UOL Viagem

20/12/2007 - 19h28

Concurso escolhe o melhor carrinho de café das ruas de Salvador

TALES VELLOSO
Especial para o UOL

Tales Velloso/FootPress

Vencedor do 13º Concurso de Carros e Guias de Cafezinho

Vencedor do 13º Concurso de Carros e Guias de Cafezinho

Quando o serralheiro Benedito Vieira de Sena, 35, estacionou no Mercado Modelo com seu carrão, já estava na cara que não teria pra ninguém. Aparelhos de TV e DVD, som estéreo com controle remoto, duas baterias e adesivos do Homem Aranha cobrindo toda a carroceria fizeram jus aos seis meses de trabalho e aos R$ 4.000 de investimento, dividido com o patrão e os amigos da empresa onde trabalha.

"Nunca tinha passado por isso em toda a minha vida", disse Sena, ao ser cercado por repórteres, câmeras e fotógrafos logo após o anúncio do título de campeão do 13º Concurso de Carros e Guias de Cafezinho, organizado pela Associação Viva Salvador e apoiado pela Fundação Gregório de Mattos, ligada à Prefeitura de Salvador.

O prêmio do vencedor não foi muito diferente do recebido pelos outros 53 participantes do evento. Garrafa térmica, pacotes de café, leite e chocolate, copinhos descartáveis, enfim, tudo aquilo que um vendedor de café precisa para trabalhar.

Mas o objetivo foi cumprido: aplicar uma dose de injeção de ânimo para uma categoria de trabalhadores que ganha a vida vendendo doses de café a 30 centavos. "Não tenho do que reclamar. Sobrevivo honestamente", orgulha-se Roberval Nascimento, 30 anos, que tira R$ 500 por mês vendendo uma média de 300 copinhos de café por dia.

Assim como ele, a maioria dos concorrentes faz do carrinho o seu único, ou principal, ganha-pão. Ao contrário do primeiro colocado, que só desfila com o "Aranha" aos finais de semana, para reforçar o orçamento. "Recebi uma oferta de R$ 5.000, mas não vendi. Estou esperando aumentar um pouco mais", diz Sena.

Pode parecer estranho, mas vender carrinho de café transformou-se num grande negócio. Que o diga Paulo Cesar de Jesus, 39, que já vendeu carrinhos para o Museu Afro do Brasil e para um turista estrangeiro, ambos por R$ 2.000, e alugou outro para as filmagens de "Ó Pai, Ó", longa-metragem de Monique Gardemberg totalmente rodado nas ruas do centro histórico de Salvador.

O criador do evento, o francês Dimitri Ganzelevitch, 62, vê com bons olhos a comercialização dos carros de cafezinho. "Esse concurso ajudou a mudar a percepção que os próprios vendedores têm de seu instrumento de trabalho. Hoje eles são vistos como obras de arte e vendidos como tal", argumenta.

Radicado há 30 anos na Bahia, presidente da Associação Viva Salvador, Dimitri convocou um júri composto em sua maioria por artistas para escolher os vencedores.

Ele reclama da falta de apoio e de patrocinadores. "Não gasto menos de R$ 7.000 para organizar esse concurso. E, mesmo quando tenho apoio, acabo tirando do próprio bolso", reclama. "Existe uma total aculturação do empresariado baiano", critica.

Nos 20 anos em que organiza o concurso, Dimitri teve de abrir mão de sete edições por falta de verba de patrocínio. Para acabar com essa insegurança, a Fundação Gregório de Mattos estuda para depois do Carnaval a formação de uma espécie de um grupo musical performático de vendedores de cafezinho. "A idéia é fazer evoluções tocando de Strauss a arroxa", diz o presidente da FGM, o compositor erudito Paulo Costa Lima.

Compartilhe: