UOL Viagem

08/07/2009 - 07h00

Ecoturismo é moda ou filosofia de vida?

MARISTELA DO VALLE
Colaboração para o UOL Viagem
O que você faria se, durante uma caminhada, encontrasse um bicho atropelado? Interromperia o passeio para ajudá-lo ou ignoraria o problema, para não perder um minuto das tão esperadas férias? Pois o grupo de turistas acompanhado pelo operador Jurandir Lima, da Trilhas & Trilhas, optou pela primeira alternativa ao se desesperar com um filhote de tamanduá no meio da estrada, na região do Parque Nacional das Emas, em Goiás. Eles cuidaram do animal, que conseguiu se recuperar, e se sensibilizaram com um problema que muitos ignoram: 1,7 milhão de animais foram atropelados no Brasil só em 2006, segundo Lima. Na opinião dele, o exemplo do filhote de tamanduá no Parque das Emas mostra como uma viagem pela natureza pode influenciar o modo como as pessoas a enxergam: com as informações e as experiências vividas em um passeio desses, os passageiros se conscientizam da importância de fazer a sua parte em prol do ambiente.
  • Divulgação

    Bonito (MS) é considerado um modelo de operação sustentável no país, pois limita o número de pessoas nas suas principais atrações, o que tem permitido a sua conservação


Ecoturismo, portanto, não é apenas caminhar pela natureza, como muita gente pensa, mas principalmente se preocupar com a forma com que você interage com ela. Só que essa preocupação não deve partir apenas do turista, mas também dos operadores, dos hotéis, dos guias, dos moradores das regiões visitadas, enfim, das pessoas que organizam o turismo do lugar. E nem sempre é fácil aliar turismo a conservação. "O ser humano é um predador natural", comenta o diretor da Freeway, Edgar Werblowsky. Por isso é importante o controle da atividade nas áreas ainda pouco modificadas. E o empresário dá dois exemplos opostos de exploração turística: "enquanto os grandes hotéis da Praia do Forte (BA) colocam em risco uma área frágil de desova das tartarugas marinhas, a cidade de Bonito (MS) tem um belo modelo de operação, com controle limitado de pessoas que podem visitar as atrações naturais do lugar".

O que acontece em Bonito define um termo muito em voga atualmente: desenvolvimento sustentável. Essa expressão geralmente é empregada quando a exploração dos recursos de determinado lugar é realizada de tal maneira que garante às futuras gerações pelo menos as mesmas condições usufruídas pelas gerações atuais. Por exemplo, os filhos, os netos e os bisnetos dos moradores e dos visitantes de Bonito também se encantarão com o colorido das plantas e dos peixes do rio Sucuri quando praticarem flutuação por lá.

Na opinião de Jota Marincek, diretor da operadora Venturas & Aventuras, o importante é "encontrar a medida adequada ao ambiente, às populações locais tradicionais e à saúde econômica dos prestadores de serviços envolvidos". E por que apenas de uns tempos para cá o homem está percebendo a importância dessa equação? O próprio Marincek diz: "Antes da revolução industrial o homem tinha uma relação visceral com o ambiente, do qual provinha a sua sobrevivência. Com a revolução, ele passou a esnobar o ambiente em nome do progresso, do desenvolvimento e da consequente concentração urbana. Agora a balança está voltando para o caminho do meio".

Na prática, o crescimento recente do ecoturismo tem relação direta a uma onda verde que também atingiu outras atividades. "As pessoas se preocupam hoje em consumir produtos que tenham menos impacto no ambiente e também que sejam saudáveis", diz José Zuquim, diretor da operadora Ambiental Expedições. E complementa: "O turismo proporciona o prazer em descobrir locais de beleza cênica e ainda de conviver com culturas e comunidades interessantes". Para ele, esse tipo de experiência provoca um forte impacto na vida das pessoas. Já na opinião de Gabrielle Monteiro, assessora de imprensa e marketing da operadora Pisa Trekking, quem pratica ecoturismo percebe o mundo com outros olhos: "O turismo verde está revolucionando a forma com que o brasileiro enxerga o próprio país".
  • Divulgação

    Na Amazônia, o turista conta com vários hotéis de selva que têm arquitetura harmônica com a natureza e organizam passeios para observar animais e conhecer as comunidades


Como ser um turista consciente

Ok, você ama a natureza, não quer de maneira alguma destruí-la, mas nem sempre sabe exatamente como se comportar quando está entre árvores, arbustos e trilhas de terra. Afinal, seu habitat é uma selva apenas de cimento. E, às vezes, por falta de aviso ou conhecimento, ameaça o ambiente com um comportamento que jamais pensaria ser nocivo. Para não se tornar um vilão indesejado, preste atenção em algumas atitudes simples durante sua viagem:

DICAS PARA SE TORNAR UM "TURISTA VERDE"

Leve a água que vai consumir durante as caminhadas num cantil ou squeeze reaproveitável. As garrafinhas de plástico vão demorar centenas de anos para serem decompostas
Guarde todo o lixo produzido ao longo da trilha em sacos de papel, para depois depositá-los em locais adequados, como postos de arrecadação de coleta seletiva
Não grite nem faça barulho em ambientes pouco modificados pelo homem, para não assustar a fauna local e também para respeitar as pessoas que estão ali para ouvir apenas os sons da natureza
Respeite os moradores das comunidades pelas quais passar
Evite usar xampu, sabonete, detergente, óleo ou protetor solar em rios, piscinas naturais e cachoeiras, principalmente quando estiver próximo a nascentes
Evite fazer fogueiras. Se realmente precisar delas, tente utilizar os galhos já soltos pelo chão e, quando acabar, apague tudo muito bem
Cuidado para não deixar cair bitucas de cigarro, principalmente em locais muito secos, que podem se incendiar com facilidade
Caminhe sempre com um guia da região, que conheça muito bem as trilhas exploradas, não só para evitar a destruição de determinados locais virgens mas também para sua própria segurança: animais perigosos podem surgir a qualquer momento e, além disso, é muito fácil se perder em locais desconhecidos
Caminhe sempre pelas trilhas já existentes e evite os atalhos, que provocam a erosão e a destruição das raízes e das plantas
Nas cavernas, não toque em estalactittes, estalagmites e outras formações, que demoraram milhões de anos para serem esculpidas


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