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Um fim de semana em Nova York por US$ 100

SETH KUGEL

New York Times Syndicate

21/03/2011 09h03

Quanto dinheiro você deve reservar para um fim de semana em Nova York, incluindo ir ao teatro, visitar museus e assistir a um filme experimental, jantar fora em restaurantes em todas as refeições e também tomar umas cervejas?

Cem dólares parece razoável?

Talvez não, mas deveria. Manhattan pode parecer o lugar mais caro dos Estados Unidos - é possível fazer US$ 10 mil desaparecerem em um fim de semana se você realmente quiser - mas também pode ser barato. Mesmo com apenas US$ 100, é possível pintar a cidade de vermelho sem entrar no vermelho.

Alguns fins de semana atrás eu fiz exatamente isso, imaginando os gastos e o roteiro que eu recomendaria a um amigo sem grana que dormiria no meu sofá em sua primeira visita a Nova York. A verba: US$ 40 para alimentos, US$ 30 para cultura, US$ 20 para o metrô e US$ 10 para bebidas. O resultado foi um fim de semana agitado e emocionante misturando pontos turísticos clássicos e paradas incomuns. Tudo o que você precisa é um lugar gratuito onde se hospedar (Couchsurfing.com funciona, se você não tiver amigos aqui) e uma boa dose de energia.

Aqui está como eu gastei meu tempo (e dinheiro).


Noite de sexta-feira
O plano: pizza e teatro, seguido por uma microcervejaria. Cem dólares não dariam nem para um espetáculo da Broadway, mas na maioria das noites de fim de semana, a cena de teatro da cidade oferece muitas opções por US$ 20 ou menos. Eu revirei os anúncios em nytimes.com/theater e na revista “Time Out New York”, e descobriu que o Public Theater estava apresentando “Medida por Medida” na Judson Memorial Church, em Greenwich Village, por US$ 15. Era a primeira produção de sua nova Unidade Móvel, que estava apresentando a peça em presídios, centros de idosos e outros lugares. Foi uma apresentação incomum -encenada em forma de teatro de arena e com as luzes da casa acesas - mas o elenco fez com que funcionasse, mesmo para filisteus como eu, que nunca leram a peça no colégio.

A temporada da peça acabou, mas ingressos baratos de teatro podem ser encontrados nas listas que citei acima.

Eu encontrei o meu jantar pré-teatro a poucos quarteirões da Judson, no Joe’s, onde eu comi duas fatias finas e crocantes de pizza por US$ 5,50, e tomei minha cerveja pós-show (Sixpoint Righteous Rye Ale) nas proximidades, na Blind Tiger Ale House, por US$ 7,50, incluindo a gorjeta.

Sábado
Eu escolhi o Lower East Side como o meu primeiro destino porque ele parecia oferecer muito de Nova York em um só lugar: diversidade (chineses, latinos), valorização da região (cafés e butiques) e história (prédios antigos).

E, é claro, donuts. Eu tive a companhia por grande parte do dia da minha amiga chilena Valeria Martínez, e nós tomamos o café da manhã na Doughnut Plant (engordando nova-iorquinos com fermento e massa densa de donut desde 1994). Depois disso, nós fizemos um passeio a pé guiado pelo excelente podcast do Lower East Side Business Improvement District (a organização oferece passeios gratuitos com guias de verdade de abril a novembro).

Mas nós apreciamos muito nossa narradora desencarnada enquanto ela falava sobre os detalhes arquitetônicos de prédios surpreendentemente ornamentados; nos contava a história de Sender Jarmulowsky, um banqueiro russo cujo nome ainda adorna o prédio de 12 andares de seu banco na Canal e Orchard; e ainda nos levou ao chique café Roasting Plant.

Enquanto caminhávamos pela Orchard Street escutando nossos fones de ouvido, percebemos um homem chinês descarregando engradados verdes, cobertos com rede, de um caminhão de entrega coberto de grafite. Alguma coisa dentro dos engradados estava se movendo: centenas de rãs feias, do tamanho de bolas de softball!

