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Edição: Memórias de viagem

Hardanger: fiordes começaram a ser escavados na última era glacial

Noruega

Era uma vez

Um país com árvores de maçãs, casinhas salpicadas nos campos e impressionantes fiordes. Um lugar onde nevoeiros se confundem com as lendas dos vikings

Por
Chantal Brissac

Hardanger: fiordes começaram a ser escavados na última era glacial

Era uma vez um país que parece tirado de um conto de fadas. Um país de clima extremo, montanhas que surgem dos mares limpos e gelados e invadem os campos com plantações de cerejas, framboesas e maçãs. Era uma vez um país que mistura a sua história com a saga dos intrépidos navegantes guerreiros e saqueadores, os lendários vikings.


Viajar para a Noruega é uma experiência sensorial. Esse pequeno território -324 mil km2, com 4,6 milhões de pessoas-, situado no norte do mundo, apresenta um cenário ideal para a maioria dos contos de fadas ou sagas de aventuras e combates.


É um lugar de sonho, com casinhas coloridas (as janelas emolduradas com cortinas de renda) dispostas em campos verdíssimos recortados por lagos de água límpida, rios e montanhas.


Macieiras espalhadas pelas ruas e estradas, nas quais é possível pegar a fruta no pé (mas ninguém pega); casas que se estendem em jardins, sem muros e barreiras; água limpa em qualquer lago, fiorde, rio ou riacho (bebe-se água da torneira); ar puro; educação de qualidade e gratuita até o ensino superior...


A preservação da natureza faz parte da cultura, bem antes de o tema se tornar alvo de preocupação mundial; apenas 4% da área da Noruega é ocupada

Para um brasileiro, que convive com o caos urbano -e outras "cositas" mais-, a Noruega é o avesso do avesso do avesso, especialmente se observada pelo ângulo da ordem e da organização social. Ela possui o melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do planeta e é um excelente exemplo de democracia e respeito aos bens coletivos como o espaço urbano e o meio ambiente.


Muito tempo antes de o termo fazer parte da agenda internacional, o país já se preocupava em preservar suas riquezas. O resultado desse investimento histórico se vê por todo o canto da chamada Terra do Norte: apenas 4% de seus recursos naturais foram usados para a construção de cidades; os outros 96% são mares, fiordes, rios, cachoeiras, montanhas, matas e terras protegidos.


Patrimônio mundial

A fauna e a flora da Noruega não possuem a mesma pujança que a de um país tropical como o nosso. Entretanto, nela vive uma magia única, pois a vegetação teve que se adaptar às condições extremas de frio, luz e calor e permeia as encostas agrestes e os lagos gelados. É a terra do alce, símbolo nacional, que vagueia imponente com a sua galhada na época do acasalamento e luta há milênios para sobreviver aos rigores do tempo.


É a distante terra do Sol da meia-noite, da aurora boreal e dos longos invernos, do ritmo de vida regulado pelo clima severo na estação do frio e ameno nos definidos verões.


Na Noruega, não somente o corpo viaja, mas a imaginação também. Sentar-se à beira de um penhasco e observar a grandeza de um fiorde, sentir a maresia fria invadir as narinas e ter os cabelos balançados pelo vento são coisas que fazem qualquer cidadão planetário agradecer a Deus pela existência e sonhar com um mundo melhor.


Em relação à beleza do lugar, só há uma palavra: deslumbrante. Os fiordes formam uma paisagem magnânima, com as paredes sensacionais de penhascos e montanhas com picos gelados. Geleiras persistem até no verão e as águas claras são convites a um banho de rio ou de cachoeira.


NTC Brasil/Divulgação
Fiorde de Geiranger, um dos
pontos mais visitados da Noruega

O passeio por esses braços de mar é inesquecível. Alguns fiordes chegam a ter mais de 1.300 m de profundidade. Eles começaram a ser escavados na última era glacial, quando o degelo profundo abriu fendas que, depois de 12 mil anos, foram preenchidas pelo mar.


Um dos mais impressionantes é o fiorde de Geiranger, desde 2005 incluído no rol de patrimônios mundiais da Unesco, um dos lugares mais visitados da Noruega. Quem não tem medo de altura pode arriscar a subida a uma das rochas mais altas, de onde se avista o percurso ondulante do fiorde, com 16 km de comprimento. Por todo lado se vêem montanhas altíssimas forradas de cachoeiras, entremeadas por vilarejos de casas.


Freqüentado por reis e rainhas, o Union Hotel, erguido em 1891, é uma referência local, com sua decoração clássica e cozinha impecável. Aliás, a gastronomia norueguesa é um capítulo à parte, com a sua coleção de salmões, arenques defumados, carnes de caça dos bosques e frutos do mar. Para acompanhar, saladas frescas, batatas e legumes. Molhos diversos, à base de mostarda e especiarias, não costumam faltar à mesa.


Além do Union, a rota dos fiordes é contemplada por vários hotéis confortáveis e de excelente cozinha, todos dirigidos por famílias há várias gerações. Um deles é o Alexandra, em Loen, instalado entre um lago verde-esmeralda e um fiorde turquesa. Seu spa é referência, com tratamentos de beleza requintados. Outro é o Ullensvang, em Lofthus, administrado pela família Utne desde 1846, onde o compositor Edvard Grieg costumava se hospedar e teve inspiração para muitas de suas músicas.


Cada um é plantado em um vilarejo mais lindo que o outro, lugares que instigam até o viajante mais preguiçoso a caminhadas ou corridas: o ar puro e a energia locais são estimulantes.


A Noruega é um país que pode ser visitado em variadas épocas do ano. Mesmo no frio intenso do inverno há atrações, como o espetáculo da aurora boreal, quando os ventos árticos encontram-se com a atmosfera terrestre e produzem luzes difusas e lampejos coloridos.


É um país que tem, além da rota dos fiordes, cidades encantadoras, como Oslo, a capital, e Bergen, centro de cultura, arte e comércio, metrópole portuária onde se constata a paixão e o respeito dos noruegueses pelo mar. Um país para mergulhar na história dos vikings. No Museu da Navegação Viking, construído em 1936, é possível ver três embarcações funerárias do século 9. Era uma vez um país de sonho. Era uma vez um país que deu certo.


Chantal Brissac é jornalista e viajou a convite do The Prominent Hotels of the Fjords e da Bislet Limousine, com o apoio da Klm-Air France.

Hotéis

Union Hotel
Tel. (00/xx/47/70)
268-300 www.union-
hotel.no
Diárias a partir de US$ 160.
Kvikne's Hotel
Tel. (00/xx/47/57)
691-101 www.
kviknes.no
Diárias a partir de US$ 160.
Solstrand
Fjord Hotel
Tel. (00/xx/47/56)
571-100 www.
solstrand.no
Diárias a partir de US$ 300.
Hotel Alexandra
Tel. (00/xx/47/57)
875-000 www.
alexandra.no
Com spa, a partir de US$ 220.
Hotel Ullensvang
Tel. (00/xx/47/53)
670-000 www.hotel-
ullensvang.no
Diárias a partir de US$ 250.
Hotel Continental
Tel. (00/xx/47/22)
824-000 www.hotel-
continental.no
Em Oslo, diárias a partir de US$ 400.