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21/03/2007 - 21h36

Chapada Diamantina tem trilhas, poços, cachoeiras e festas populares

CRIS GUTKOSKI
Colaboração para o UOL

Cris Gutkoski/UOL

Cachoeira do Poço do Diabo, no rio Mucugezinho, a 18 km de Lençóis

Cachoeira do Poço do Diabo, no rio Mucugezinho, a 18 km de Lençóis

PARQUES

Criado em 1985, o Parque Nacional da Chapada Diamantina possui 152 mil hectares. Cidades como Lençóis, Mucugê, Igatu e Palmeiras têm boa parte de suas terras dentro dele. Na vegetação diversificada se encontram campos rupestres (orquídeas e sempre-vivas sobre as rochas), caatinga, matas circundando os rios e capões de mata. Cactos, umbuzeiros e palmeiras se destacam na área seca. As principais atrações da Chapada Diamantina, composta por 57 municípios, estão dentro do parque, como o Vale do Paty e a Cachoeira da Fumaça, nos arredores, como o Poço do Diabo, ou mesmo distantes, como Gruta Azul e Lapa Doce.

Com 540 hectares, o Parque Municipal de Mucugê abriga o Projeto Sempre Viva, de preservação e pesquisa da flora, e o Museu Vivo do Garimpo. Suas trilhas levam a cachoeiras e poços para banho. Criado em 1999, o parque recebeu cerca de 14.000 visitantes em 2006, dos quais 8.000 estudantes, e prepara infra-estrutura para esportes radicais com recursos da Unesco. Mais informações no tel: (0 XX 75) 3338-2156 e no site www.projetosempreviva.com.br.

Passeio básico, a subida do Morro do Pai Inácio dura cerca de 20 minutos e descortina um cenário deslumbrante de montanhas, a uma altitude de quase 1.200 metros. Segundo a lenda, o escravo Pai Inácio se apaixonou por sinhazinha, precisou fugir e, descoberto no alto do morro, saltou com a sombrinha da amada. Alguns guias fazem uma dramatização divertidíssima da história triste lá no alto das pedras O cartão-postal fica no Parque Natural Municipal Morro do Pai Inácio, área sob intervenção judicial e administrada por ambientalistas. Visitas das 9h às 17h, somente com condutor credenciado.

CACHOEIRAS

São dezenas delas, e dá para escolher de acordo com a proximidade ou facilidade de acesso. A mais imponente e famosa é a da Fumaça, no Vale do Capão, vista do alto após trilha de 6 km, com subida íngreme na largada. As águas caem de altura superior a 300 metros e não tocam o chão. Um percurso mais difícil, para ver esse espetáculo por baixo, dura três dias.

No sul do parque da Chapada, em Ibicoara, fica a Cachoeira do Buracão, com 85 metros de altura. Uma trilha plana, de 3 km, leva ao seu topo, caminhando entre bromélias, cactos e rios caudalosos quando chove. Vale a pena descer o cânion para banho. É ponto de rapel também. Em Mucugê, dentro do parque municipal, há trilhas para as cachoeiras de Piabinhas e Andorinhas, ambas com 10 metros de altura, e Tiburtino, esta uma seqüência de quedas d´água.

Sem sair de Lençóis, o visitante pode conhecer a Cachoeira do Sossego. A trilha pelo leito do rio Ribeirão tem 7 km. Ribeirão do Meio e a cachoeira do Escorrega são atrações nas proximidades. Perto do centro da cidade, no rio Serrano, estão a Cachoeirinha e a Primavera, freqüentadas por famílias com crianças. Na trilha há poços para banho e o Salão de Areias.

POÇOS

Com 98 metros de comprimento e 49 metros de largura, protegido numa caverna, o Poço Encantado foi descoberto nos anos 40 por um caçador que acreditava seguir uma onça ao seu esconderijo. Ele se deparou com água cristalina e atribuiu a um encanto a coloração azul do poço. Os guias explicam que o calcáreo pulverizado das rochas carbonáticas pinta este cenário fantástico, com tonalidades ainda mais intensas de abril a setembro, quando um raio de luz atravessa a fresta, se divide em várias faixas na água e faz o teto refletir o azul. Fica em Itaetê, a 150 km de Lençóis, e a descida à caverna é complicada, exige capacete e cuidados para não deslizar. A água é transparente, deixando ver as rochas a dezenas de metros de profundidade. Nas bordas, de longe, porque os banhos foram proibidos pelo Ibama.

No Poço Azul, escadas facilitam o acesso e é permitido aos turistas flutuar com coletes, apenas movimentos lentos para não agredir o santuário ecológico. O guardião do poço, Israel Braga, explica que pesquisadores localizaram na gruta fósseis de preguiça gigante, mamute, gambá pré-histórico e tigre de dentes-de-sabre, informações que serão complementadas, na saída da gruta, por um documentário exibido nas proximidades do restaurante. As imagens mostram os trajetos de mergulhadores e de um raro habitante das trevas submarinas, o bagre albino, um peixe cego que se movimenta por antenas. O Poço Azul fica em Nova Redenção, a 67 km de Andaraí.

