UOL Viagem

15/11/2008 - 07h07

Verdadeiro paraíso dos surfistas na América do Sul, Peru tem boas ondas o ano todo

MARIA EMÍLIA COELHO
Colaboração para o UOL Viagem*

Maria Emília Coelho/UOL

Surfista contemplando o mar da praia de Chicama, norte do Peru

Surfista contemplando o mar da praia de Chicama, norte do Peru

Ao pousar no Aeroporto Internacional de Lima, na capital peruana, é fácil identificar, basicamente, dois tipos de turistas que visitam o país: viajantes que querem conhecer Machu Picchu e as demais riquezas arqueológicas e culturais do lugar, e surfistas que chegam com suas pranchas a tiracolo, atraídos pela oferta de boas ondas e a tradição do esporte no País.

Cerro Azul, Punta Rocas, Puerto Viejo, Cabo Blanco, Lobitos, Pico Alto e Chicama. Os destinos procurados pelos desbravadores de mares são os mais variados nos 3.000 quilômetros de litoral banhado pelas águas do Pacífico. Especialistas das ondas dizem que o Peru é privilegiado por ter uma das costas mais constantes do mundo. "Temos a sorte de estar em uma posição geográfica onde é possível surfar o ano todo", conta empolgado o peruano Manuel Urquiaga, um surfista cinqüentão que há 12 anos se dedica a uma área do turismo que se especializou no esporte.

O mar do Peru produz ondas de distintas características para a prática do surfe: grandes, pequenas, tubulares, curtas, compridas, tornando-o mais atrativo do que o do Brasil, o recordista do esporte na América Latina com oito milhões de adeptos. Assim, os mais de 60 mil surfistas peruanos dividem suas excepcionais ondas com gente do mundo todo, mas, principalmente, com seus vizinhos da nação verde e amarela.

"75% dos meus passageiros são do Brasil", afirma o guia de surfe Manuel, que tem uma agência-hospedagem no balneário de Punta Hermosa, a 42 quilômetros ao Sul de Lima. Conhecido internacionalmente por abrigar o Pico Alto, a maior onda do Peru e uma das maiores do planeta, o lugar já se transformou em um verdadeiro reduto surfe-tupiniquim. Já que na costa brasileira não dá nem para sonhar com as cristas de até 30 pés que se formam a 800 metros mar adentro da concorrida praia.

Outro "point" é Chicama, famosa por sua onda esquerda mais longa do mundo. A praia, localizada a uma hora e meia da cidade de Trujillo, no norte do Peru, é visitada, exclusivamente, por aqueles que têm disposição para acordar junto com o primeiro raio de sol e entrar nas águas geladas dessa parte da costa do Pacífico. Há hotéis para todos os tipos de bolso, que oferecem serviços voltados para atender a rotina de um típico surfista.

O brasileiro Daniel Marron é empresário, professor de educação física, e já rodou o Brasil e a América Central com pouca grana e sua prancha debaixo do braço. Este ano, ele optou em conhecer o Peru, considerado a surf-trip mais barata para brasileiros. "Mas nessa viagem decidi fazer diferente e me hospedar no que há de mais luxuoso para surfistas, o Chicama Surf Resort". Um dos primeiros dessa categoria no mundo, o hotel foi pensado como um verdadeiro spa para relaxar o hóspede depois de um dia todo de swell, termo em inglês que significa ondulação oceânica, utilizado pelos surfistas para indicar boas condições para a prática do esporte. Jacuzzi, sauna, massagem, piscina, e mais um monte de regalias são para quem pode pagar a diária de US$ 180 do hotel com vista para o mar.

Localizada no km 1137 da Panamericana Norte, Cabo Blanco é sem dúvida um outro sonho dourado de qualquer surfista. Considerada a onda mais perfeita do Peru, a praia serviu de inspiração para o escritor norte-americano Ernest Hemingway escrever um de seus romances mais famosos: "O Velho e o Mar". Dizem que os primeiros esportistas que chegaram as suas águas quentes na década de 70 descobriram o lugar por que haviam lido o livro. Com o tempo o local foi ficando cada vez mais conhecido, sediando hoje uma das etapas do Campeonato Mundial do esporte.

Mas o Peru não é somente o paraíso das ondas. Uma das teorias sobre a origem do surfe coloca em dúvida se foram os havaianos e taitianos os primeiros a deslizarem sobre as ondas. Há 2.000 anos, os antigos peruanos da cultura Mochica (séculos 1 e 7 d.C) desenharam os caballitos de totora, uma pequena embarcação feita em palha sobre a qual pescavam parados nas águas da costa norte do Pacífico. A prova é que até hoje é possível observar os pescadores da praia de Huanchaco ingressando no mar sobre suas jangadas em forma de prancha fabricadas artesanalmente com fibras vegetais de junco.

O pescador Angel Dominguez, que trabalha todos os dias com o seu caballito de totora explica que "para ter êxito na jornada pesqueira é necessário saber sulcar as ondas e ter um completo conhecimento sobre as correntes marítimas". As crianças que se acercam ao redor do sábio senhor nativo da praia de Huanchaco prestam bastante atenção no seu ensinamento, afirmando: "queremos continuar seguindo a tradição dos nossos antepassados".

Hoje, a cultura do surfe é cada vez mais assimilada entre os peruanos de diferentes idades e classes sociais. Escolas de ponta a ponta da costa ensinam a prática de caminhar sobre as ondas. Novatos se espelham nos profissionais que conquistaram importantes prêmios para o País, como Sofía Mulanovich, que ganhou em 2004 o título mundial da categoria principal, a WCT. A surfista é figurinha carimbada das páginas de jornal e dos programas de rádio e televisão, que também divulgam as últimas novidades de uma das indústrias que mais cresce por ano no Peru.


*A repórter Maria Emília Coelho viajou a convite do Promperu

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