UOL Viagem

18/07/2008 - 16h14

Passeio a Punta Tombo, na Argentina, é surreal visita à morada dos pingüins

EDUARDO VESSONI
Colaboração para o UOL

Fotos Eduardo Vessoni/UOL

Pingüins em Punta Tombo, a maior colônia continental de pingüins do planeta

Pingüins em Punta Tombo, a maior colônia continental de pingüins do planeta

Certas atrações da província de Chubut, localizada no centro da Patagônia argentina, são fatais para os estereótipos quando o assunto são as terras geladas do país vizinho. Nada de paisagens brancas, estações de esqui em altas montanhas, nem turistas encapotados dos pés à cabeça. No lugar de tudo isso, excelentes praias para banho, passeios em alto-mar para mergulhos, extensas faixas da árida estepe patagônica, bosques petrificados e cidades em estilo galês são algumas das opções que o turista em busca de roteiros alternativos pode encontrar em uma das regiões com menor concentração de habitantes por quilômetro "rodado" do mundo.

No entanto, os pingüins (quem diria! Alguns estereótipos também se reforçam nessas bandas) parecem ter ignorado a máxima da densidade demográfica daquela região e, anualmente, se concentram no que se considera a maior colônia continental desses animais no planeta: a reserva de Punta Tombo, a mais importante da espécie.

Todos os anos, entre os meses de agosto e abril, a pingüineira serve de moradia para mais de 500 mil dessas pequenas aves do tipo Magalhães. Filhotes e adultos disputam cada centímetro da fina faixa de 3,5 km que invade o mar e chega a abrigar uma população de até um milhão de pingüins no auge da temporada.

Em Punta Tombo, declarada Área Natural Protegida em 1979, emociona ver esses pequenos animais em seu habitat natural circulando entre os vistantes. Logo na entrada, é possível encontrar um ou dois aquecendo-se próximos aos arbustos baixos e raízes, que utilizam para esconderem-se dos predadores.

Economize memória de sua máquina. O que se verá a alguns metros mais a frente é impressionante: serão milhares deles, sem nenhum exagero, por todos os lados, inclusive obstruindo a sua passagem. Afinal, somos nós os invasores. Ao longo de todo o percurso permitido ao visitante, placas advertem que os pequeninos têm prioridade, e eles parecem se aproveitarem dessa condição. Em alguns trechos, os visitantes ficam "encurralados" entre arbustos mais altos e um grupinho aquecendo-se em frente. A saída é procurar outras alternativas para seguir caminho.

O turista fica mesmo sem saber para onde apontar os olhos, pois há inúmeras opções de atividades acontecendo ao mesmo tempo: centenas cruzando o nosso caminho de forma desajeitada, enquanto outros buscam comida nas águas frias do oceano Atlântico; fêmeas alimentam seus filhotes nos perfeitos ninhos construídos pelos machos; e famílias inteiras paradas à nossa frente nos recepcionam, com seus bicos voltados para o céu, em seus perfeitos "smokings" na melhor versão do mordomo patagônico. Isso sem contar a visita inesperada de interesseiras aves que sobrevoam as nossas cabeças de olho nos filhotes que acabam de deixar seus ovos e que também dividem espaço com uma espécie de lhama local (o guanaco), que é encontrada em toda a meseta patagônica. Acrescente-se a tudo isso o sol escaldante que pode levar os termômetros a 35º no verão. Chega a ser tão surreal e improvável quanto um desenho animado.


Entre os meses de agosto e abril, a pingüineira serve de moradia para mais de 500 mil pingüins, em Punta Tombo
VEJA MAIS FOTOS DE PUNTA TOMBO, NA PATAGÔNIA ARGENTINA


São tantos pingüins, e a tão pouca distância, que a tentação de tocá-los ou segurá-los nos braços é quase incontrolável. Mas estamos terminantemente proibidos de fazê-lo, até porque os simpáticos pingüins não seriam tão receptivos a afagos humanos.