O Poço do Diabo ganhou este nome por dois motivos: as águas avermelhadas do rio Mucugezinho e a fúria sanguinária dos coronéis do garimpo, que jogariam ali os escravos fugitivos. A trilha até o banho lá embaixo pode ser percorrida em meia hora, mas a área merece mais tempo para ser desfrutada. Há um ótimo poço para nadar e mergulhar, com pequenas corredeiras servindo de hidromassagem, nas proximidades do bar, que também recebe a visita de macaquinhos. Pedindo com antecedência, a dona do bar prepara almoço caseiro. E quem preferir pernoitar conta com a Pousada Ecológica Oásis, com acomodações em caverna. Fica a 18 km de Lençóis.

FESTAS E FESTIVAIS

O Festival de Inverno de Lençóis prepara a sua nona edição, em 2007, de 28 de julho a 4 de agosto. Milhares de moradores e turistas tomam as ruas do centro histórico para ver os shows de artistas e bandas nacionais como Ana Carolina e Pato Fu. Como diz um dos idealizadores do festival, Marcos Pedreira, "a Bahia não é só litoral, existe um inverno gostoso aqui na serra".

Também no inverno, as festas juninas são celebrações especiais em Lençóis e Mucugê, com muito forró, comida típica e procissões no amanhecer, conduzidas pelas bandas locais, as chamadas liras. No vilarejo de Remanso, reconhecido como remanescente de quilombo, a festa do padroeiro São Francisco leva cantorias, danças e oferendas até os barcos no rio, em setembro. Outra celebração bastante aguardada em Lençóis é a Noite dos Garimpeiros, em janeiro, com procissão, banda e quermesse.

TRILHAS E ESPORTES RADICAIS

Na Chapada existem trilhas até para ir ao banheiro, especialmente se ele for improvisado no mato, o "matoalete" ou "banheiro ecológico". Além das trilhas básicas para alcançar uma cachoeira ou o topo de uma montanha, as caminhadas de longa duração desafiam aventureiros com maior preparo físico. O Vale do Paty, na serra do Sincorá, proporciona uma das trilhas mais famosas e difíceis, com saída desde o Vale do Capão, para três ou cinco dias. Rotas mais tranqüilas vão de Igatu a Andaraí, com cerca de cinco horas cada, pela margem do rio Xique-Xique, ou de Lençóis até Capão, passando aos pés do Morrão. Mais informações sobre trajetos especiais com as Associações dos Condutores de Visitantes: em Lençóis, tel: (0 XX 75) 3334-1425; em Andaraí, tel: (0 XX 75) 3335-2255; no Vale do Capão, tel: (0 XX 75) 3334-1087.

Escaladas, off-road, rapel, mountain bike, tirolesa, rafting, bungee-jump, cavejump, caiaques e passeios a cavalo são modalidades oferecidas por agências de turismo na Chapada Diamantina, praticadas em cartões-postais como o Morro do Camelo e a Cachoeira do Buracão. O rafting não é muito praticado porque o volume dos rios é instável. O agendamento requer paciência: chuvas fortes na véspera podem cancelar o programa. Mais informações com os guias locais e nas agências Nativos da Chapada, tel: (0 XX 75) 3334-1314 e H2O Expedições, tel: (0 XX 75) 3334-1229, em Lençóis.

GRUTAS

São cerca de 100 as grutas catalogadas na região. Iraquara, ao norte de Lençóis, concentra a maior parte e também as mais visitadas. Lá está a gigante Lapa Doce, com 27 km de extensão mapeados e 850 metros abertos para visitação, trecho vizinho de um lago subterrâneo com mais de 130 metros de profundidade, segundo pesquisas conduzidas pela USP (Universidade de São Paulo). No trajeto, o lampião dos guias vai iluminando formações de estalagmites e estalactites que lembram falos, águas-vivas, e mesmo um piano nascido da rocha.

A caverna da Torrinha guarda o Salão das Flores, modeladas em aragonita, e a Passagem da Francesa, fenda descoberta por uma espeleóloga que espichou a caverna em mais 13 km. Na Pratinha a principal atração é o banho em águas cristalinas, com colete para flutuação, às vezes na companhia de tartarugas e peixes.

LUGARES HISTÓRICOS

O centro histórico de Lençóis foi tombado pelo Iphan nos anos 70 e várias de suas casas coloniais com lampiões na fachada foram restauradas na virada para o século 21. São ruas tranqüilas, de pedras, onde os gatos dormem profundamente nas janelas e os cães nem sempre se mexem para os automóveis passarem. Na praça Otaviano Alves, um casarão branco com leões nos pórticos e troféu no teto, sinais de poder e ostentação no passado de riqueza, abriga a Secretaria de Turismo e deve virar Museu da Cidade em breve.

Em Mucugê, valem a visita a Igreja Matriz de Santa Isabel, datada de 1886, e o Cemitério Bizantino, com seus túmulos brancos cravados nas rochas desde 1855, quando a mineração do diamante estava no auge. Ponto turístico, o cemitério tem iluminação especial à noite.
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*A jornalista Cris Gutkoski viajou a convite das prefeituras de Lençóis e Mucugê e do Hotel Portal Lençóis
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