05/12/2009 - 14h12

Conheça a vibrante Zagreb, na Croácia, em 36 horas

ALEX CREVAR
New York Times Syndicate

A capital croata está em meio a uma crise de identidade. Geograficamente, a Croácia incontestavelmente faz parte da Península dos Bálcãs, mas chame um morador chique de Zagreb de balcânico e prepare-se para ouvir um monte. Apesar da vibração de Zagreb estar de fato mais próxima da de Viena do que, digamos, da de Belgrado, ela também pode ser deliciosamente desordeira. Zagreb está sempre pechinchando com produtores rurais nas feiras e agitando nos clubes noturnos com os eslavos exultantes - ambos sob as gigantescas torres em espiral da catedral da cidade. Está representada na loira de pernas longas e salto alto visitando um vendedor de peixe com avental sujo de sangue. E está representada na construção de um novo Museu de Arte Contemporânea - que deverá ser inaugurado no fim do ano - e a validação da vanguarda que a cidade espera que ele trará.

A neogótica Catedral da Assunção da Abençoada Virgem Maria tem campanários em fila de 105 metros, um interior repleto de mármore e abriga um tesouro de 800 anos e o túmulo de um controverso croata do século 20, o cardeal Alojzije Stepinac

Sexta-feira

15h - A lição de história
Tenha uma amostra das raízes do século 11 de Zagreb nas ruas de paralelepípedos da área conhecida coletivamente como Cidade Alta, onde a cidade nasceu como dois vilarejos: Kaptol, com sua população em grande maioria clerical, e Gradec, onde se estabeleceram artesões e mercadores. Unidos em 1850 após séculos de disputas, os distritos ainda apresentam personalidades distintas, alimentadas por suas origens. Kaptol ainda possui o cartão postal da cidade: a neogótica Catedral da Assunção da Abençoada Virgem Maria (Kaptol 31; 385-1-48-14-727), que data originalmente do século 13, apesar de ter passado por múltiplas reconstruções nos vários séculos que se seguiram. Sob campanários em fila de 105 metros, um interior repleto de mármore abriga um tesouro de 800 anos e o túmulo de um controverso croata do século 20, o cardeal Alojzije Stepinac. Em Gradec, a dez minutos de caminhada a oeste da capital, o Museu Municipal de Zagreb (Opaticka 20; 385-1-48-51-361; www.mgz.hr) é uma janela para a história da política, arquitetura e artes da cidade. O mais fascinante: um plano em miniatura da Cidade Baixa, do tamanho de uma sala. O ingresso custa 20 kunas, ou cerca de US$ 3,85, com o dólar cotado a 5,23 kunas; crianças com 7 anos ou menos não pagam.

18h - Sem distinção de classe
Antes um ribeirão que separava Gradec e Kaptol, a rua Tkalciceva apenas para pedestres agora está repleta de cafés, butiques e ateliês. O Caffe Bar Cica (Tkalciceva 18; sem telefone), onde máquinas de lavar recicladas são reaproveitadas como mesas ao som de batidas de world music, é um local para avistar os purgers elegantes (como os moradores de Zagreb chamam a si mesmos) e brindar com um copo da cerveja local Velebitsko (17 kunas por meio litro). Rakijas especiais, uma bebida alcoólica eslava, também estão disponíveis em diversos sabores, incluindo mel, mirtilo e nozes (12 kunas por uma dose). Cedo demais para beber? O restaurante e patisserie Ivica i Marica (Tkalciceva 70; 385-1-48-28-999; www.ivicaimarica.com), que leva o nome da versão croata de João e Maria, serve doces tradicionais com um toque saudável - nada de açúcar refinado ou farinha branca. O strudel de maçã e o dobra vila, um bolo de cenoura com gengibre e canela, são deliciosos (15 kunas cada).

