UOL Viagem

20/12/2009 - 08h00

A velha cidade mexicana de Mazatlán ganha vida nova

FREDA MOON
New York Times Syndicate
Em uma noite fresca de sexta-feira em um café de calçada na Plazuela Machado, no centro da cidade velha de Mazatlán, uma festa de casamento contava com mazatlecos bem-vestidos parabenizando uns aos outros com beijos e brindes. As taças tilintavam com vinho importado, as mulheres balançavam em saltos altos e os homens ficavam olhando.
  • Eros Hoagland/The New York Times

    O velho se mistura ao novo em todas as quadras deste centro de cidade de quase 200 anos

Do outro lado da praça, poucas horas antes, os vários ritmos da música folclórica brotavam do Centro Municipal de Artes da cidade. Aquelas cornetas e tambores foram substituídos pelo saxofone e baixo de jazz da banda do casamento.

A música está por toda parte no Centro Histórico, o distrito de artes ressuscitado e maravilha arquitetônica desta cidade da costa oeste do México. Assim como as galerias, cafés de calçada e aquele produto esquivo, prezado, de uma cidade cosmopolita: a chamada classe criativa - artistas, atores, escritores, músicos, designers, descolados, gourmets e fashionistas.

Ao redor da praça estão as amplas varandas e tetos altos das casas neoclássicas, recém repintadas em cores tropicais e restauradas a uma aproximação de sua antiga grandiosidade. Poucas casas abaixo, entretanto, há grandes edifícios semelhantes em um estado de abandono tão avançado que parecem difíceis de ser recuperados.

Por trás de um conjunto de venezianas de madeira empenadas e apodrecendo, árvores do pátio cresceram e atravessaram o telhado. Trepadeiras sobem pelas paredes e tijolos estão espalhados pelo chão. Os restos de uma vida doméstica - uma televisão, uma estante, uma máquina de escrever - estão intactos. É como se a família que morava ali tivesse fugido para os subúrbios de Mazatlán às pressas, sem tempo para empacotar seus pertences.

Renascimento

Mazatlán foi um dos primeiros balneários populares do México para os turistas do "outro lado", como os Estados Unidos são rotineiramente chamados ali. Nos anos 50, um boom de turismo teve início naquela que na época era uma pequena cidade costeira com um porto ativo, praias amplas e uma arquitetura com caráter europeu. Hotéis modernos foram construídos ao longo da Olas Altas, o amplo bulevar à beira-mar da cidade velha.

Mas não demorou muito para esses hotéis relativamente modestos serem substituídos por resorts arranha-céus no extremo norte da cidade. A Zona Dourada, como a área passou a ser conhecida, substituiu o Centro Histórico como principal destino de Mazatlán. Logo, a própria cidade saiu da moda à medida que novos balneários como Cabo San Lucas e Cancún foram desenvolvidos para atrair os dólares dos turistas americanos.

O retorno dos artistas, atores, gourmets e fashionistas à velha Mazatlán não aconteceu por acaso. O renascimento do bairro como distrito cultural urbano é produto de anos de trabalho por um pequeno mas dedicado grupo de defensores. É um renascimento enraizado nas ideias de urbanismo e crescimento inteligente que injetaram vida nos centros de cidade decadentes por todos os Estados Unidos.

Em Mazatlán, essas ideias foram defendidas por Alfredo Gómez Rubio, o presidente do Projeto Centro Histórico e estudante do National Trust Main Street Center, em Washington, a organização de preservação por trás de muitos desses centros de cidade reinventados. "Não é preciso vender a alma da cidade para o turismo", disse Gómez Rubio. "Um dos erros dos anos 70 e 80 foi esquecer do velho."

Hoje, o Centro Histórico de Mazatlán é tudo menos sem alma. O velho se mistura ao novo em todas as quadras deste centro de cidade de quase 200 anos, onde uma mistura de famílias de multigerações e transplantes recentes de várias partes do mundo amplia o ar cosmopolita do bairro. "A melhor coisa que fizemos foi o aspecto social, trazendo de volta as pessoas que moravam aqui", disse Gómez Rubio.

