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09/09/2008 - 20h17

New York Times: Um porto marroquino ganha nova face

GISELA WILLIAMS
New York Times Syndicate
Era uma tarde clara de domingo e o terraço estreito do Casa Garcia, um pequeno restaurante de peixes e frutos do mar na cidade portuária marroquina de Asilah, emanava um ar rarefeito. Marroquinos elegantes usando grandes óculos escuros de grife se banqueteavam com peixe grelhado, enquanto um grupo de mulheres britânicas trocava beijos sem se tocar. Por toda parte, garçons de jaqueta branca e gravata borboleta preta percorriam entre as mesas com toalhas brancas, servindo garrafas de vinho branco resfriado e porções abundantes de moluscos frescos.

Apesar dessas cenas de glamour terem dado a Asilah a reputação de playground elegante da elite do Norte da África, há não muito tempo este ancestral porto fortificado, a cerca de 50 quilômetros de Tânger e diante do oceano Atlântico, era quase desconhecido.


Músicos tocam mistura de ritmos em Asilah, cidade marroquina reerguida por festival de arte Fotos Ingrid Pullar/NYT
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Os guias marroquinos escritos antes do final dos anos 70 apenas mencionavam Asilah de passagem, geralmente como uma curiosidade. Mas, nos últimos anos, a cidade velha de Asilah se tornou um destino clandestino de escapada para o jet set marroquino e europeu, que se esconde atrás das espessas portas entalhadas de suas exóticas casas de férias, descansando em terraços com teto azul com um livro em uma mão e um coquetel na outra.

O momento da mudança remonta a 1978, quando dois amigos locais —Mohammed Benaissa, um fotógrafo e diplomata, e Mohammed Melehi, um artista e curador— tiveram a idéia de convidar artistas para pintar murais nos muros que descascavam da cidade. Isso se transformou em um festival de artes de verão, com concertos flamencos, exposições de design e leituras de poesia, que atrai artistas e fãs de todo o Oriente Médio e do Ocidente.

O festival, o Moussem Cultural Internacional de Asilah, está atualmente entre os maiores encontros culturais do Norte da África, atraindo mais de 100 mil pessoas tão diversas quanto artistas berberes, a realeza saudita e colecionadores japoneses. Por dois meses começando em julho, Asilah se parece com Park City durante o Festival de Cinema Sundance: uma cidade pequena repentinamente tomada por uma mistura sofisticada de artistas e viajantes estrangeiros buscando se misturar e celebrar. Hotéis até mesmo em Tânger ficam lotados com meses de antecedência, assim como as casas com pátio islâmicas e andaluzes na cidade velha.

As pessoas vieram neste ano ouvir a cantora síria Waed Bouhassoun e uma rara apresentação de cantoras sufi da região montanhosa próxima de Chefchaouen, assim como para conhecer artistas como o pintor marroquino Farid Belkahia e a pintora japonesa Mizue Sawano.

Nada mal para o sonho compartilhado de dois amigos de infância de Asilah. Antes do festival, os muros da cidade estavam caindo aos pedaços e a cidade velha sofria com o acúmulo de lixo e com a indiferença. Agora Asilah é considerada uma das cidades mais limpas do Marrocos.

A cidade velha branca e resplandecente até mesmo recebeu o Prêmio Aga Khan de Arquitetura em 1989. Gemas restauradas incluem o Palácio da Cultura, um prédio semelhante a um forte com janelas verdes, um teatro deslumbrante e suítes opulentas onde os artistas visitantes ficam hospedados durante o festival. E, somados ao novo visual da cidade, estão os murais coloridos, presentes em quase toda esquina e renovados a cada ano por uma nova onda de artistas do festival.


Vista do Dar Malak, casa com três quartos à beira-mar que é alugada para temporada
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Mas os encantos de Asilah não ficam confinados ao festival. Quando cheguei em maio passado, a cidade parecia um barco a vela calmamente à deriva. Barcos de pesca azuis e brancos surrados batiam de leve no píer. Uma carroça puxada por burro avançava de forma barulhenta por ruas estreitas recém-varridas, seguida por grupos de turistas espanhóis e adolescentes marroquinas com lenços de cabeça entoando um alegre canto árabe.

Pela manhã, o som das ondas era trazido pela brisa por cima dos baluartes restaurados do século 15, se misturando aos ritmos das ruas sendo varridas e ao cheiro de pão saído do forno. No final da manhã, a ação se deslocava para as amplas praias douradas. Em uma sexta-feira quente, um pequeno grupo de meninos jogava futebol na areia compacta. Perto dali, um grupo de meninas pequenas gritava enquanto brincavam e jogavam uma às outras na água fria. Fora isso, as praias estavam vazias e pareciam se estender até Tânger.

