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Conheça a costa indomada da Costa Rica

A cidade de surfe de Puerto Viejo de Talamance e as minúsculas comunidades praianas ao sudeste dela atraem discípulos do esporte - Kike Calvo/The New York Times
A cidade de surfe de Puerto Viejo de Talamance e as minúsculas comunidades praianas ao sudeste dela atraem discípulos do esporte Imagem: Kike Calvo/The New York Times

GISELA WILLIAMS

New York Times Syndicate

29/05/2010 09h05

Alguns destinos de férias atraem os turistas. Outros atraem discípulos. A cidade de surfe de Puerto Viejo de Talamance e as minúsculas comunidades praianas ao sudeste dela, na costa caribenha da Costa Rica, são do segundo tipo.

Esse trecho costeiro selvagem, às vezes ignorado, um colar de 18 quilômetros de pequenas enseadas com muita areia localizado na província de Limón, no sul, pode ser uma das áreas mais pobres da Costa Rica, mas também é uma das mais diversas, habitada por uma mistura de costarriquenhos, afro-caribenhos de língua inglesa, índios nativos cabecar e bribri e muitos estrangeiros, de estilistas de moda franceses a velhos hippies alemães.

Dirija ao sul além da pequena aldeia de Puerto Viejo, uma grade minúscula de ruas margeadas por cafés e bares de surfe surrados com nomes como Peace & Love e EZ Times, e você encontrará praias imaculadas onde palmeiras se inclinam sobre a beira do mar. Reggae emana das barracas pintadas em alegres tons pastéis margeando uma estrada de terra esburacada. Uma velha floresta, a poucos metros da praia, está viva com preguiças, tucanos e macacos.

Para os viajantes em uma busca pessoal e que tendem a criar raízes e permanecer, é este ar indomado, relaxado, que torna a faixa caribenha, entre Puerto Viejo e a cidade igualmente minúscula de Manzanillo, uma alternativa atraente à costa do Pacífico costarriquenha mais repleta de turistas.

“Vir para cá significa conviver com a natureza”, disse Nicolas Buffile, um francês que é dono do Shawandha Lodge, uma propriedade em “estilo neoprimitivo” chique. “Nós não somos como a costa do Pacífico, onde tudo é domado e com ar condicionado.”

Sua filha Paola, que dirige a Residencia Las Casas, casas de praia de luxo para alugar na área, acrescentou: “As pessoas que procuram o lado do Pacífico não querem mudar suas vidas. As pessoas que vêm para cá querem uma mudança em suas vidas”.

Até mesmo os surfistas locais tendem a ser particularmente fanáticos em relação à área e, mais especificamente, a famosa onda conhecida como Salsa Brava, que quebra a poucas centenas de metros da praia de Puerto Viejo. Uma onda semelhante à havaiana, ela é considerada a mais poderosa na Costa Rica. Também é uma analogia apropriada para a área ao redor: bela e selvagem. Os surfistas que a pegam tendem a ser sérios viciados em adrenalina.

Não é preciso dizer, nem Salsa Brava e nem Puerto Viejo é para o viajante que gosta de ser mimado. Na verdade, por anos, viajantes cuidadosos e agências de turismo evitaram a região graças à sua reputação como local frenético, desordeiro. Mas apesar dos furtos ainda serem um problema, um boom de novos hotéis e restaurantes atendendo aos viajantes mais sofisticados deu uma leve aparada nas arestas. E agências de turismo de luxo como Wildland Adventures decidiram que a costa caribenha costarriquenha agora é segura o suficiente para oferecerem viagens para lá.

O governo costarriquenho também está investindo na região. Nos próximos anos, cerca de US$ 80 milhões foram alocados para o desenvolvimento da província, concentrada em Puerto Limón, sua principal cidade portuária pobre, a cerca de 55 quilômetros a noroeste de Puerto Viejo. E a atenção já está se voltando para a cidade. No ano passado, ela serviu como linha de chegada da corrida de iates Transat Jacques Vabre; neste ano, quatro linhas de cruzeiro, Royal Caribbean, Princess Cruises, Holland America e Carnival Cruises, adicionaram Limón como porto de escala.

Um exemplo deste novo luxo é o Le Caméléon, o primeiro hotel butique de luxo da área, localizado ao sul de Puerto Viejo, que foi inaugurado há um ano pelo próprio presidente da Costa Rica, Óscar Arias. A propriedade conta com 23 quartos totalmente brancos espalhados entre três prédios de madeira e vidro de dois andares, que abraçam uma piscina margeada por palmeiras. Outro prédio baixo atrás do lobby abriga um bar e restaurante da moda, e do outro lado da rua fica um clube de praia exclusivo, com daybeds com cortinas e serviço de bar. Apesar do complexo ser projetado para se misturar à paisagem, seu design ao estilo Miami se destaca como um banqueiro trajando Armani entre boêmios descalços.

Mais característico do cenário é o Jungle Love, um restaurante íntimo ao ar livre de propriedade de dois americanos, Yamu Myles e Poppy Willia. Situado atrás de uma espessa folhagem do outro lado da rua da Playa Chiquita, à noite ele lhe dá um brilho aconchegante. A trilha sonora tende ao soul e funk, enquanto o cardápio oferece comidas caseiras saudáveis como frango com pimenta chipotle e atum ao molho de tamarindo com wasabi e arroz integral.

  • Kike Calvo/The New York Times

    Turistas argentinos relaxam no Donte's Roadhouse Bar, em Puerto Viejo

Myles, que vem de Oakland, Califórnia, já foi um DJ de sucesso. Agora ele é o chef do Jungle Love. “Há uma eletricidade nesse lugar”, ele disse. “Eu o amei no momento em que cheguei. Eu sempre digo: ‘Fique onde você se encaixa’.”

