UOL Viagem

11/09/2009 - 08h45

Botos, fitas e carimbó estão na Festa do Sairé, em Alter do Chão

EDUARDO VESSONI
Colaboração para o UOL Viagem, de Alter do Chão
O profano nunca esteve tão próximo ao sagrado e, no Pará, o limite é uma estreita rua que separa os movimentos sensuais dançados ao ritmo do carimbó e as procissões religiosas entoadas em latim.
  • Eduardo Vessoni/UOL

    Saraipora carrega o sairé, uma armação de madeira revestida com algodão e fitas coloridas em forma de cruzes que representam o Pai, o Filho e o Espírito Santo


Foi inaugurada nesta quinta (10) a edição 2009 da Festa do Sairé de Alter do Chão, vila balneária a 36 km de Santarém, considerada a manifestação religiosa mais antiga da região norte do Brasil e, junto com o Círio de Nazaré, da capital Belém, uma das maiores festas de todo o estado.

O evento, com mais de 300 anos de tradição, remonta ao período da colonização portuguesa, quando os índios boraris, antigos habitantes daquelas terras, organizavam rituais de boas-vindas aos colonizadores. "É o sangue dos nossos antepassados que nos une nesse momento", conta Marlison Soares, coordenador da Festa do Sairé.

A programação começa com uma emocionante procissão entoada em latim, conhecida como Busca dos Mastros, em direção ao rio. Diante do grupo, a saraipora carrega o sairé, uma armação de madeira revestida com algodão e fitas coloridas em forma de três cruzes que representam o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

  • Eduardo Vessoni/UOL

    Equipe inicia o levantamento dos mastros antes de fincá-lo na Praça do Sairé

Sobre a areia quente e as águas azuladas das praias de água doce do rio Tapajós, homens e mulheres jogam sobre os ombros imensos mastros de madeira, saem outra vez em fila até a Praça do Sairé e começam a decoração daqueles pesados troncos. Uma competição entre sexos que só deve terminar na próxima segunda-feira, com a derrubada dos mastros.

No entanto, o momento mais esperado é a disputa entre os grupos Boto Cor de Rosa e Tucuxi, uma apresentação alegórica baseada nos famosos bois Caprichoso e Garantido, de Parintins, no Amazonas.

"Como é uma festa de raiz, com antigas danças folclóricas, o Sairé não tem o mesmo apelo visual de outras grandes festas nacionais. Por isso, decidimos incluir a competição dos botos para atrair os turistas nacionais e estrangeiros", explica a prefeita de Santarém, Maria do Carmo Martins.

O primeiro grupo tem como tema "Esse rio é minha rua", enredo que pretende discutir (e até propor soluções) o futuro das águas doces da região e do mundo. "Nossa vida é o folclore, mas até quando os rios serão a nossa rua?", questiona Ié Ié Oliveira, responsável pelo trabalho artístico do Boto Cor de Rosa.

O adversário ainda não sabe, mas o Tucuxi, coincidentemente, também leva para a passarela discussões ambientais de interesse mundial na letra de "O suspiro da Amazônia", cuja temática envolve a devastação do planeta.

A organização do evento, cujos custos estão estimados em R$ 1 milhão, espera receber 100 mil participantes nos cinco dias dessa festa de três séculos que não só dá as boas-vindas aos colonizadores, mas também aos visitantes de todas as partes do mundo, sejam religiosos ou não.

PROGRAMAÇÃO

11/09 (sexta) Os eventos religiosos e as danças folclóricas, como o carimbó, dividem a atenção do público com shows do Babado Novo e Batidão do Forró
12/09 (sábado)Ritos religiosos, desfiles dos botos no Sairódromo e shows com as bandas Tchaka Bum e Batidão do Forró
13/09 (domingo)A festa religiosa prossegue no domingo, mas agora o som da noite é embalado pelo reggae da Banda Strada e apresentação do Sorriso Moleque
14/09 (segunda)As bandas Forró na Garagem e Arena são o destaque do último dia da festa. O encerramento do evento é marcado por uma varrição seguida da derrubada dos mastros. O evento religioso é concluído com a cecuiara, um almoço de confraternização preparado com pratos típicos de Santarém

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