20h - Comida e bebop
O Vinodol (Teslina 10; 385-1-48-11-427; www.vinodol-zg.hr), como muitos restaurantes tradicionais daqui, presta homenagem à carne. Mas este lugar, uma referência desde a Iugoslávia da era de Tito, se destaca na apresentação e técnica. No salão de jantar abobadado de tijolos e no pátio revestido de trepadeiras, onde um chef vira na grelha as carnes e os espetinhos do tamanho de um braço, o serviço é impecável. O cabrito (80 kunas) e a truta grelhada (78 kunas) são garantidos. Do outro lado da rua, Bosko Petrovic, um mestre septuagenário do vibrafone e patriarca do jazz croata, dirige o B.P. Club (Teslina 7; 385-1-48-14-444; www.bpclub.hr). O bar aconchegante no porão recebe quatro festivais por ano, assim como apresentações toda noite. Elas começam às 21 horas (o couvert artístico varia de 30 a 50 kunas); é recomendado fazer reserva.

Sábado

10h - Kava kitsch
"Spica" é o ritual da manhã de sábado, quando os purgers elegantes lotam os pátios dos cafés próximos da Praça Jelacic central. O resultado: um confronto fashion com bolsas carregando Yorkies, paparazzi croatas, muitos olhares das calçadas e, sim, kava (café). Estrangeiros - isto é, qualquer um usando pochetes e tênis - têm pouca chance na competição improvisada. Melhor apenas pegar uma cadeira no Bulldog (Bogoviceva 6; 385-1-40-02-070; www.bulldog-zagreb.com), pedir um macchiato grande (13 kunas) e apreciar o show gratuito. Depois, siga para a doceria Millennium do outro lado da rua (Bogoviceva 7; 385-1-48-10-850; www.slasticarnica-millennium.hr) para um cone de schwarzwald -uma mistura de creme, conhaque, chocolate e cerejas (7 kunas)- e provar que você não se preocupa com sua forma.

13h - No mercado
No Dolac, a principal mercado de Zagreb (domingo a sexta, das 6h às 14h; sábados até às 15h), um exército de guarda-sóis vermelhos cobre barracas repletas de lavanda, nozes, mel, flores e queijos, assim como abundantes hortifrutis sazonais locais. "O que você chama de orgânico, nós chamamos de comida", disse um vendedor. Após estimular bastante seu apetite, vá almoçar no restaurante Kerempuh (Kaptol 3; 385-1-48-19-000; www.kerempuh.hr), com vista para o canto noroeste do Dolac. Há um amontoado de mesas ao ar livre ao lado de uma lousa anunciando os especiais do dia, ou pode assistir ao movimento pelas grandes bay windows. Peça uma garrafa do excelente grasevina, um vinho branco doméstico (130 kunas), e pratos croatas preparados com produtos do mercado, como a perca grelhada servida com acelga e batatas (75 kunas).

A Cidade Baixa, que oferece um ar mais cotidiano do que sua irmã Cidade Alta, tem um desenho hapsburguesco do século 19, dominado pela "Ferradura Verde" de parques urbanos de Zagreb

15h - Ferradura agitada
A Cidade Baixa, que oferece um ar mais cotidiano do que sua irmã Cidade Alta, tem um desenho hapsburguesco do século 19, dominado pela "Ferradura Verde" de parques urbanos. Cercando esses oásis, onde tulipas caleidoscópicas emolduram os concertos da primavera ao outono, é uma mistura de grande arquitetura e espaços culturais. O principal espaço de arte da cidade é o Museu Mimara (Rooseveltov Trg 5; 385-1-48-28-100), um palácio neorrenascentista aberto de terça a domingo (o ingresso custa 40 kunas). Sua coleção de mais de três mil peças vai de tapeçarias persas até obras de Renoir, Rubens e Degas.

20h - Sabor dálmata
Zagreb está cheia de migrantes de toda Croácia, de forma que gastronomia diversa do país está bem representada. O Didov san -"sonho do vovô- (Mletacka 11; 385-1-48-51-154; www.konoba-didovsan.com) é uma konoba, ou taverna em estilo dálmata, que serve especialidades do delta do Rio Neretva. Apesar do vovô ter falecido, ele estaria orgulhoso de seus parentes, que servem ensopado de rã e enguia (180 kunas) e um cabrito sauté com legumes (150 kunas, peça antecipadamente) sobre toalhas xadrez vermelhas, sob um teto de vigas rústicas aparentes. De interesse aos particularmente famintos é o didova tava (80 kunas), um ensopado imenso.

24h - Música em abundância
O Purgeraj (Park Ribnjak 1; 385-1-48-29-253; www.purgeraj.hr) é a melhor opção para música ao vivo, no emaranhado de clubes sob as torres de sino da catedral. Isolado nas profundezas do verdejante Parque Ribnjak, o ponto oferece uma grande variedade de gêneros (funk, disco, punk, ska, blues, jazz e rockabilly) para um público eclético e internacional. Para se fortalecer, experimente o conjunto de uma dúzia de doses de licor (90 kunas), servidas em tubos de ensaio no terraço ao estilo tiki. Então siga para o salão de dança, decorado com capas de álbuns de rock and roll e dance madrugada adentro.

Domingo

10h - Nostalgia da Iugoslávia
O mercado de antiguidades ao ar livre na Praça Britânica (Britanski Trg) prova que ainda há valor em itens da era iugoslava. Traga umas duas centenas de kunas e pechinche retratos de Tito, porta-cigarros em filigrana, medalhas, moedas e outros itens antigos. Com os tesouros na mão, procure pela placa que diz "Simply Luxury Coffee" e entre no Eli's Caffe (Ilica 63; 385-91-52-79-990; www.eliscaffe.com). O proprietário (e três vezes barista campeão croata) Nik Orosi torra seus próprios grãos e serve o café mais saboroso da cidade (um cappuccino custa 12 kunas).

13h - Passeio pela natureza
Antes de partir, obtenha um pouco de perspectiva no Parque Natural Medvednica (385-1-45-86-317; www.pp-medvednica.hr; tome o bonde Nº14 ou o 8 até o 15): 22.700 hectares de trilhas de montanha que se erguem acima de Zagreb, repletas de cervos e raposas, castanheiras e carvalhos. Transpire os excessos da noite anterior com uma caminhada de esforço médio que leva até o Puntijarka hut (385-1-45-80-384), que abriga um restaurante situado a 975 metros de altitude. Peça como recompensa um ensopado de costela, feijão e linguiça (25 kunas) e meio litro da cerveja doméstica Karlovacko (12 kunas).

Antes um ribeirão que separava Gradec e Kaptol, a rua Tkalciceva apenas para pedestres agora está repleta de cafés, butiques e ateliês

O básico

Aberto em 1925 para receber os passageiros do Expresso do Oriente, o Regent Esplanade (Mihanoviceva 1; 385-1-45-66-021; www.regenthotels.com), localizado ao lado da estação de trem art nouveau de Zagreb, ainda estabelece o padrão. A grande mistura de mármore e cristal já recebeu a rainha Elizabeth 2ª e Louis Armstrong. Ele possui um restaurante no qual vale a pena esbanjar e um cocktail bar. Diárias a partir de 140 euros (ou US$ 203, com o euro cotado a US$ 1,45) para um quarto duplo.

O Hotel Dubrovnik (Gajeva 1; 385-1-48-63-555; www.hotel-dubrovnik.hr) com 258 quartos, que data de 1929, é simples, com móveis de madeira elegantes e bom serviço, mas sua localização é o fator principal: um de seus dois prédios dá vista para a cena social das manhãs de sábado, o outro para a Praça Jelacic. Quartos duplos a partir de 165 euros.

Tradução: George El Khouri Andolfato