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Ruínas esplêndidas: hotéis cheios de história

MAURA J. CASEY

New York Times Syndicate

25/07/2010 08h16

Em uma recente viagem com a família para a Itália, eu arranjei para que nossa última noite fosse passada no La Posta Vecchia, um hotel litorâneo tranquilo em Ladispoli, a cerca de 40 quilômetros ao norte de Roma. O palacete de aproximadamente 1640, que já foi de propriedade de J. Paul Getty, agora é um hotel de 19 quartos mobiliado com tapeçarias e móveis antigos de Getty. Com as janelas abertas permitindo a entrada da brisa refrescante, pouco é ouvido além do som do vento e das ondas. Mas o hotel também nos oferece um presente adicional, inesperado; um vislumbre fascinante da vida cotidiana há 2000 anos.

La Posta Vecchia faz parte de um punhado de hotéis que não apenas estão próximos de velhas ruínas ou escavações históricas, mas que também são donos delas.

 

 

La Posta Vecchia

Quando Getty comprou a estrutura original e realizou extensas reformas durante os anos 60, os trabalhadores descobriram as ruínas de uma residência que pode ter pertencido à família de Júlio César. Hoje, os hóspedes do hotel são convidados a ver as ruínas da residência e relíquias do sítio antigo em um pequeno museu privado, que ocupa o porão do hotel.

O atual dono do La Posta Vecchia, Robert Scio, disse que as ruínas foram parte importante do motivo para ter comprado o palacete em 1980. Escavações arqueológicas prosseguem no sítio até hoje e ocorrem aproximadamente uma vez por semana.

“É tanto o problema quanto a riqueza de Roma”, disse Scio. “Sempre que você cava, você encontra algo.”

O fragmento mais interessante em exibição é um azulejo que contém parte do nome “César”. A mente se pergunta, será que é? Provavelmente não, disse Scio. O César mais famoso viveu em outro lugar e é muito mais provável que algum funcionário do imperador romano habitasse na residência. Mas, quem sabe?

La Posta Vecchia
Palo Laziale (39-06) 9949501
www.lapostavecchia.com
19 quartos e suítes variando de 320 euros, cerca de US$ 417, com o euro cotado a US$ 1,30, a 1.600 euros (alta temporada). O hotel fica fechado durante parte de janeiro e nos meses de fevereiro e março inteiros.

 

 

Auberge Saint-Antoine

O Auberge Saint-Antoine é um hotel de luxo de 95 quartos próximo do Rio Saint-Lawrence, no coração movimentado da Velha Quebec. Foi aqui, em um local dominado por depósitos abandonados e um estacionamento, que a família Price iniciou a construção de um hotel em 1992. Aqueles que estavam escavando começaram a encontrar artefatos a apenas poucos centímetros da superfície, disse Evan Price, um co-proprietário.

“Ele revelou ser um dos sítios arqueológicos mais ricos da cidade”, disse.

A família já tinha paixão por história (o pai de Price, Tony, já tinha fundado um museu militar na cidade), de forma que decidiram construir o hotel em três fases ao longo de um período de dez anos, para dar aos arqueólogos tempo para escavar. Enquanto isso, a família deu à cidade de Quebec a propriedade sobre qualquer coisa que fosse encontrada, desde que o hotel tivesse permissão para exibir as descobertas.

O resultado? Centenas dos mais de cinco mil artefatos encontrados estão em exibição por toda parte. Vigas das docas originais à beira do rio que existiam no local nos anos 1600 são usadas no balcão da frente, e parte de um velho muro de arrimo e das docas podem ser vistos de dentro do prédio. Um pequeno canhão, de 90 centímetros de comprimento e datado dos anos 1700, defende o lobby.

Muitos artefatos estão exibidos em mostradores de vidro de qualidade de museu, iluminados, nas paredes, mas onde estão colocados depende de que ano eles são; os seis andares do prédio são divididos em eras de Quebec, de 1660 até hoje. Todo quarto tem um nome e ao lado de cada porta há um artefato da era atribuída ao andar, exibido juntamente com uma explicação de sua relevância. Dentro dos quartos, outra peça relacionada está exibida na mesa de cabeceira (em um quarto, por exemplo, a velha chave exibida do lado de fora conta com uma fechadura antiga dentro do quarto).