Paul Johnson e sua esposa, Jeanne, ambos vindos de Minnesota, são dois outros moradores que renasceram em Puerto Viejo. Todo sábado e possível encontrar Johnson na feira semanal do produtor na cidade, vendendo grãos de café orgânicos, laticínios e chocolate. Ele e sua esposa chegaram há seis anos quando, após dez anos tentando ter um filho, eles decidiram “viver uma vida cheia de aventura voltada a fazer coisas para os outros”.

Um ano após se mudarem para Puerto Viejo, Johnson ficou grávida – mas eles permaneceram mesmo assim e fundaram a Caribeans, uma empresa de café orgânico de comércio justo (fair trade). De lá para cá eles também adicionaram cacau aos seus produtos. Sua sede fica no colorido e sempre movimentado Caribeans Café, um barracão à beira-mar pintado em um alegre tom de amarelo. Os grãos de café são torrados no fundo e então servidos, juntamente com sorvete orgânico, na frente.

Mais ao sul na costa em Manzanillo, os troncos das árvores são pintados com cores rasta e muitos dos moradores ainda ganham a vida com a pesca. O coração da cidade inegavelmente é o Maxi’s, um bar e restaurante de dois andares de propriedade local que dá vista para as ondas e serve como local de encontro para moradores e turistas.

A cidade também serve como ponto de entrada para o Refúgio Nacional de Vida Silvestre Gandoca-Manzanillo, mais de 4.850 hectares de florestas, praias e recifes de coral. Florentino Grenald, um guia local carismático mais conhecido como Tino, oferece uma caminhada de quatro horas pelo refúgio. Mantendo um diálogo informativo e animado, Grenald aponta para as chamadas plantas Velcro (por sua capacidade de grudar nos transeuntes) e formigas-bala; rastreia rãs de árvores com olhos vermelhos; e chama os macacos barulhentos que saltam nas árvores no alto.

“Nos últimos anos, eu notei o desaparecimentos de coisas”, ele disse. Ele então parou diante de uma fina árvore cinzenta coberta por múltiplos pequenos brotos e acrescentou: “Mas também notei muitas coisas novas surgindo”.

Ele tocou a árvore e, de repente, várias protuberâncias ganharam vida. Pequenos insetos cinzentos como cigarras saíram voando; todos tinham caudas brancas longas felpudas, como minúsculas boás. Como Puerto Viejo em evolução, a presença deles parecia tanto transcendental quanto selvagem.

 

 

Como chegar lá

Apesar de existirem voos com hidroavião de San José para Puerto Limón, é mais fácil alugar um carro (um com tração 4X4 é recomendado) e fazer a viagem de quatro horas pela estrada. Ônibus diários de companhias como Interbus ou Gray Line também fazem a viagem. Espere pagar cerca de US$ 35 por pessoa por viagem; às vezes há uma taxa adicional de US$ 10 por bagagem (dólares americanos são amplamente aceitos na Costa Rica).


Onde ficar
Os 23 quartos do Le Caméléon (entre Puerto Viejo e a Playa Cocles; 506-2750-0501; lecameleonhotel.com) ficam espalhados entre três prédios de madeira e vidro que abraçam uma piscina margeada por palmeiras. Diárias a partir de US$ 200, incluindo café da manhã.

Quando abriu há uma década, o Shawandha Lodge (Playa Chiquita; 506-2750-0018; shawandhalodge.com) foi o primeiro hotel de luxo perto de Puerto Viejo. O desenho de inspiração maia ainda é atraente; os bangalôs maiores são um bom negócio com diária a US$ 110, incluindo café da manhã.

A Casa Viva Beach Houses (Punta Uva; 506-2750-0089; puntauva.net) é o melhor dos dois mundos. Você pode ter a privacidade de seu próprio bangalô de um ou dois quartos na praia, assim como ter como guia a hostess, Jeanie Waller. Diária de uma casa de um quarto custa a partir de US$ 100.


Onde comer e beber
Jungle Love (Playa Chiquita; 506-2750-0162; junglelovecafe.com) serve pratos caseiros caribenhos e californianos, assim como drinques tropicais. Serve apenas jantar.

Para bons pratos locais a bom preço, siga para o Restaurante Elena Brown (Puerto Viejo; 506-2750-0165) e peça o pollo à la Elena: fajitas de frango com leite de coco picante.

O animado, mas rústico, Caribeans Café (Puerto Viejo; 506-8836-8930; caribeanscoffee.com) é um ótimo lugar para o café da manhã ou um milkshake à tarde.

O ceviche pode ser um pouco borrachudo, mas o clima no Maxi’s Bar and Restaurant (Manzanillo, 506-2759-9073) é sempre autêntico e fresco com a brisa do mar. O lugar lota nas noites de sábado.

Caso se canse dos pratos habituais de praia, faça reservas no elegante restaurante italiano La Pecora Nera (perto da Playa Cocles; 506-2750-0490).


Guias
Florentino Grenald (506-8841-2732) oferece passeios animados e informativos pelo Refúgio Nacional de Vida Silvestre Gandoca-Manzanillo. Um passeio de quatro horas custa US$ 35 por pessoa.

A Wildland Adventures (800-345-4453; wildland.com) iniciou recentemente uma viagem de nove dias Aventura na Costa Rica Caribenha Não Descoberta, a partir de US$ 2.625 por pessoa; é foi considerada uma das “25 Melhores Novas Viagens de 2010” pela revista “National Geographic Adventure”.