UOL Viagem

09/03/2007 - 22h54

Livro revela a arte pré-histórica e denuncia falta de preservação dos sítios arqueológicos no Brasil

GABRIELA BELÉM
Colaboração para o UOL

Marcos Jorge

Serra da Lua, Monte Alegre (PA)

Serra da Lua, Monte Alegre (PA)

Os interessados em artes, arqueologia, geologia, ecoturismo ou turismo cultural já podem ter uma coletânea de imagens ricas e inéditas das pinturas e gravuras executadas por populações indígenas antepassadas no Brasil.

Lançado na última terça-feira (6), o livro "Brasil Rupestre - Arte Pré-Histórica Brasileira" denuncia, sobretudo, a falta de preservação dos sítios arqueológicos nacionais e o quanto não se sabe sobre o passado do país antes da chegada dos invasores europeus. Os arqueólogos divergem sobre a datação dos primeiros registros no país - entre 10 mil e 30 mil anos atrás.

O cineasta e artista plástico Marcos Jorge, o doutor em pré-história pela Sorbonne André Prous e a doutora em arqueologia pela USP Loredana Ribeiro percorreram mais de cem sítios arqueológicos, distribuídos em 32 municípios de 15 Estados brasileiros, focados no tema da arte pré-histórica.

A obra é mais um tratado científico e artístico sobre a arte pré-histórica do que um guia para o conhecimento dos sítios arqueológicos. Não existem indicações para se chegar aos locais, e muitas áreas estão restritas às pesquisas de arqueólogos. A maioria dos sítios não tem infra-estrutura turística.

Apenas quatro conjuntos de sítios rupestres foram tombados em nível federal: Pedra do Ingá (PB), Serra da Capivara (PI), Lapa da Cerca Grande (MG) e Ilha do Campeche (SC). Empresas e ONGs também cuidam dos sítios da Praia do Santinho (SC) e da Lapa do Ballet (MG). Estes sítios recebem visitações do público em geral.

A obra divide-se em duas partes: "Imaginário" (fotos) e "Vocabulário" (textos). Na primeira, existem belas fotos e um texto de Marcos Jorge. Na segunda, Pedro Ignácio Schmitz explica detalhadamente cada sítio visitado e as relações antropológicas com os hábitos e costumes das populações indígenas atuais. Segundo ele, os Estados do Centro-Oeste e do Nordeste possuem os acervos rupestres mais ricos e diversificados do continente.

O livro revela os possíveis significados dos temas e formas de arte rupestre no Brasil. Figuras antropomorfas (humanas) e zoomorfas (animais) predominam nas pinturas e gravuras. Há representações, sobretudo, de caça e guerra, e outras poucas sobre pesca, coleta e música. Sabe-se também que muitos conjuntos de figuras geométricas, por exemplo, sugerem representações celestes. No Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), que possui mais de mil sítios registrados, há um forte erotismo nas figuras.

Um dos prazeres em conhecer os desenhos é "viajar" pelo imaginário dos nossos antepassados, embora o significado dos grafismos talvez nunca seja definido, dizem os autores. As indagações sobre as figuras permeiam toda a narrativa e se repetem na descrição de cada sítio.

Com uma boa contextualização geológica dos locais onde se encontram os sítios, a obra deixa a desejar no quesito geográfico. No mapa de apresentação, nem mesmo a distância dos sítios até as capitais dos Estados está descrita.

Tudo em papel couché, com tradução para o inglês.


BRASIL RUPESTRE - ARTE PRÉ-HISTÓRICA BRASILEIRA

Autores: Marcos Jorge, André Prous e Loredana Ribeiro. Textos de Pedro Ignácio Schmitz
Editora: Zencrane Livros
Páginas: 272
Quanto: R$ 150

Compartilhe: