UOL Viagem

16/03/2009 - 06h59

Conheça lindas paisagens da Nova Zelândia fazendo trilhas pela floresta

ROBERT D. HERSHEY JR.
New York Times Syndicate
Em 1908, a revista "The Spectator" chamou a Trilha Milford, com 54 quilômetros, que passa pelo Parque Nacional de Fiordland da Nova Zelândia, de "a melhor caminhada no mundo", um honra ainda válida para os caminhantes experientes - um fã foi sir Edmund Hillary - um século depois.

O parque, que faz parte de Te Wahipounamu, um Patrimônio Mundial da Unesco, é de uma beleza de cair o queixo, uma rara combinação de floresta, corredeiras e picos montanheses glaciais que produzem vistas que fazem você pensar que entrou em um cartão-postal. Além disso, tanto caminhantes novatos quanto experientes podem apreciar plenamente os prazeres de Milford, que oferece tanta solidão quanto você quiser e uma água tão pura que você é encorajado a bebê-la sempre que encontrá-la.

  • James Frankham/THE NEW YORK TIMES

    A trilha Milford, com 54 quilômetros, que passa pelo Parque Nacional de Fiordland da Nova Zelândia, foi chamada de "a melhor caminhada no mundo"


Quando estive lá em fevereiro do ano passado, como parte de um grupo de 50 viajantes com guia em uma viagem de cinco dias que incluiu três dias de caminhada séria, as duas palavras que proferi com mais frequência enquanto caminhávamos pelo parque foram "impressionante" e "incrível".

A Trilha Milford é promovida como fisicamente nem fácil e nem difícil, com apenas crianças menores de 10 anos excluídas pela política da empresa de guias e sendo requisitado aos caminhantes com mais de 70 anos que antes recebam autorização de seu médico. Talvez seja melhor colocar desta forma: pessoas da cidade desacostumadas a caminhar mais do que poucos minutos de cada vez provavelmente considerarão a caminhada difícil, enquanto caminhantes experientes considerarão Milford, pelo menos em clima favorável, não particularmente desafiadora.

Mas muito depende da imprevisibilidade do tempo - chuvas frequentes e talvez até neve durante o verão no canto sudoeste de South Island, Nova Zelândia.

O número de caminhantes autorizados a percorrer toda a Trilha Milford na alta temporada é limitado a 90 por dia - 50 com a empresa privada de guias Ultimate Hikes New Zealand, que conta com uma franquia exclusiva, e 40 que se registram como caminhantes independentes junto ao Departamento de Preservação da Nova Zelândia.

Cada pessoa tem sua própria acomodação para pernoite e todos caminham na mesma direção, para o norte, com partida da nascente do Lago Te Anau, até Sandfly Point, no Estreito de Milford, uma rota que data de 1888, quando dois escoceses, Quintin Mackinnon e Ernest Mitchell, primeiro percorreram meia dúzia de trilhas escarpadas em ziguezague e cruzaram uma passagem na montanha que agora leva o nome de Mackinnon, com seu memorial marcado com uma cruz.

Em parte porque transporte por barco é exigido em ambas as extremidades, claramente o modo mais prático para os viajantes caminharem em Milford é contratando a Ultimate Hikes, que envia grupos todos os dias durante a temporada de seis meses com saída de sua sede, em Queenstown.

Ela fornece quatro guias, o transporte de ônibus e de barco necessários, todas as refeições e acomodações modernas para o pernoite em chalés com toalete com descarga, secadores de cabelo e quartos com secadoras de roupa por uma taxa acessível. Os preços são mais caros de dezembro até março, um pouco mais baixos em novembro e abril.

Para os independentes, que carregam toda sua comida, cama e roupa, a alta temporada é do final de outubro até o final de abril, mas podem caminhar sem reservas - e em qualquer direção - nos meses particularmente perigosos fora de temporada e no inverno.

Apesar de fazer parte de um grupo supervisionado por uma empresa que opera com uma eficiência controlada poder parecer limitante, não há pressão para caminhar fora do ritmo em que você se sente à vontade, parando sempre que você quiser para se embasbacar com a paisagem, para tirar fotos ou simplesmente descansar.

