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Quatrocentona, Itu não quer mais ser conhecida só pelo "turismo do exagero"

ANTONIO FARINACI

Colaboração para o UOL, de Itu

11/10/2010 19h30

"Nos anos 70 e 80, esta praça ficava cheia de gente para ver o orelhão de Itu e pra tomar picolé gigante; agora deu uma boa caída", conta o ambulante Gonçalo Pino, 65, o "Bigode". Ele está na cidade desde 1976, vendendo sorvete na Praça Padre Miguel, onde ficam localizados o telefone público e o semáforo gigantes, os mais famosos pontos turísticos da cidade que sediou o Festival SWU Music and Arts de sábado (9) até esta segunda-feira (11).

  • Shin Shikuma/UOL

    Orelhão gigante de 7 metros é um dos símbolos da cidade de Itu, no interior de São Paulo

Bigode não é o único a notar a decadência do chamado "turismo do exagero", iniciado no final dos anos 60. "A prefeitura não investe mais nisso. Eles querem que a cidade seja conhecida pela história, pelos museus, mas muita gente ainda vem aqui atrás das coisas gigantes, é uma bobagem desprezar essa tradição", conta Rebeca Romanesi, 36, vendedora da loja O Gigantão, uma das remanescentes na cidade em que ainda se pode encontrar borrachas, lápis, pentes e outros apetrechos em versões "de Itu".

 

Fundada em 1610 pelos bandeirantes Cristóvão Diniz e Domingos Fernandes, Itu ocupou uma posição de destaque durante os ciclos do açúcar e do café, e é considerada o berço da república brasileira, por ter acontecido lá a primeira convenção republicana do país.

 

A associação da cidade a coisas exageradamente grandes começou no início dos anos 60, com o comediante Francisco Flaviano de Almeida (1916 - 2004), o "Simplício" do humorístico "Praça da Alegria", da TV Tupi. No programa, o ator encarnava um personagem que contava vantagens de sua cidade, sempre se vangloriando e dizendo que lá tudo era maior, dos peixes de uma tonelada às pastilhas sonrisal "do tamanho de uma roda".

  • Shin Shikuma/UOL

    Entrada da loja O Gigantão, onde há borrachas, lápis, pentes e outros apetrechos em versões grandes, como este violão, em Itu

 

O orelhão de sete metros de altura, objeto gigante mais famoso da cidade, foi fundado em 1973 pelo ministro das Comuniações Higino Corsetti. Na época, a Telesp, companhia telefônica estatal paulista, acabara de lançar um serviço de discagem direta interurbana e construiu o orelhão gigante como parte do lançamento. Na ocasião, Corsetti declarou: "o Brasil é grande, mas Itu é maior ainda". Em seguida, a prefeitura construiu também o semáforo.

 

Na Secretaria do Turismo da cidade há uma placa modesta em homenagem a Simplício e um violão gigante. "Em breve deverá ser inaugurado o Parque do Exagero", conta César Waldemarin, 37, guia de turismo da secretaria. O parque temático, que reunirá diversos objetos agigantados, até agora não saiu do papel e não tem data para ser inaugurada.

 

"O turismo do exagero é importante para Itu, mas é preciso lembrar também os locais históricos", justifica Waldemarin. Ele é rápido ao enumerar os importantes pontos de interesse cultural na cidade, como a Igreja Matriz, "maior expressão do barroco paulista", ou o Museu da República, que abrigou a primeira convenção republicana no país, em 1873.

 

Outro atrativo que tem chamado a atenção para Itu são os vários antiquários da cidade, espalhados pelo Centro Histórico, e o "turismo rural", nos hotéis-fazenda dos arredores da cidade.

 

Veja abaixo alguns endereços de igrejas e pontos históricos da cidade

 

Igreja da Matriz
Fundada em 1780, é considerada a mais importante expressão do barroco no estado de São Paulo. Tem pinturas dos artistas José Patrocínio da Silva, padre Jesuíno do Monte Carmelo e Almeida Júnior.
Praça Padre Miguel, s/nº, tel. (11) 4022-0819 / 4023-0638

 

Igreja do Bom Jesus
Construída em 1765 no local onde existiu a capela de fundação da cidade. Sua fachada foi alterada a partir do final do século 19, e recebeu elementos neoclássicos.
Praça Padre Anchieta, s/nº, tel. (11) 4022-3871

 

Igreja do Carmo
Inaugurada em 1782, tem pinturas de padre Jesuíno de Monte Carmelo e conjunto de imagens sacras do século 18.
Praça da Independência, tel. (11) 4023-1919

 

Museu da Energia
Com uma bonita fachada de azulejos portugueses, esta casa foi a sede da Companhia Ytuana de Força e Luz. No acervo, aparelhos antigos, como uma das primeiras geladeiras do país.
Rua Paula Souza, 669, tel. (11) 4022-6832 / 4013-1038

 

Fábrica São Luiz
Primeira tecelagem a vapor do Estado, foi fundada em 1869. Hoje abriga um centro cultural e lojas de artesanato.
Rua Paula Souza, 492, tel. (11) 4013-4554

 

Museu Republicano
Local em que foi realizado a primeira convenção republicana do Brasil.
Rua Barão de Itaim, 67, tel. (11) 4023-0240