Os carinhos e os cuidados são reservados mesmo à sua fêmea e às suas crias. A partir do mês de agosto, começam a "desembarcar" na estreita faixa pedregosa da reserva os primeiros machos para limparem os ninhos utilizados na temporada anterior pelos mesmos casais e esperarem as fêmeas que chegarão dias depois.

Monogâmicos, dividem com suas eternas parceiras a tarefa de chocar os ovos postos em outubro e que darão vida aos primeiros filhotes que começarão a aparecer no mês seguinte. A dedicação dos machos impressiona até as mulheres mais independentes.

A chegada desses pequenos animais à praia de Punta Tombo nem sempre se dá de forma elegante. Muitos chegam capotando pelas pedras trazidos pelas fortes ondas que completam o visual dessa reserva, mas as cadeias de televisão de todo o mundo, que fazem vigília para mostrar esse momento único, pouco se importam com a desarmonia do desembarque. Começa-se então um período de muito trabalho para os pingüins e de muita emoção para o visitante.

Por isso, deve-se escolher bem a época para visitar Punta Tombo, pois a reserva permanece praticamente vazia durante o inverno argentino. Esses excelentes nadadores e dedicados pais chegam a viajar 8 mil quilômetros até a região para o início do ciclo reprodutivo e preservação de sua espécie, depois da temporada invernal no sul do Brasil. Em outubro, as espécies chocam seus ovos por até 45 dias até nascerem os primeiros filhotes em novembro. A partir de janeiro, os novos habitantes deixam seus ninhos e começam a mudar a plumagem. Entre março e abril inicia-se o fim da temporada para os visitantes, quando os pingüins começam a migrar para o norte.

A espécie Magalhães, conhecida também como "pingüim do Sul", atinge 50 cm de altura em sua fase adulta e é conhecida por suas inconfundíveis plumagens brancas e pretas, que funcionam como camuflagem durante suas longas travessias marítimas. Essa espécie procura as águas frias do continente sul-americano localizadas nas costas da Argentina, Chile e Ilhas Malvinas, mas muitos animais decidem ficar mesmo em Punta Tombo pela possibilidade de montarem seus ninhos em um local seguro e próximo ao mar.

Como chegar

Os pingüins invadem a região pelo mar sem muitos percalços, já o visitante que chega por terra deve redobrar a atenção no volante. Para se chegar à entrada da reserva, são percorridos 38 quilômetros em estrada de rípio, essas pequenas pedrinhas que não se cansam de bater na lataria e, às vezes, trincar pára-brisas dos automóveis.

De Puerto Madryn, a 1.310 km de Buenos Aires, toma-se a Ruta Nacional 3 em direção ao Sul até a intersecção dessa com a ruta Provincial 1. Dali, são 107 km mais de estrada cruzando fazendas particulares "escondidas" na aridez da Patagônia. Ao todo, são 180 km de viagem de uma bela viagem que já vale pelo visual que aparece do lado de fora do carro. Já para o turista que não conta com locomoção própria, a saída é contratar as excursões (150 pesos argentinos, aproximadamente), que saem das inúmeras agências à beira-mar de Puerto Madryn.

Para quem está na região, outras opções de turismo valem a viagem como a visita à cidade Gaiman com suas tradições européias e seu típico chá galês; a surpreendente Puerto Pirámides e a vizinha Península Valdés; mais ao sul, encontram-se também os Bosques Petrificados de Jaramillo, onde imensos troncos de árvores petrificadas repousam há 150 milhões de anos.

Já quem esteve entre pingüins durante todo o dia dificilmente conseguirá esquecer a experiência única. Depois disso, só mesmo em desenhos animados.

SERVIÇO:

Área Natural Protegida Punta Tombo
Está em uma área de 210 hectares e se localiza a 110 quilômetros das cidades de Rawson e Trelew, no centro-leste da Província de Chubut.

Visitas: O acesso à reserva está condicionado à chegada dos primeiros pingüins à região entre os meses de agosto e setembro. Por isso, confirme antes de sair em direção a Punta Tombo.

Entrada: O acesso à reserva custa cerca de 30 pesos argentinos por pessoa. Há estacionamento gratuito ao lado da portaria principal.

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