UOL Viagem

24/04/2008 - 21h32

Maragogipinho, na Bahia, produz peças de barro e argila que encantam turistas

GABRIEL NORONHA
Colaboração para o UOL, em Nazaré (BA)
Divulgação
Bonecas de barro em exposição na Feira de Caxixis, evento com 300 anos de tradição
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Todos os verões, bonecas, imagens sacras, animais, sandálias, cofres em formato de porco, panelas, abajures e diversos outros utensílios domésticos fabricados à base de barro, argila e palha encantam turistas que viajam pela Bahia. Na venda desses artigos, que impressionam em especial os estrangeiros, está a base da economia de lugarejos como Maragogipinho.

No pequeno distrito do município de Aratuípe, a 222 km de Salvador, que reúne uma população de aproximadamente 2,1 mil habitantes, 95% das famílias sobrevivem dos produtos fabricados à base de barro e argila, segundo estimativa da Associação de Auxílio Mútuo dos Oleiros de Maragogipinho (Amom).

Os oleiros, como são chamados os artesãos que fabricam as peças, aprendem o ofício desde cedo, numa arte que é passada de pai para filho. Anderson Mota, 21, descobriu como esculpir o material que vende em feiras livres e às margens da BR-101, no Recôncavo Baiano, com o avô. "Comecei a fazer meus primeiros trabalhos aos 11 anos e, no futuro quero ensinar o ofício aos meus filhos e netos".

Alane dos Reis, 18, também é oleira desde cedo. Os primeiros passos foram dados pela jovem a partir dos seis, com o pai e a mãe que sempre tiraram o sustento da família com a atividade. Apesar de ter orgulho do trabalho, ela espera mais reconhecimento. "É uma atividade em que colocamos um pouco da nossa alma e nem sempre a gente ganha o que merece em troca".

Os produtos fabricados em Maragogipinho têm presença garantida nas feiras locais, nos mercados populares de Salvador e chegam a ser vendidos nos estados do sudeste e exportados para a Europa. Apesar disso, nem sempre os oleiros conseguem cobrir os custos de produção. O diretor da associação que representa os artesãos, Jucival Araújo, 36, reclama do baixo valor pago pelos atravessadores, que representam uma boa fatia do mercado consumidor. "Muitas vezes nossas peças saem daqui por menos de R$ 0,50".

Apesar das dificuldades, os oleiros da pequena localidade do Recôncavo Baiano comemoram um importante feito conquistado este ano. Em fevereiro, com a ajuda de técnicos do Sebrae, a Associação de Auxílio Mútuo dos Oleiros de Maragogipinho conseguiu fechar um contrato de R$ 11 mil com uma importante rede nacional de lojas especializadas em decoração. "Garantimos de uma só vez a comercialização de mais de mil peças. Com isso, vamos poder investir em capacitação e aquisição de novos equipamentos", diz Araújo.

A Feira de Caxixis
Segundo Araújo, existem apenas dois períodos do ano em que os produtos fabricados no lugarejo são "bem vendidos": durante o verão, quando o povoado recebe turistas da Bahia e de outros estados, e durante a tradicional Feira de Caxixis, realizada há 300 anos durante a Semana Santa, em Nazaré, a 216 km da capital baiana. "Durante essas épocas do ano, cada família fatura de dois a três salários mínimos, mas no resto do ano elas passam por situações financeiras muito difíceis", conta.

A Feira de Caxixis é a principal vitrine das peças produzidas pelos oleiros de Maragogipinho. De acordo com informações da Secretaria de Turismo do município, cerca de 90 mil pessoas visitam os boxes da exposição e os imóveis do século XVIII durante os quatros dias de realização do evento. No total, 250 expositores que participaram da feira.

Apesar da chuva que caiu na cidade durante a última Semana Santa, espantando boa parte dos tão esperados turistas, o evento atraiu expositores de outros municípios. Um deles foi Miro Cerqueira, que saiu de Irará, a 133 km de Salvador. O oleiro, que também dá aulas de artesanato a jovens carentes da sua cidade, levou peças cujos preços variam de R$ 8 a R$ 20.

Entre os itens mais caros à venda na Feira de Caxixis estão as imagens sacras, produzidas pelos santeiros de Maragogipinho. Uma imagem vendida a preço significativo, por exemplo, é a réplica do Cristo que fica na saída da cidade, vendida pelos oleiros a R$ 600. Já a escultura de São Francisco de Assis, que mede 1,70 m, chega a custar R$ 2 mil, sem direito a pechincha.

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