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Ilha Gili Trawangan, perto de Bali, se torna destino luxuoso com preocupação ambiental

DAN LEVIN

New York Times Syndicate

19/06/2011 09h06

O trecho de areia branca acariciado pelas ondas estava pontilhado em uma recente tarde ensolarada por barcos de pesca e seus proprietários locais, um bando de homens entediados em sandálias de tiras, cada um mantendo um olho em sua mão de cartas e outro na carga pálida de turistas saindo da lancha ancorada na rua principal da ilha Gili Trawangan, a leste de Bali, em busca de praia, cerveja e um chalé.

Do meio da multidão, a força plena da transformação desta ilha, de uma minúscula vila de pescadores a um paraíso turístico global, ficava nitidamente clara. O lamento do embaixador da ilha onipresente, Bob Marley, parecia vir de todos os bares e café, com seus bancos repletos de massas bronzeadas olhando para a água azul celeste, folheando guias e bebendo cerveja Bintang.

A minúscula Trawangan e suas irmãs mais tranquilas, Meno e Air, formam as Ilhas Gili, um arquipélago no Mar de Bali, Indonésia, que fica pouco além da costa de Lombok e é acessível somente por barco (a viagem de Bali leva cerca de 90 minutos de lancha). Conhecida como a ilha da ‘festa’ e a maior das três, Trawangan desenvolveu uma reputação hedonista como uma miniatura de Ko Phangan, com festas da lua cheia toda noite e uma gama de substâncias ilegais à venda abertamente.

Mas nos últimos anos, esta ilha começou a ficar chique, com resorts de luxo e pousadas ecológicas luxuosas proliferando como algas, atraindo os endinheirados para suas piscinas particulares e energia solar para alguns mimos com a consciência limpa.

Foi para um desses que eu fui, um complexo recém-inaugurado de casas chamado Trawangan Resort, no limiar do desenvolvimento frenético da ilha, onde as cabras pastam sob cartazes rasgados de festas com disc jockey e em que o reggae dos bares desaparece na brisa. Uma carruagem a cavalo conhecida como cidomo - carros e motos são proibidos - logo chegou com a bagagem. Após o check-in, eu segui por um labirinto de paredes altas de concreto que dobravam da praia até um par de portas de madeira, que davam para uma casa com uma piscina privada, quiosque e lençóis que, pelo preço da diária, a expectativa era que atingissem um número estratosférico de fios. O resort era tão novo que ainda havia muitos problemas para serem consertados - não havia água quente no meu quarto e faltou eletricidade durante uma breve tempestade.

O resort é a mais recente de cerca de dez acomodações luxuosas semelhantes que abriram suas portas nos últimos anos, adicionando tratamentos de spa e passeios a cavalo às diversões habituais de mergulho há muito preferidas pelos mochileiros. Um passeio de bicicleta ao redor da ilha, que dura apenas meia hora, leva para longe da agitação dos bares e dos jovens locais mascateando ‘cannabis’ na extremidade sudeste da ilha, em direção às praias isoladas e às novas casas ecológicas, com seus pátios amplos oferecendo vistas de palmeiras e do oceano.

As Ilhas Gili permaneceram em grande parte desabitadas até meados do século passado, devido à falta de fontes de água doce. Ainda hoje, toda a água e provisões, de cerveja até carne, são trazidas por barco de Lombok.

Boulong, um pescador e guia de mergulho de 36 anos que cresceu nas Gilis, lembra de seu avô lhe contando como os colonos vieram para Gili Air e depois se deslocaram lentamente para as outras ilhas para pescar, construir mesquitas e começar famílias. Quando era criança, Boulong lembra de ter visto os primeiros turistas, mochileiros de Bali, vindo passar o dia para desfrutar da solidão das praias das Gilis e suas ondas turquesas - ainda a principal atração para os turistas de hoje.

No entanto, mesmo enquanto os estrangeiros estressados chegam em busca de refúgio do mundo exterior, as Gilis têm sofrido problemas modernos. Os vastos recifes que cercam as ilhas carregam cicatrizes de décadas de pesca com explosivos, quando dinamite era usada debaixo d’água para matar um grande número de peixes, mas também destruíam o coral. Durante a estação das chuvas, o escoamento de Lombok e Bali às vezes traz sandálias perdidas, sacos de plástico e outros lixos para as praias de Trawangan.

Os habitantes locais e estrangeiros estão tentando impedir que esse dano ambiental se espalhe. Pesca com dinamite foi abandonada e os ambientalistas nas ilhas têm sido pioneiros no uso de uma tecnologia que emprega uma pequena corrente elétrica para acelerar o crescimento dos corais, o que leva a um renascimento da vida marinha. Delphine Robb, que chegou da França a Trawangan há sete anos para um curso de mergulho e nunca mais partiu, dirige o Gili Eco Trust, um grupo ambiental local que incentiva os resorts e pescadores a serem ecológicos. As lojas de mergulho apóiam financeiramente os projetos de restauração dos recifes de coral, e os resorts praticam compostagem e adotam piscinas sem cloro.

