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Cidade de Aleijadinho, Ouro Preto ainda encanta forasteiros com seu vigor artístico

MARCEL VINCENTI

Colaboração para o UOL Viagem, de Ouro Preto

18/08/2011 09h07

Desde o século 18, quando ainda se chamava Vila Rica, a cidade de Ouro Preto tem sido muito mais que um lindíssimo emaranhado de casas coloniais, igrejas barrocas e íngremes ladeiras. O município, filho da ganância dos caçadores de ouro, tornou-se, no decorrer dos anos, um celeiro inspirador de pintores, poetas, escultores e afins.

Aleijadinho é o nome que vem à mente quando os assuntos “arte” e “Ouro Preto” se encontram. Mas, embora Antônio Francisco Lisboa seja realmente o grande gênio local, há muitos outros talentosos homens e mulheres que deixaram – e ainda deixam – sua marca no cenário artístico que rodeia a Praça Tiradentes. No passado, ela foi cantada por poetas como Vinicius de Moraes e Elizabeth Bishop. E, hoje, não há visitante que, inicialmente interessado em história, não vá embora de Ouro Preto impressionado com o vigor artístico que a cidade ainda ostenta.

Ao lado de suas igrejas tricentenárias e museus recheados com peças de valor incalculável, trabalham atualmente dezenas de artesãos cujas obras irão colorir o passeio do turista e, muito possivelmente, caso a carteira esteja cheia, adornar sua casa ao final da viagem. Confira aqui um roteiro pelos principais ateliês de Ouro Preto.

Cooperativa de artistas

Localizada à frente da igreja São Francisco de Assis (cujo interior abriga uma das principais pinturas de Mestre Ataíde, em que ele retrata a assunção de Nossa Senhora), a Casa de Artes exibe gravuras, artesanatos, esculturas e pinturas de alguns dos mais talentosos artistas de Ouro Preto. Organizador do empreendimento e autor de esculturas adquiridas por personalidades como Dilma Rousseff e Gilberto Gil, Tuca Parma diz que é um “privilégio” desenvolver seu trabalho em Ouro Preto, “pois é uma cidade que recebe turistas com grande nível cultural”.

Na Casa de Artes, o turista pode encontrar belíssimas estátuas de cedro talhadas por Tuca, todas feitas com o auxílio do cinzel (instrumento laminado cujo uso, em Ouro Preto, é empregado desde a época de Aleijadinho). “Faço uma releitura do barroco mineiro, inspirado pelos grandes mestres que passaram por esta cidade”, explica ele, enquanto esculpe uma figura de São José em madeira de cedro.

Ao seu lado trabalha outra conhecida figura de Ouro Preto: o pintor Tunico dos Telhados. Com seus cabelos grisalhos enrolados em chamativos dreadlocks, Tunico ficou conhecido por reproduzir, em óleo sobre tela, com pinceladas extremamente originais, os telhados de Ouro Preto. “Os telhados são uma das características mais chamativas da cidade”, conta o artista, cujos quadros, na Casa de Artes, podem valer mais de R$ 15 mil. “Eles emanam a história de Ouro Preto, um lugar que oferece inúmeros ângulos para ser retratado. Viver de arte nunca é fácil, mas a cidade me inspira para fazer meu trabalho”.

A originalidade também marca o trabalho do artista Antônio dos Anjos. Expostas em importantes amostras de Ouro Preto, suas obras são feitas com tampas de tambores de óleo: ele recorta o ferro e nele desenha intrincadas figuras humanas e de animais. Arte experimental, mas que tem seu preço: algumas são vendidas na Casa de Artes a preço médio de R$ 700.

Layon e Valadares

  • Marcel Vincenti/UOL

    Artesanatos são vendidos na famosa feira de rua do Largo do Coimbra, no centro de Ouro Preto

Nascido no Líbano, mas criado em Minas Gerais, Elias Layon é um dos mais conceituados artistas de Ouro Preto. E não é por menos: a delicadeza de suas esculturas barrocas e a intensidade de seus quadros impressionam quem visita seu ateliê. “Gosto de pintar Ouro Preto sob brumas e as festividades realizadas na cidade”, explica ele, olhando para seus quadros que retratam procissões, apresentações musicais e os monumentos do município envoltos em névoa. Ao seu lado, estátuas religiosas de cedro com mais de um metro, com feições reais e preço altíssimo: algumas custam mais de R$ 20 mil. “O cedro é amargo”, conta, “afasta os cupins”.     

Elias trabalha junto com sua esposa, Conceição Rodrigues Layon, que pinta quadros naïf. Ela, assim como o marido, tira inspiração das tradições de Ouro Preto para desenvolver seus quadros: “trabalho com imagens que vivenciei em Ouro Preto, as festas folclóricas e as manifestações populares. É um lugar de muitas tradições, que precisam ser resgatadas em forma de arte”. Alegres e coloridos, os quadros de Conceição são vendidos a partir de R$ 150.

Homenageado no aniversário de 300 anos de Ouro Preto, no dia 8 de julho de 2011, como artista-símbolo local, o pintor Paulo Valadares explica o que significa, para ele, trabalhar com arte na cidade: “Ouro Preto tem um efeito de luz maravilhoso. A luz bate nas casas antigas e se espalha por essas lindas ruas. Isso é inspirador para qualquer um”.    

Vestido com uma boina preta, tal qual um artista francês, Valadares fecha a janela de seu ateliê e mostra que, mesmo à meia-luz, seus quadros ainda brilham. “É a força de Ouro Preto”, conclui ele.         

CENTROS DE ARTE EM OURO PRETO

Antiguidades Toledo
Rua Conselheiro Quintiliano, 848 – Centro
(31) 3551-5915
www.toledo.art.br

Ateliê Layon
Rua Getulio Vargas, 251 – Centro
(31) 3551-6577
www.eliaslayon.com.br

Ateliê Paulo Valadares
Rua Bernardo Vasconcelos, 51 - Centro
(31) 3552-2699

Casa de Artes
Largo do Coimbra, em frente à igreja São Francisco de Assis - Centro
(31) 3551-5793

Feira de Artesanatos de Ouro Preto
Largo do Coimbra, em frente à igreja São Franscisco de Assis – Centro

O Barroco Artesanato
Praça Tiradentes, 120 – Centro
(31) 3551-1521