Aqueles à procura de ainda maior solidão podem viajar cerca de um quilômetro costa abaixo. Certa tarde eu pedi a um guia local que me levasse até a praia Paradise, uma enseada cercada por penhascos a cerca de 30 minutos de distância por uma estrada de terra acidentada. Nós chegamos ao entardecer, quando a luz ficou da cor de mel e as cores do sol se desfaziam no horizonte. Meu guia apontou que durante o festival a praia fica coberta de tendas e barracas de alimentos. Agora, só havia três pessoas.

Mas, apesar de Asilah ser um lugar para refletir e ler um bom livro fora da temporada, ela não é um lugar ruim para se fazer compras. Diferente das feiras de Marrakech e Fez, onde é possível ficar atordoado diante do simples volume de coisas à venda, Asilah conta com apenas uma dezena de lojas de artesanato, mas cada uma é inteligentemente montada e um tanto incomum.

Caverna de Ali Babá

É possível passar horas apenas na Alkamra, uma verdadeira caverna de Ali Babá cheia de tesouros que seu proprietário, Mohammed Aziz Acharoui, obtém de todo o Norte da África. Itens recentes incluíam fortes máscaras de madeira, naturezas-mortas primitivas pintadas em vidro e um colar com de laranjas e turquesas do tamanho de bolas de golfe.

Acharoui também possui dois imensos depósitos fora da cidade velha, onde mantém objetos grandes, como fontes de bronze, para um círculo de designers e colecionadores internacionais.

De volta à cidade velha, o Bazar Atlas conta com uma seleção excelente de velhos tapetes berberes e cerâmicas de Tamegroute, nos Montes Atlas. Uma de suas clientes regulares é Françoise Dorget, uma designer que é dona da Caravane, em Paris, que vende móveis com inspiração marroquina. Dorget veio pela primeira vez a Asilah há 20 anos e se impressionou com o que chamou de "amontoado de formas geométricas ao estilo Paul Klee".

Ela continuou vindo com freqüência —e não apenas para fazer compras. Trabalhando com artesãos locais, Dorget transformou vários prédios velhos na cidade velha em elegantes casas de férias. Mas, apesar da valorização de Asilah, surpreendentemente não há hotéis dentro da cidade velha. Benaissa, o prefeito desde 1983, restringiu o desenvolvimento dentro dos muros antigos. Mas isso está mudando.

A cidade deu recentemente a Tomás Alía, um designer de Madri, a autorização para abrir o primeiro hotel dentro da cidade velha. Com inauguração prevista para dezembro, o Dar el Amal terá sete suítes de luxo, um terraço de cobertura com vista para o oceano e interiores marroquinos modernos.

Alía disse que dará uma festa glamourosa para celebrar a inauguração, completa com uma lista internacional de convidados, música andaluz e túnicas árabes. Mas depois disso ele manterá um clima discreto. Como a própria Asilah, ele preferirá que o Dar el Amal permaneça um segredo bem-guardado.

Para Chegar Lá
De Tânger dirija os 50 quilômetros até Asilah.

Onde Ficar
Até a abertura do Dar el Amal, em dezembro, ficar dentro da cidade velha significa alugar uma casa.

Há mais de 30 casas de férias listadas em Homelidays (www.homelidays.com), uma agência online de aluguel com sede em Paris. Recentes ofertas incluíam Dar Malak (no 45.628), uma casa com três quartos à beira-mar, com governanta e chef, por 600 a 900 euros por semana, ou cerca de US$ 920 a US$ 1.380, com o euro cotado a US$ 1,53. Uma casa de quatro quartos (no 74511), com vista para o mar e grandes terraços, custava de 800 a 1.600 euros por semana, dependendo da temporada.

Para um hotel de preço acessível fora da cidade velha, experimente o Patio de la Luna (Plaza Zelaka 12; 212-39-416-074; www.patiodelaluna.com). O hotel de sete quartos, bom para mochileiros, tem um pátio minúsculo e quartos simples a partir de 450 dirhans marroquinos, ou cerca de US$ 55, com o dólar cotado a 7,96 dirhans.

Onde Comer
Dois dos melhores restaurantes em Asilah ficam fora da cidade velha e são especializados em peixes e frutos do mar: Casa Garcia (Rue Moulay Hassan Ben el Mehdi 51; 212-39-417-465) e Casa Pepe (Plaza Zelaka 8; 212- 39-417-395).

Onde Comprar
O Bazar Atlas (Rue Tijara 25; 212-39-417-864) vende velhos tapetes berberes, tecidos e cerâmica da aldeia de Tamegroute.

Chinelos marroquinos modernos, faiscantes e coloridos, ficam enfileirados nas paredes da Tienda de Velas Bellas (Calle Sid M Barek).

O Alkamra (Rue de Commerce 10-12; 212-39-416-288) vende antiguidades singulares, incluindo colares de coral e pinturas de naturezas-mortas.

A Galeria de Arte Aplanos (Rue Tijara 89; 212-39-417-486; www.aplanosart.blogspot.com) exibe uma mistura de velhos mapas e obras de arte em papel.

A galeria Hakim (Sidi Benaissa 14; 212-61-799-535) expõe desenhos de artistas locais.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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