UOL Viagem

19/02/2010 - 22h49

Com trilha em meio a riachos, Baía Wulaia reúne história e beleza natural

DÉBORA COSTA E SILVA
Da Redação *
De todas as gélidas ilhas da Terra do Fogo, na região da Patagônia, a Baía Wulaia é a única onde o frio deixa de ser incômodo. Seguindo uma trilha com riachos permeando todo o trajeto, o visitante acaba abandonando os pesados casacos e gorros de lã na mochila ao longo do caminho por conta da intensa atividade física.
  • Débora Costa e Silva/UOL

    Vista do topo da montanha mostra os contornos da Baía Wulaia. A foto mostra também a Casa Stirling

Localizada na Ilha Navarino, próxima ao Canal Beagle, Wulaia é famosa por ter recebido um visitante ilustre: o naturalista Charles Darwin. Em 1832, a bordo do navio HSM Beagle ele e o capitão Robert Fitzroy desembarcaram ali e tiveram contato com os índios Yámanas, tribo nômade da Patagônia. Observar o cotidiano desse povo influenciou as idéias de Darwin e contribuíram para suas pesquisas, que depois resultaram na Teoria da Evolução.

Em suas anotações, Darwin descreveu os Yámanas como "criaturas pequenas (...), rudes, figuras de pernas torcidas, com tronco quase reto e sem cintura". Constatando as diferenças físicas entre índios e europeus, mais tarde o naturalista concluiria que ambos pertencem à mesma espécie, mas que evoluíram de formas distintas.

Os Yámanas viviam em acampamentos nas praias, utilizando canoas feitas de casca de árvore para navegar. Era na Baía Wulaia que eles se abrigavam para suportar o inverno rigoroso da região. Eram nômades e se alimentavam de lobos e leões-marinhos que caçavam, além de sardinhas, moluscos e guanacos.

Passeio

Assim que os turistas chegam à baía encontram a Casa Stirling, uma espécie de museu que abriga fotos, utensílios de cozinha e de caça, uma canoa e painéis que contam a história dos Yámanas. Na parte de fora da construção, há uma oca formada por galhos de árvore com folhas secas que retrata as antigas habitações desses índios.

Antes de começar a trilha, os guias turísticos alertam os visitantes sobre a disposição física necessária para subir a montanha. Recomenda-se também que o turista vá com botas específicas para trekking para enfrentar lama, gelo, árvores caídas e cachoeiras. O caminho é cheio de subidas íngremes e trechos com excesso de mato. Nos 45 minutos de passeio, o visitante encontra um bosque de vegetação rica, onde crescem lengas, coihues, canelos, samambaias. Entre riachos e diques construídos por castores, os grupos fazem paradas a cada 15 minutos para descansar e admirar as paisagens.

O destino final recompensa: um mirante no topo da montanha, de onde se pode admirar o Glacial Holanda, as Ilhas Wollaston, Glacial Itália e, ao fundo, a Cordilheira Darwin. Chegando ao pico, os guias turísticos que acompanham o passeio pedem para todos ficarem três minutos sem falar nada para contemplar a natureza. É uma oportunidade única para ouvir o barulho do vento, os sons das geleiras se desprendendo e caindo no mar ou mesmo contemplar o silêncio.

* A jornalista Débora Costa e Silva viajou à convite da empresa Cruceros Australis

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