“As coisas estão mudando de uma forma positiva, à medida que as pessoas entendem que precisam combinar negócios com cuidados com o meio ambiente”, disse Robb.

Em um passeio de mergulho com snorkel, os sucessos recentes estavam bem claros: baiacus nadavam entre os corais novos enquanto uma tartaruga de pente se remexia perto de alguns peixes-papagaio psicodélicos. Há mais de uma dúzia de locais de mergulho, e as tartarugas marinhas, arraias e milhares de peixes de recifes são abundantes nas águas mais profundas.

As Gilis também estão se recuperando de crises políticas. Quando extremistas islâmicos realizaram um atentado a bomba contra uma casa noturna em um resort popular de Bali, em 2002, matando mais de 200 pessoas, o turismo nas Gilis evaporou. Mas é impossível resistir à atração das ilhas, e um novo atentado a bomba em Bali em 2005, no qual mais de 20 pessoas morreram, teve apenas um pequeno impacto sobre o retorno dos mergulhadores e surfistas. Na verdade, as empresas locais relatam que a instabilidade política recente na Tailândia parece ter desviado os viajantes ávidos por praias para Trawangan, em busca de areias brancas e acomodações cada vez mais glamourosas.

“Quando eu cheguei aqui, Trawangan não tinha nada, exceto mochileiros e mergulhadores”, disse Dianne Somerton, uma australiana que é dona do resort de luxo Kokomo, que abriu em 2009, e do resort e restaurante Beach House, onde ela estava jantando ao lado surfistas bebendo cerveja e famílias se banqueteando com camarões grandes. “Atualmente Bali está muito sobrecarregada e Lombok nunca decolou, mas as Gilis sim.”

  • Turistas desfrutam da solidão das praias das Gilis e suas ondas turquesas - ainda a principal atração local

    Kemal Jufri/The New York Times


Ao cair da noite, os restaurantes perto das docas grelham dourados e barracudas enquanto os barmen servem coquetéis. Alguns estabelecimentos oferecem um cardápio mais diversificado: “Cogumelos mágicos frescos levam você ao céu e trazem de volta - sem necessidade de transporte”, anunciava a placa de um bar. Por volta da meia-noite, um australiano embriagado pairava perto do DJ no bar Blue Marlin, que perguntava a um grupo de festeiros: “Querem ver o meu amigo beber 2,5 litros de álcool em dez segundos?” Àquela altura, o silêncio da minha piscina me chamava e me juntei às famílias com crianças com sono na volta para casa.

As pessoas por trás da recente onda de desenvolvimento em Trawangan dizem que querem preservar a beleza natural da ilha, mesmo enquanto ela se torna mais luxuosa, já que as praias imaculadas e as ondas tranqüilas são os elementos que atraem os turistas.

“Ninguém quer jet skis ou qualquer uma dessas bobagens de resorts mediterrâneos”, disse David Street, gerente do Scallywags Resort, um hotel butique de dez quartos que abriu em Trawangan em 2009. “As pessoas vêm para as Gilis para deixar o cabelo crescer e ficar na horizontal, mas há o suficiente aqui para não se sentir preso em uma ilha.”

As duas outras Gilis

Meno
A ilha menos desenvolvida, Meno oferece a bênção da tranquilidade, onde a proibição de festas significa que os únicos sons são o murmúrio das ondas e chamado à oração do muezim ecoando através das árvores. Com apenas um punhado de chalés e uma loja de mergulho, as pessoas vêm para Meno para ler, se bronzear e esquecer, por algum tempo, de suas vidas cotidianas além de suas praias.

Air
Lar da maior comunidade local e a mais próxima de Lombok, Air é uma mistura de ambos os mundos. Ela atrai principalmente famílias e casais em lua-de-mel para sua crescente coleção de casas de praia e chalés, muitas das quais oferecem vistas deslumbrantes do Monte Rinjani, o vulcão em Lombok, que com mais de 3.600 metros, está entre os maiores da Indonésia. Uma festa semanal, somada ao desenvolvimento frenético de Trawangan, também está atraindo os mochileiros para cá.
 


Se você for

Os viajantes tomam um barco em Bali para viajar para Gili Trawangan. Há uma dezena de empresas de lanchas que fazem a viagem de 90 minutos até a linha, duas vezes por dia com saída de Padangbai, Bali, por US$ 60 em cada direção, e barcos de pesca-táxis para as outras ilhas custam em torno de US$ 20.

Onde ficar
O Gili Eco Villas (Trawangan; 62-0361-84-76-419; giliecovillas.com) é um novo resort com sete casas a dez minutos de viagem de cidomo da rua principal da ilha, conhecida como Sentral. As diárias custam a partir de US$ 95 por uma casa com um quarto na baixa temporada, e US$ 145 na alta temporada.

O Kokomo Resort (Trawangan; 62-0370-64-2352; kokomogilit.com) oferece luxo bem no coração da agitação. Diárias a partir de aproximadamente US$ 165.

O Scallywags Resort (Trawangan; 62-370-64-5301; scallywagsresort.com) fica a uma curta distância do Kokomo e quartos custam a partir de US$ 85 ou US$ 135, dependendo da temporada.