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A Cidade Eterna vista através de seus mistérios subterrâneos

ANELISE SANCHEZ

Colaboração para o UOL, de Roma

30/05/2011 09h13

Para a maioria dos brasileiros que visitam inúmeras capitais européias em poucos dias, uma escolha quase obrigatória é observar as cidades de um plano mais elevado; muito provavelmente a bordo dos tradicionais ônibus panorâmicos de dois andares. Em lugares como Roma, o número de atraçôes é tâo expressivo que tentar desvendá-las com um roteiro frenético é como folhear apenas a última página de uma obra-prima literária.

E claro que visitas aos monumentos como o Coliseu ou o Vaticano são imperdíveis, mas o que poucos turistas e até mesmo romanos sabem é que a capital italiana também abriga um outro tipo patrimônio histórico ainda mais interessante, localizado em suas profundezas subterrâneas.


Se estiver organizando uma viagem à Itália, avalie seriamente a possibilidade de dedicar pelo menos um dia a descoberta das belezas arqueológicas e artísticas escondidas em Roma. A cidade é um verdadeiro paraíso para os arqueólogos que, quando menos esperam, encontram novos vestígios de uma sociedade oculta de mais de 2800 anos.

Só para se ter uma idéia, desde que a prefeitura da cidade inaugurou a construçâo da linha C do metrô - projeto que terá sua primeira etapa finalizada até 2011 – foram iniciadas cerca de 38 obras no centro histórico para identificar eventuais achados de relevância arqueológica.


Um pouco de história

Situada na planície do Lácio, às margens do rio Tibre e próxima ao mar Tirreno, no século 4 a.C Roma ocupava um território de somente 420 hectares, mas já no século 3 d.C extendia-se por mais de 1.400 hectares; um território relativamente pequeno para concentrar uma populaçáo de aproximadamente um milhão de pessoas durante a época do império romano.

A capital italiana originou-se a partir da fusão dos latinos e sabinos e, mais tarde, foi conquistada pelos etruscos do norte do Lácio, que a transformaram em uma verdadeira cidade no ano de 753 a.C. Com o passar dos séculos, Roma comandou um potente império e, assim que este começou a se fragmentar, a cidade conquistou o status de centro do mundo cristão.

Grande parte dos vestígios de todos estes anos de história permaneceram escondidos até o século 18. Isso porque com as frequentes enchentes, terremotos e demoliçôes que devastaram periodicamente a Cidade Eterna, o solo romano sofreu uma elevação de até 20 metros, cobrindo edifícios públicos, vilas e templos.
 

  • Divulgação

    Passeio subterrâneo Vicus Caprarius, em Roma

Mistérios imperdíveis

Entre os lugares de interesse arqueológico estâo o chamado Mitreo del Circo Massimo, um edifício público do século 2 d.C, descoberto durante as escavações realizadas a partir de 1931. Trata-se de uma caverna retangular utilizada como um lugar de culto pelos adeptos do mitraismo, religião de mistérios, nascida no período helenistico, que representou o principal concorrente do cristianismo em sua fase de expansão.

Muitos estudiosos afirmaram que, no final do século 2, o mitraísmo era muito popular entre os soldados do exército romano, bem como entre comerciantes, funcionários e escravos.

A maior parte dos achados ligados ao mitraismo encontra-se em Roma e nos seus arredores, onde se concentram esculturas, inscrições e ruínas de templos e santuários como altares e bancos de pedra.

Um dos mithraeum mais famosos foi projetado debaixo de uma casa romana e ainda é acessível a partir da cripta sobre a qual foi construída: a Basílica de São Clemente.

Outros lugares imperdíveis são o mithraeeum de Santa Prisca, localizado no subterrâneo da homônima igreja do bairro Aventino, e as catacumbas de Sâo Sebastião, famosas por seus grafites com imagens de santos e por terem abrigado, segundo alguns especialistas, os restos mortais dos apóstolos Pedro e Paulo na metade do século 3.

Próximo à universidade romana La Sapienza, um lugar de destaque é uma construçâo da segunda metade do século 4 d.C.

Situada na Via Livenza e descoberto na década de 20 durante as obras de um novo edifício, o local foi erguido em uma zona de antigos sepulcros e ainda mantém, por exemplo, todo o esplendor de algumas de suas pinturas originais.

Um pouco mais distante do centro da cidade encontra-se a pirâmide de Caio Cestius, um magistrado da Roma antiga que viveu no século 1 a.C e encomendou uma pirâmide que deveria servir como túmulo. Recoberta com mármore branco, o momunento continua despertando a curiosidade dos estudiosos e o seu interior pode ser contemplado por turistas, graças a visitas agendadas. A maior atraçâo é um quarto de cerca 4x5 metros com as paredes repletas de afrescos como figuras aladas, mulheres, vasos e candelabros.


Roteiro para corajosos

No coração da cidade, em Trastevere, outro lugar de interesse é a paróquia de São Crisogono, uma das mais antigas da capital italiana.

Os restos e as relíquias da igreja de época costantiniana podem ser visitados a partir da sacristia da paróquia. Não distante dali está Santa Cecilia in Trastevere, igreja provavelmente construída no século 4, onde originariamente morava a santa, que foi decapitada.

Por muitas décadas o seu corpo permaneceu desaparecido, mas depois de ter sido encontrado nas catacumbas de são Calixto foi enterrado novamente na igreja de Santa Cecilia.

Para os mais corajosos, outra sugestão é um roteiro que inclua a igreja de Santa Maria dell’Orazione e Morte, na via Giulia, erguida por uma confraria homônia no ano de 1573. Conta-se que o objetivo da confraia era oferecer uma sepultura aos indigentes que morriam sem receber um funeral digno. Em seu cemitério subterrâneo, foram enterrados mais de 800 corpos e, hoje, toda a sua decoração foi realizada com os ossos e esqueletos encontrados, assim como uma outra cripta, localizada na Igreja de Santa Maria Imacolada, na famosa via Veneto.

 

 

Se você for

Para conhecer de perto as atraçôes subterrâneas de Roma, o ideal é entrar em contato com uma das associações que oferecem visitas guiadas aos locais de maior interesse na cidade.

A associaçâo chamada Roma Sotterranea, por exemplo, publica no próprio site (www.romasotterranea.it) o calendário das visitas programadas para o mês. Além disso, também promove visitas personalizadas, com idiomas em italiano, inglês ou francês. Basta reservá-las com antecência, por e-mail info@romasotterranea.com ou telefone (0039) 06 5422-1988. Em ambos os casos, é necessário registrar-se no site de Roma Sotterranea e tornar-se sócio da associaçâo, pagando uma quota anual de apenas 10 euros. Por motivos práticos, os turistas nâo precisam pagar o valor antecipadamente, com um depósito, mas podem fazê-lo diretamente no dia da visita reservada on-line.

Outra possibilidade é reservar um tour com a associação Sotterranei di Roma (www.sotterraneidiroma.it), que também publica regularmente no próprio site o calendário anual das visitas que organiza. Neste caso, é preciso registrar-se no site como hóspede ou sócio da associação. A diferença é que os hóspedes devem esperar 48 horas para verificar a disponibilidade de vagas para os passeios previstos, enquanto que os sócios pagam um valor de 20 euros ao ano mas têm a sua participação garantida, logo após confirmarem uma reserva. Para mais informações escreva para info@sotterraneidiroma.it ou telefone para o número (0039) 347 381-1874.