Depois de nos recuperarmos do susto, demos continuidade ao passeio, que terminou na Katz’s Delicatessen, aproximadamente um quilômetro e meio e pouco mais de uma hora após o seu início. Em seguida, fomos para a South Ferry e a Staten Island Ferry, uma balsa gratuita com vistas da Estátua da Liberdade. Ao contrário dos Statue Cruises, que levam os visitantes até a Ilha da Liberdade e custam US$ 12, a balsa pública não oferece muito espaço para ficar do lado de fora e não para na Estátua da Liberdade ou em Ellis Island. Mas também não há fila e funciona 24 horas (a viagem de ida e volta leva em torno de uma hora). O público era dividido entre os passageiros entediados e visitantes animados, que apontavam a estátua para seus filhos na ida e tiravam inúmeras fotos do horizonte de Manhattan no caminho de volta.

Após o desembarque, tomamos o metrô até Times Square e fomos ao Margon, um balcão de almoço escondido na Rua 46, que serve especialidades cubanas. Dividimos um sanduíche cubano (US$ 6) e costeletas de porco com uma porção grande de arroz e feijão (US$ 9), e acrescentamos à conta duas Coronas por US$ 2,50 cada, o que esgotou minha verba de álcool. O almoço terminou depois das 16h e Valéria partiu para outros compromissos (menos frugais).

Eu tomei o metrô para o Guggenheim, onde em todo fim de tarde de sábado as multidões fazem fila para o período de entrada “pague quanto quiser”, das 17h45 até as 19h45. O pessoal costuma pagar um dólar (US$ 17 a menos do que o ingresso normal), segundo a mulher que pegou meus US$ 5. Apesar de vários museus de Nova York terem uma política permanente de “pague quanto quiser” (incluindo o Metropolitan Museum of Art e o Museu Americano de História Natural), você se sente meio malandro fazendo isso. Mas como o Guggenheim divulga sua entrada temporária “pague quanto quiser”, você pode entregar sua nota de US$ 1 sem culpa.

Depois de um lanchinho, decidi torrar os US$ 9 restantes do meu orçamento cultural de US$ 10 (e outra passagem do MetroCard) para assistir a qualquer coisa que estivesse em cartaz no Anthology Film Archives. Cheguei lá para “Pyramidial” de Lou Castel, que eu rebatizaria de “Sujeito Deixa sua Câmera de Vídeo de Baixa Qualidade, dos Anos 90, Ligada por Acaso”. Eu posso ter perdido o sentido experimental, mas não fui o único. Ou melhor, fui. No momento em que saí na metade, eu era o último das oito espectadores originais na platéia. Foi alguns dólares mais barato do que assistir um lançamento, mas a pechincha saiu cara.

Domingo
Este parecia ser um dia ideal para explorar a cultura contemporânea de café de Manhattan e atender à exigência alimentar de fim de semana de Nova York, uma bagel com cream cheese. A dose de cultura de cafés viria do Grounded, no Village. Eu posso atestar por seus bagels (do Murray’s) e pelos confortos do café (sofá confortável, plantas, padrões artísticos marrons e brancos cobrindo seus cafés com leite). Ele fica em numa rua lateral, que filtra os transeuntes e deixa sua clientela em grande parte regular.

Eu tinha a intenção de descansar por uma hora e então perambular pelo Village e Chelsea até o almoço, mas a chuva e a inércia me deixaram largado no Grounded por algumas horas deliciosas, até levar meus US$ 5,46 restantes para o East Village, para o almoço no Streecha, um ponto ucraniano no porão que abre apenas das 10h às 16h às sextas, sábados e domingos. Eu gastei US$ 5 em uma excelente xícara de borscht, dois bolinhos e repolho recheado. A clientela era em sua maioria de senhoras de cabelos grisalhos tagarelando em ucraniano, mas havia um fluxo lento e constante de pessoas de fora que as mulheres pareciam gostar.

Eu claramente não fui o primeiro homem desacompanhado a ser informado pela clientela septuagenária que elas poderiam encontrar para mim uma “boa menina ucraniana” para casar.

“Maravilhoso”, eu disse. “Qual de vocês está disponível?”

Eu suspeito, devido à resposta rápida de uma mulher, que elas já tinham ouvido essa antes: “Oh, não, nós somos jovens demais para você”.

E talvez ricas demais, eu pensei, já que me restavam apenas 46 centavos no bolso.