma cidade para outra. Em Nápoles, por exemplo, o copo de água servido junto com o café geralmente é consumido antes do expresso, para preparar a boca a degustação e, assim, saborear melhor o seu aroma. Já a tradição na cidade de Palermo, na Sicília, prevê que a água seja bebida logo após o café.

Além disso, o menu italiano dedicado às bebidas à base de café é um dos mais vastos do mundo.

Cappuccino e expresso representam só o início de uma longa lista de especialidades como caffè macchiato (com leite), caffè corretto (com a adição de alguma bebida alcóolica), caffè al vetro, servido no copo de vidro em vez da xícara, caffè freddo (frio), alla nocciola (avelã), com ginseng, descafeinado e com ou sem espuma, só para citar alguns.

Para conhecer um pouco mais desta tradição italiana, nada melhor do que viajar no tempo e provar pelo menos uma das melhores, mais belas e famosas cafeterias do país.