"Isto não é uma corrida; não há prêmio para quem chegar primeiro", disse Anneke, a mulher que deu as instruções necessárias na tarde anterior à minha amiga Anne e eu começarmos a caminhada. "Pode haver até duas ou três horas de distância entre a primeira pessoa e a última" na trilha, ela acrescentou, deixando implícito que as cinco dezenas de caminhantes tinham liberdade quase completa para absorver as coisas em seu próprio ritmo, com ou sem companhia.

De fato, um dos meus poucos momentos desconfortáveis ocorreu após ter parado para conversar com uma diplomata americana que acompanhava seu marido pescador na caminhada do dia, sem que ninguém passasse por mim em 15 minutos. Quando retomei a caminhada, era uma área aberta onde a trilha não estava bem definida e pensei que tinha me perdido. Eu então voltei uns 100 metros quando, para meu alívio, apareceu um casal do meu grupo.

Um dos guias sempre permanece atrás do caminhante mais lento, de forma que a ajuda chegará desde que você permaneça na trilha. Se você tomar uma das breves trilhas paralelas, você deixa sua mochila na trilha para que o guia na retaguarda não deixe você para trás.

  • James Frankham/THE NEW YORK TIMES

    Quedas d'água fazem parte do cenário da trilha Milford na Nova Zelândia


Uma coisa que um novato medroso não precisa temer é a vida selvagem perigosa; a Trilha Milford não possui mamíferos nem cobras. A maior ameaça é apenas o kea, um papagaio grande e descarado da Nova Zelândia, roubar seu almoço.

Mas você precisa lidar com o tempo, um dos mais úmidos do planeta. Nossa marcha de verão foi quase que totalmente ensolarada, mas eu e outros nos vimos pensando em quão miseráveis nos sentiríamos em caso de um frio mais forte, chuva pesada e enchentes para os quais fomos insistentemente preparados nas instruções orais e por escrito.

"Frio, neve, ventos fortes e chuva pesada podem ocorrer a qualquer momento do ano", com a chuva ocorrendo dia sim e dia não durante a temporada de caminhadas, segundo o Departamento de Preservação.

Uma minoria de nosso grupo, entretanto, expressou certa decepção por nosso grupo, designado Nº 109 do ano, não ter enfrentando nenhuma dificuldade climática, insistindo que gostariam de pelo menos um dia de chuva - para melhor apreciar a suntuosa floresta tropical pela qual caminhávamos. Os picos das montanhas podem ser menos visíveis nessas ocasiões, mas as cachoeiras ficam mais espetaculares e, segundo todos os relatos, muito mais numerosas em cascatas prateadas largas.

Nas chuvas mais pesadas, a trilha pode ficar alagada até o joelho ou mais, exigindo desvio por terreno mais elevado ou até mesmo um resgate por helicóptero de meia dúzia de caminhantes de cada vez.

"Se as condições do tempo ficam muito chuvosas, os caminhantes são encorajados a não contornarem as poças, já que isso prejudica as margens da trilha", aconselhava nosso folheto de orientação laminado, contradizendo o que nos foi ensinado por nossas mães. "Isso apenas adia o fato inevitável dos pés ficarem molhados e alagamentos precisam ser transpostos."

Também é preciso se acostumar com uma trilha contendo mais pedras e raízes do que eu esperava, que tornaram mais difícil a descida dos mais de 1.060 metros da área do Passo de Mackinnon no meio da tarde.

"A maioria das pessoas concorda que este trecho de descida oferece não apenas a caminhada mais difícil, mas também algumas das vistas mais bonitas, dos altos penhascos rochosos e floresta coberta de musgo, até corredeiras alimentadas pelas geleiras das montanhas e uma cachoeira", declarava o folheto. "Ao atingir o marco de 30 quilômetros só restará mais 1,5 quilômetro de caminhada (no dia), mas poupe alguma energia para os últimos 800 metros, que são íngremes e seus joelhos se cansarão."

Antes desta caminhada, eu nunca tinha usado bastões, mas Anne insistiu em alugar um par para mim, e eles sem dúvida me salvaram de uma queda neste trecho. Eu entrei no Quintin Lodge, como vários outros caminhantes, com as pernas bambas. No caso de Anne, foi com os joelhos doloridos.

Mas após este teste montanhoso de 14,5 quilômetros, quase metade do grupo reuniu forças com a ajuda de chá, lanches e um breve descanso para a caminhada bônus de pouco mais de uma hora e meia pré-jantar para olhar de perto Sutherland Falls, uma das mais altas quedas d'água do mundo, com 580 metros.

Apesar de um caminhante ter sido evacuado da trilha poucos dias antes por causa de uma fratura no tornozelo, nosso grupo parecia notavelmente livre de problemas. Posteriormente, Bill Davidson, gerente geral da Ultimate Hikes, explicou que as pedras tendem a se acomodar, permitindo uma melhor tração, porque as caminhadas diárias impedem a formação de limo.

Cada dia de caminhada seguia um padrão semelhante, começando com a eletricidade, que era desligada às 22h, sendo restaurada e funcionando como nosso despertador automático.

Então era hora de preparar os próprios sanduíches para almoço em uma mesa farta em uma sala de jantar, fazendo um rico café da manhã quente e partindo para a trilha carregando as mochilas modestamente pesadas contendo roupas, equipamento para tempo ruim, garrafa de água, itens pessoais e de higiene pessoal, câmera e sanduíches.

Na metade da tarde, nosso grupo típico de australianos, japoneses, britânicos, neozelandeses e cinco americanos começava a fazer o check-in no próximo chalé para a noite, em muitos casos desfrutando uma cerveja ou vinho antes do jantar delicioso que sempre oferecia a opção entre dois pratos principais.

Salmão defumado fresco picado com pepino e macarrão penne com molho a bolonhesa, cada um com um vinho sugerido, encabeçavam o cardápio após a caminhada de 16 quilômetros do primeiro dia pelo vale do Rio Clinton.

As instruções dadas pelos guias na rota do dia seguinte aumentaram o sentimento de camaradagem e aventura no grupo, enquanto desfrutávamos dos notáveis confortos que penetraram na floresta sem estradas da Nova Zelândia.

O único toque de modernidade irritante, segundo alguns caminhantes, era o zumbido ocasional de um avião de excursão ou de helicóptero de entrega de provisões. Ao ser perguntado a respeito, Davidson citou a reação de uma cliente satisfeita.

Ela disse: "É um pequeno preço a pagar por uma experiência tão maravilhosa".

Se você for



A Ultimate Hikes New Zealand (www.ultimatehikes.co.nz; 64-3-441-1138) realiza caminhadas de cinco dias e quatro noites para 50 pessoas por dia pela Trilha Milford, de novembro até abril.

Os preços na alta temporada (de dezembro a março) são de 1.850 dólares da Nova Zelândia (cerca de US$ 1.070, com o dólar americano cotado a 1,73 dólar da Nova Zelândia) para um quarto compartilhado com beliches para quatro ou seis e 2.200 dólares por pessoa para um quarto duplo privado com banheiro. Para novembro e abril, os respectivos preços são de 1.690 dólares e 2.040 dólares. Faça reserva com pelo menos um mês ou dois de antecedência por causa do número limitado de caminhantes.

A Ultimate Hikes realiza outras caminhadas de um dia ou vários na área, incluindo uma pela quase igualmente famosa e mais montanhosa Trilha Routeburn, que dura três dias e duas noites.

Os caminhantes pela Trilha Milford são obrigados a assistir uma sessão de instruções pré-viagem em Queenstown um dia antes do início. Mochilas, capas de chuva e sacolas são emprestadas gratuitamente ali. Bastões podem ser alugados por 25 dólares.

Não há caminhada no último dia. Após uma excursão de barco pelo Estreito de Milford - um destino por si só - os caminhantes são levados de ônibus de volta a Queenstown, onde a maioria deixou guardada a bagagem em um hotel.

Caminhantes independentes, que devem arranjar transporte e carregar seu equipamento, podem caminhar gratuitamente por Milford na alta temporada, mas apenas com um plano de quatro dias e três noites. As reservas para as 40 vagas diárias podem ser feitas online no Departamento de Preservação (www.doc.govt.nz). Não é necessário fazer reserva fora da temporada, quando a trilha pode ser percorrida em qualquer direção.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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