Não apenas as pessoas voltaram à velha Mazatlán, mas também um certo ritmo tropical, leve e gracioso. Os dias começam e terminam na plazuela, onde o cheiro faz o oceano - a várias quadras de distância - frequentemente parecer próximo aos seus pés. Para os afortunados, há cafés da manhã demorados, caminhadas sem pressa ao longo do quebra-mar; ostras e água de coco nos restaurantes de praia, com telhados de palha, chamados palapas; uma cerveja Pacífico ao pôr-do-sol na cobertura do velho Freeman Hotel, atualmente um Best Western; um jantar tardio de peixes e frutos do mar frescos ao som de ritmos concorrentes.

Então, quando o ar esfria, este ritmo tranquilo dá lugar a uma vida noturna febril. A energia e o barulho dos clubes do Centro Histórico é incongruente com o cenário de arquitetura de dois séculos atrás. À noite, quando as multidões de jovens descolados com óculos enormes irônicos, tênis de néon e cabelo desalinhado lotam a longa e estreita sacada do La Tertulia e flertam ao som de um remix de "Don't You (Forget About Me)" no Modular, a velha Mazatlán se torna jovem de novo.
  • Eros Hoagland/The New York Times

    O restaurante Topolo serve pratos autênticos do Estado de Sinaloa em um jardim colorido


Onde ficar

Casa de Leyendas (Venustiano Carranza 4; 866-391-2301; www9.casadeleyendas9.com) se destaca por seus elegantes móveis de madeira, trabalhos em azulejo e espaços comuns convidativos, incluindo um lounge de cobertura com vista para o oceano. Os preços para a alta temporada para os seis quartos são a partir de US$ 99 (mais um imposto local de 18%).

Na Plazuela Machado, o Hotel Machado (Sixto Osuna 510A; 52-669-669-2730; www.hotelmachado.com) não poderia ser mais central. Quartos duplos a partir de 750 pesos, US$ 63 com o dólar cotado a 13,50 pesos, incluindo café da manhã e impostos.

A poucas quadras da agitação da praça, a Old Mazatlán Inn (Pedregoso 18; 866-385-2045; www.oldMazatlaninn9.com) oferece grandes suítes, uma piscina de azulejos azuis, uma cozinha ao ar livre e um jardim de cobertura com vista para o Pacífico. Estúdios a partir de US$ 68.

Onde comer

O Topolo (Constitución 629; 52-669-136-0660; www.topolomaz.com) serve pratos autênticos do Estado de Sinaloa em um jardim colorido. Para excelentes chiles rellenos recheados com flor de abóbora e outros pratos tradicionais, o Domitila (Constitución 515; 52-669-136-0436) é uma boa opção. Em ambos os restaurantes, os jantares saem por cerca de 250 pesos por pessoa, com aperitivo, prato principal e um drinque.

Para peixes e frutos do mar, caminhe ao norte ao longo do quebra-mar até os restaurantes palapa que margeiam a praia ao norte do Ice Box Hill, no extremo norte de Olas Atlas. Experimente o pescado zarandeado, um peixe grelhado inteiro (dourado, corvina ou robalo) recheado com pimentas e cebolas. Vendido por quilo, o prato para duas pessoas sai por cerca de 140 pesos.

O que fazer
A mensal Caminhada de Arte da Primeira Sexta-Feira (www.artwalkMazatlan.com) vai de novembro a maio, das 16h às 20h. A série oferece aos visitantes uma excelente amostra da crescente cena de arte da cidade velha.

O bar de cobertura na Best Western Posada Freeman Express (Olas Altas 79 Sur; 52-669-985-6060) oferece uma vista do entardecer de tirar o fôlego.

Mais tarde, música e pessoas podem ser encontradas no Cafe Bolero 1987 (Venustiano Carranza 18; 52-669-985-0003), Beli Pub (Belisario Domínguez 1406), Modular Cafe & Bar (Sixto Osuna 24) ou La Tertulia (Belisario Domínguez 1414).

Tradução: George El Khouri Andolfato

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