UOL Viagem

15/04/2009 - 06h59

Navegando pelas 'artérias' da Patagônia chilena

EDUARDO VESSONI
Colaboração para o UOL Viagem*
Se a estreita geografia do Chile fosse um corpo humano, poderíamos dizer que os canais e fiordes da Patagônia são as principais 'artérias' de circulação de vida. É nessa área inóspita do país, entre vales de águas salgadas que formam um impressionante labirinto natural de ilhas e montanhas, que o visitante encontra o lado mais selvagem do sul chileno. E quem navega aquelas águas se alimenta não só de belas paisagens, mas também de histórias.

A viagem começa em Puerto Natales e termina, 1.500 km depois, em Puerto Montt, na região dos Lagos. O meio de transporte é um imenso ferry cargueiro com capacidade para levar até 300 aventureiros na travessia de quatro dias pelos canais patagônicos entre as duas cidades. O cenário lá fora inclui imensos glaciais, montanhas, canais e fiordes.

Logo nas primeiras horas de navegação, o passageiro já tem a primeira mostra do tom da aventura. O navio, de 122 metros de comprimento e pouco mais de 22m de largura, precisa cruzar o Paso White, o trecho mais estreito do todo o trajeto. O local requer manobras especiais da tripulação para que os 80 metros de largura sejam cruzados com segurança. A 'atração' chega a causar silêncio e apreensão entre todos, mas fascina.

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    Passagem pelo Paso White, o trecho mais estreito de todo o trajeto

No interior do navio, entretenimento para quem não suporta ficar muito tempo exposto ao frio dos corredores externos. Diariamente, há encontros com apresentações sobre glaciologia e aulas sobre a fauna encontrada ao longo dos canais. Com sorte, e com um binóculo de alto alcance, é possível ver na prática o que se falou sobre baleias, golfinhos e lobos marinhos.

A paisagem cinzenta que costuma abrir as manhãs a bordo não estimula o viajante a sair da cama, mas os insistentes costumam ser presenteados com belas imagens da chegada tardia do sol em algumas épocas do ano. Depois do café da manhã, outra atração: a geleira Pio XI, conhecida também como Brüggen. Sua parede frontal de 5 km de largura e seus paredões de 90 metros de altura fascinam. Silêncio outra vez.

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    A galeira Pio XI tem uma parede frontal de 5 km de largura e paredões de 90 metros de altura

Mas nem só de cenários naturais se escreve a história do roteiro pelos canais. Barcos naufragados também são atrativos ao longo da viagem, como o Cotopaxi, um navio inglês que, em 1889, chocou-se com a ponta de uma rocha em forma de pirâmide e naufragou, dando origem ao Baixo Cotopaxi.

Um século mais tarde, o capitão Leonidas tentou afundar, propositalmente, seu barco para receber o valor do seguro. A ação foi frustrada e a embarcação encalhou sobre a ponta da mesma rocha triangular que tragara o Cotopaxi. O pagamento não foi autorizado, por conta da imprudência do comandante, e o que sobrou do barco serve, atualmente, de farol de navegação.

Nos quatro dias de viagem, as condições climáticas mudam completamente e a viagem tem seus altos e baixos, literalmente. Quando o ferry avança sobre o Pacífico, os 'marinheiros' de primeira viagem são os que mais sofrem. Na refeição seguinte à entrada ao agitado oceano, o refeitório vira um curioso 'salão de baile' com passageiros tentando equilibrar suas bandejas com comida.

  • Eduardo Vessoni/UOL

    A travessia entre Puerto Natales e Puerto Montt inclui glaciais, montanhas, canais e fiordes

Essas são as últimas horas de navegação e os 'sobreviventes' à fúria do Pacífico são recompensados com a beleza do Canal Puluche, onde a paisagem patagônica assume tons esverdeados e suas águas tranquilas mudam o ritmo da viagem.

O silêncio dos canais é quebrado na agitada Puerto Montt, última parada. Mas o passageiro, anestesiado com a aventura, parece não se importar. Dentro dele ainda circula a vida selvagem da Patagônia chilena.

SERVIÇO
A viagem pelos fiordes chilenos tem duração de quatro dias e pode ser realizada em direção ao sul (com embarque às sextas, em Puerto Montt) ou no sentido contrário (embarque em Puerto Natales, todas as terças). Cabines custam a partir de US$ 390 (preço para a baixa temporada). A passagem inclui acomodação em cabines, pensão completa e entretenimento a bordo. Tel.: (56-65) 432-300 - Puerto Montt. www.navimag.com

* O jornalista Eduardo Vessoni viajou a convite da Navimag Ferries.

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