UOL Viagem

04/05/2009 - 17h48

36 horas em Reykjavik, Islândia - Vida noturna e tomar banho quente ao ar livre na neve são opções de passeios na terra de Björk

FRANK BRUNI
New York Times Syndicate
Uma mulher falante sentada em um banco de bar, perto do meu, roda sua vodca com suco de laranja como se fosse um cabernet sauvignon, aparentemente sem notar as ondas de líquido laranja ultrapassando a boca do copo. Uma mulher cacarejante, em um vestido preto tomara-que-caia e um chapéu vermelho de Papai Noel, passa por perto, olhando por sobre o ombro para assegurar que seus três pretendentes, empunhando cervejas e lançando olhares, ainda estão lá.

Quando me levanto e começo a caminhar para a porta, um homem alcoolizado seguindo na mesma direção cai sobre minhas costas para me usar como transporte. Ele murmura algo em islandês. Após montar em mim por uns seis metros, ele cai sobre outra pessoa. Muitas pessoas notam. Ninguém demonstra nenhuma emoção.

É meia-noite em um sábado, o que significa que o runtur, ou a farra de ir de bar em bar e beber até cair, está em andamento. Muitos bares ficam abertos até as quatro horas da manhã tanto na sexta quanto no sábado. E pelo que pude ver e o que me contaram, o colapso financeiro deste país e a forte desvalorização da moeda, que tornaram mais acessível para os visitantes este destino antes proibitivamente caro, não os esvaziaram nem um pouco.

"Mais tranqüilo?" ri Elva, a barwoman no estiloso clube Solon, repetindo parte da minha pergunta para ela. "Oh, não. Não. As pessoas querem beber até esquecer seus problemas."

Sexta-feira



15h45 - Caminhar antes de rastejar nos bares
Não perca tempo! Se for janeiro ou fevereiro, não há muita luz solar e você vai querer se orientar por Reykjavík antes da farra nos bares, quando o número de moradores locais e sua desordem nas ruas do centro, somados à sua própria possível embriaguez, poderia tornar a orientação (ou mesmo a perambulação) ligeiramente difícil. Inicie na margem nordeste da Tjornin, a lagoa no centro dessa cidade de apenas 120 mil habitantes, que parece mais um vilarejo muito grande. Caminhe para nordeste, passando pelo Hotel Borg e pela adorável praça diante da qual ele se encontra, até chegar à rua Austurstraeti. Dobre a direita e siga até subir colina e ela se tornar a Laugavegur. Você terá vistas provocantes, à esquerda, do deslumbrante porto.
  • Bara Kristinsdottir/NYT

    Tjornin, a lagoa no centro dessa cidade, também é o lar de diversos animais



21h - Papagaio-do-mar e rena
Se você for inteligente, vai planejar um jantar mais tarde e tirar um cochilo antes, para não ter que sair da farra nos bares antes de curti-la decentemente. Se você for ainda mais inteligente, você fará uma reserva no Fish Market (Adalstraeti 12; 354-578-8877; www.fishmarket.is), que enche rapidamente, mesmo nesses tempos menos opulentos. Ele se espalha por dois simpáticos pisos e, mais importante, tem um cardápio que não faz você esquecer que está na Islândia. Minha companhia e eu provamos o papagaio-do-mar defumado, cuja qualidade lembra a de muitas aves de caça. A carne de baleia grelhada foi ainda mais atraente: ela tinha a aparência, textura e consistência da carne bovina, mas com leves nuances salgados que sugerem que sua origem é do mar.

Enquanto bebíamos excelentes martinis gelados feitos de vodca islandesa, passamos para a rena (previsivelmente como a de veado), ganso e truta do Ártico. Apesar do jantar não ter saído supercaro como seria há seis meses, ele também não foi barato. Pelos três pratos com bebidas e gorjeta, espere pagar pelo menos 25 mil coroas islandesas para duas pessoas, cerca de US$ 200, com o dólar atualmente cotado a 126 coroas; mas isso é menos de um terço do que há seis meses, quando a cotação do dólar era por volta de 78 coroas.
  • Bara Kristinsdottir/NYT

    Chef de cozinha do Fish Market prepara uma receita; pratos típicos da região incluem papagaio-do-mar e rena



23h - Primeira rodada
Preparar... aprontar... runtur! Você está vendo apenas o início da farra nos bares a esta hora, ao passar pela entrada pouco sinalizada do Boston (Laugavegur 28b; 354-517-7816). O salão principal da casa, subindo uma escadaria estreita, é parte bordel vitoriano, parte hospedaria de caça, tanto com velas quanto taxidermia entre seus adornos. Observe quão rapidamente seus companheiros bebedores -a cerveja, a 750 coroas um quartilho, é a bebida preferida- passam de uma rodada para outra. Preste atenção nos seus rostos, porque a pequenez aconchegante de Reykjavík significa que você reconhecerá as pessoas cambaleando pela calçada às duas horas da manhã sem casacos, com suas preocupações cosméticas superando qualquer desejo de isolamento das temperaturas de inverno - que me parecem ligeiramente mais frias do que as de Nova York.