“Um arqueólogo é um detetive da história”, disse Price. “A partir de uma pecinha, é possível contar uma grande história.” Ele disse que os hóspedes do hotel podem pedir visitas com monitores de 20 minutos para aprender a respeito dos artefatos.

Auberge Saint-Antoine
8, rue Saint-Antoine, Quebec (418) 692-2211
www.saint-antoine.com
As diárias dos quartos variam de 269 a 459 dólares canadenses (aproximadamente o mesmo em dólares americanos); as suítes variam de 349 a 999 dólares canadenses.

 

 

Mbweni Ruins Hotel

O Mbweni Ruins Hotel fica perto de Stone Town, na ilha de Zanzibar, a cerca de 40 quilômetros da costa da Tanzânia. Todos os seus 13 quartos possuem vistas do oceano e dão para uma praia particular. Nos anos 90, quando os proprietários do hotel compraram o terreno, que abrange um assentamento missionário do século 19, as únicas coisas que cresciam lá eram uma mangueira e uma palmeira, disse Flo Montgomery, que comanda os esforços de marketing do hotel. Hoje, os mais de 15 mil metros quadrados de jardins ao redor do hotel incluem 150 variedades de palmeiras e aproximadamente 600 espécies de plantas, incluindo condimentos, como cravo-da-índia e canela, pelos quais a ilha de Zanzibar é famosa.

As ruínas, incorporadas aos jardins, são de assentamentos missionários anglicanos construídos para abrigar e ensinar os escravos livres, que frequentemente eram libertados pela Marinha britânica. A Marinha abordava os navios negreiros além da costa e libertava os habitantes, disse Montgomery. Os assentamentos foram construídos em 1873. Nas últimas décadas do século 20, os prédios já estavam caindo aos pedaços.

O hotel estabilizou as ruínas e colocou um telhado em uma longa ala. Além disso, as ruínas do que antes foi uma capela, com belos arcos, foram arrumadas e atualmente são utilizadas para jantares e casamentos.

“Nossa maior preocupação era preservar parte da história de Zanzibar”, disse Montgomery.

Mbweni Ruins Hotel
Zanzibar, Tanzânia (255 24) 223-1832
www.mbweni.com
As diárias dos quartos variam de US$ 200 a US$ 240 (as diárias são em dólares).

 

 

Pousada de São Tiago


A Pousada de São Tiago foi construída em 1981, na ponta da Península de Macau, tanto dentro quanto sobre as ruínas da Fortaleza da Barra, o forte onde os jesuítas e militares portugueses antes defendiam a foz do Rio Pérola dos piratas e de invasões de outros países europeus.

O forte foi construído no início dos anos 1600 e propicia uma entrada dramática ao hotel: portas de vidro foram colocadas em baluartes de nove metros de altura e uma escadaria sobe por um túnel com paredes espessas, cobertas de água de uma fonte que jorra pelas laterais. Não há dois quartos iguais aqui; arcos e paredes azulejadas se encontram dentro das paredes de quase dois metros de espessura do forte, e cada um dos 23 quartos tem sacada. Os quartos são mobiliados com móveis de mogno de Portugal.

Dentro do hotel está preservada a Capela de São Tiago, construída em 1740 para os soldados que guardavam o forte. São Tiago é o santo padroeiro do exército português e a lenda diz que a estátua do santo ganhava vida à noite para guardar o forte, empunhando sua espada e escudo, deixando uma lama reveladora das patrulhas da madrugada nas botas da estátua. Após o santo supostamente golpear um sentinela adormecido certa noite, o comandante do forte ordenou que um soldado limpasse as botas do santo todo dia.

A capela é usada para casamentos e a inquietação da estátua parece ser coisa do passado.

Pousada de São Tiago
Avenida da República, Fortaleza de São Tiago da Barra, Macau (853) 2837-8111
www.saotiago.com.mo
Diária dos quartos custa 3.950 patacas, cerca de US$ 515, com o dólar cotado 7,70 patacas.