1h - Ficando alto
As prateleiras de bebidas atrás do bar no B5 (Bankastraeti 5; 354-552-9600) estão banhadas em luzes brilhantes de tons diferentes: laranja, amarelo, rosa. E a grande janela frontal fornece uma grande vista da rua que ainda não atingiu seu pico. Carros passam de um lado para outro, com os vidros abertos, enquanto alguns jovens islandeses participam do runtur sobre rodas. "American Graffiti - Loucuras de Verão", apenas com neve e trilha sonora que prefere Bjork.
  • Bara Kristinsdottir/NYT

    Lado de fora do popular B5, um dos locais a ser visitado em um runtur em Reykjavik


Sábado


10h30 - Hora da cavalgada
Presumindo que sua ressaca seja suportável, você deve sair de Reykjavík, porque a Islândia é uma maravilha topográfica: escarpada, desolada, a forma como você imagina a superfície da Lua. Por meio da Reykjavik Excursions você pode conseguir passeios de um dia como caminhadas e snowmobile (carro de neve). Eu queria algo que tomasse menos tempo e com mais liberdade, então aluguei um carro e segui para os estábulos da Eld Hestar (Vellir Fam, Hveragerdi; 354-480-4800; www.eldhestar.is), imaginando que um passeio curto de cavalo seria uma forma diferente de curtir parte do cenário.

Os cavalos islandeses são famosamente baixos e mansos, e meu guia na Eld Hestar, que liderou 12 de nós ao longo de um minúsculo córrego por uma hora ao custo de três mil coroas por pessoa, me disse que meu cavalo era um dos mais mansos e obedientes da tropa. Mas ele desacelerou quando o chutei para ir mais depressa, e correu quando puxei as rédeas. Eu acho que ele perdeu muito com o crash do mercado de ações islandês e não foi o mesmo desde então.
  • Bara Kristinsdottir/NYT

    Os cavalos islandeses são famosamente baixos e mansos


12h45 - Do turfe ao surfe
Um motivo adicional para a cavalgada matinal no Eld Hestar é que isso coloca você em posição para um almoço no restaurante Fjorubordid (Eyrarbraut 3, Stokkseyri; 354-483-1550; www.fjorubordid.is), em um trecho ventoso da costa islandesa. É possível pedir um bisque cremoso de lagostim, então uma grande panela de caudas de lagostim para descascar e comer, por volta de 11.500 a 13.500 coroas para dois com bebidas. A mão certeira do restaurante para essas iguarias atrai celebridades: fotos nas paredes narram as visitas de Bette Midler e Martha Stewart.

16h - Pechinchas ao lado do porto
De volta a Reykjavík após um a viagem de carro de cerca de 90 minutos com tempo bom, é possível optar por fazer compras em belas butiques, onde algumas grifes agora estão mais baratas do que em outras cidades. Ou é possível revirar a mistura divertida de produtos, de frutos do mar, discos antigos e luvas de lã, no movimentado mercado de pulgas Kolaportio (Tryggvagotu 19; 354-562-5030). Essa espécie de Wal-Mart desordenado fica aberta das 11h às 17h nos dias úteis, em um prédio ao estilo de hangar ao lado do porto.

1h - Baile dos roqueiros
Um dos principais endereços de música ao vivo é o NASA (Thorvaldsenstraeti 4, 354-511-1313; www.nasa.is), na mesma praça gramada que o Hotel Borg. É um clube noturno com bares espalhados por toda pare e um palco principal ao estilo auditório, diante do qual das pessoas dançam. Na noite em que fui, a primeira de duas bandas locais só subiu ao palco depois da 1h. Além de canções de rock originais, seus dois cantores principais apresentaram um cover animado, em islandês, de "I Got You, Babe" de Sonny and Cher. A expectativa era de que o show durasse até depois das três horas da manhã. Não durou.

Domingo


10h - Diferente do filme
O item seguinte na sua lista de coisas que deve fazer, depois de música ao vivo: um banho ao ar livre. É uma tradição local. Há piscinas e banheiras geotérmicas espalhadas por toda a cidade, cada uma prometendo uma sensação inebriante do corpo envolto em água quente, mas a cabeça exposta ao ar frio cortante. O maior de todos os banhos é a Blue Lagoon (Grindavik; 354-420-8800; www.bluelagoon.com), a cerca de 40 minutos a sudoeste da cidade, onde é possível flutuar em uma espécie de lago sulfuroso disforme ao lado de estranhos quase nus. A névoa sobre a água é espessa e há correntes tão quentes que você fugirá delas. O transporte de ônibus de Reykjavík e o ingresso, incluindo armário no vestiário, custa cerca de 4.400 coroas por pessoa (só o ingresso para o lago custa 3.400 coroas). E o mergulho escaldante-congelante é todo o remédio para ressaca que você precisa.

O Básico


Não há vôos diretos do Brasil para a Islândia. Mas a islandesa Icelandair (www.icelandair.com) liga boa parte das capitais europeias e da América do Norte a Reykjavík.

O centro da cidade fica a cerca de 40 minutos de distância de carro e um táxi pode custar facilmente 14 mil coroas, o que é mais de US$ 110, com o dólar cotado a 126 coroas. Mas a Reykjavik Excursions (354-580-5400; www.re.is) oferece ônibus por 1.500 a 2 mil coroas para ida ou volta.

No centro de Reykjavík, quase todas as lojas e bares mais populares estão a uma distância de dez quarteirões um do outro; caminhar é a melhor forma de circular. Para passeios diurnos, é fácil arrumar carros para aluguel, apesar de serem caros: recentemente, um aluguel diário na Hertz custava 9.500 coroas.

O Hotel Borg (Posthusstraeti 11; 354-551-1440; www.hotelborg.is), com 56 quartos e situado na praça mais bonita da cidade, possui acomodações altamente respeitáveis e foi construído em 1930. As diárias de fim de semana para um quarto duplo, no final de janeiro, custavam 195 euros, ou US$ 280, com o euro cotado a US$ 1,44.

O CenterHotel Thingholt (Thingholtsstraeti 5; 354-595-8530; www.centerhotels.is) fornece uma alternativa mais contemporânea, mais consciente do design. É um hotel butique com 50 quartos de diversos tamanhos, com ofertas especiais online para um quarto duplo a partir de cerca de 140 euros.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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