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Centro cultural da Índia, a charmosa Calcutá preserva seu passado

New Market da Lindsay Street continua atraindo multidões em Calcutá, na Índia - Kuni Takahashi/The New York Times
New Market da Lindsay Street continua atraindo multidões em Calcutá, na Índia Imagem: Kuni Takahashi/The New York Times

Dan Packel

New York Times Syndicate

06/04/2013 07h45

Quando se fala do ressurgimento da Índia contemporânea, praticamente não se menciona Kolkata, também conhecida como Calcutá, a capital do estado de Bengala Ocidental e sede do poder durante o Raj britânico. Há muito sua influência política se mudou para Nova Déli, é verdade, e a econômica, mais recentemente, para Mumbai; entretanto, a reputação de centro intelectual e cultural permanece – cinco Prêmios Nobel estão associados à cidade, incluindo o economista Amartya Sen e o poeta-novelista-pintor-compositor Rabindranath Tagore.

Porém, como o resto do país, essa cidade barulhenta, mas charmosa, está mudando: em 2011, o partido comunista que governou o estado durante 34 anos não foi reeleito. Para muitos, essa transição política reflete o desejo de acompanhar o resto da Índia. Quem visita a Calcutá de hoje tem o privilégio de testemunhar uma modernidade urbana emergente, mas, ao mesmo tempo, pode explorar seu passado rico que ainda surge em cada esquina.

Sexta

15h - A sede do poder
Conhecida durante a era colonial como Praça Dalhousie, a B.B.D. Bagh fica no centro político de Calcutá. Desvie dos camelôs que vendem omeletes e dosas para admirar os prédios coloniais onde antes eram realizadas as atividades administrativas e comerciais com a Grã-Bretanha. Entre eles o destaque fica para o Writers Building, na parte norte, um edifício de tijolos vermelhos e colunas construído em 1776 e que funciona como a sede do poder atual, nas mãos do partido Congresso Trinamool.

17h30 - Parada na galeria
No início do século 20, o estilo de arte conhecido como "escola bengalesa" alcançou reconhecimento nacional a partir de sua base, em Calcutá, representada pelas obras do pintor Abanindranath Tagore, sobrinho de Rabindranath Tagore. As aquarelas suaves, resposta ao materialismo da arte ocidental, enfatizam temas espirituais e naturais. Embora a influência da corrente há muito tenha se dissipado, a cidade continua sendo um foco importante da arte indiana. O CIMA, Centro de Arte Moderna Internacional (Sunny Towers, 43 Ashutosh Chowdhury Ave.; 91-33-2485-8717; cimaartindia.com), espaço moderno e elegante, é um dos melhores lugares para admirá-la. Mostras recentes exibiram o trabalho de Shreyasi Chatterjee e Paresh Maity, entre outros.

19h30 - Prato cheio
Tradicionalmente, a melhor maneira de experimentar a culinária regional, marcada pelos peixes de rio e o sabor característico da mostarda, é dentro da casa de alguém. Se conseguir um convite para jantar, nem pense duas vezes em aceitar. Porém, com as mulheres cozinhando cada vez menos, cresce o número de restaurantes típicos ? e entre eles, o campeão é o Kewpie's (2 Elgin Lane; 91-33-2486-1600), que fica na parte térrea (e ecleticamente decorada) de um bangalô residencial. O negócio é chegar com fome para degustar o mangshor thali (620 rúpias ou US$ 11,50, com o dólar a 54 rúpias), que vem com uma opção de peixe, legume/verdura e um curry de carne, além de arroz, dal e sobremesa.

22h - Lounge e dance
As noitadas em Calcutá não são mais as mesmas desde a imposição do horário de fechamento para as casas noturnas à meia-noite, mas os mais festeiros pelo menos podem começar mais cedo. Pegue uma mesa de canto no Plush (Astor Hotel, 15 Shakespeare Sarani; 91-33-2282-9957; astorkolkata.com), com couvert de mil rúpias por casal, válidos para bebida e/ou comida. Bebericando um coquetel, você pode apreciar a trilha sonora que vai de house a música clubber ocidental e ajuda a encher a pista de dança.

  • Kuni Takahashi/The New York Times

    Writers Building é um edifício de tijolos vermelhos e colunas construído em 1776 e que funciona como a sede do poder atual

Sábado

8h - História nas ruas
O auge econômico de Calcutá aconteceu durante o período colonial, quando muitas fortunas surgiram graças ao comércio e à prestação de serviços. Com um passeio pelas ruas estreitas do bairro de Sovabazar, dá para se ter uma ideia do que eram as propriedades antigas, surgidas nesse período, que variam desde o estilo islâmico ao barroco. Há também estamparias, ateliês de joias e todo o tipo de comércio. Uma boa opção é fazer uma caminhada com guia da Calcutta Walks (91-98301-84030; calcuttawalks.com), que cobra 1.500 rúpias/pessoa e explora bem a região. Depois, prove mais um prato da cozinha bengalesa no Bhojohori Manna, que fica no recém-reformado Teatro Star (79/3/4 Bidhan Sarani; 91-33-2533-8519; bhojohorimanna.com). Se tiverem, prove o gigantesco ilish barishali (225 rúpias), um filé grosso do peixe local servido em molho de mostarda.

14h - Café com sabor comunista
Barraquinhas lotadas de livros antigos enchem a College Street, em frente à Universidade de Calcutá, a caminho da histórica Indian Coffee House (15 Bankim Chaterjee St.; 91-33 2237-5649). Ali, no salão espaçoso do segundo andar, várias gerações de estudantes e intelectuais se envolveram na adda, como são conhecidas as discussões animadas, entre muitas xícaras de café (15 rúpias). Embora os comunistas não estejam mais no poder, a esquerda permanece forte, como se vê pelos recados no quadro branco que há na parede: "O capital não está em crise; o capitalismo é a crise".

17h - Hora das compras
Embora a "cultura do shopping center" seja forte nos bairros novos, no sul e no leste, o New Market da Lindsay Street continua atraindo multidões. O nome se refere ao mercado coberto S. S. Hogg, mas informalmente aos stands que cercam o complexo. Ali você pode adquirir pashminas e raridades, admirar sáris feitos de tecidos cheios de detalhes e se maravilhar com a variedade de objetos à venda: desde flores a espanadores, passando por iguarias comestíveis. Se quiser uma guloseima, vá ao Nizam's (23-24 Hogg St.; 91-98-3619-4669). Diz a lenda que ali foi criado o kathi – um paratha (pão chato) cozido e depois recheado de carne de carneiro ou frango temperada com suco de limão, cebola roxa, pimenta verde e sal – e que agora é encontrado em todas as cidades da Índia (35 rúpias).

20h - Jantar com tecnologia
Dê um tempo da cozinha regional no Bistro by the Park (2A, Middleton Row; 91-33-2229-6494), inaugurado em 2011 com um cardápio criado pelo chef britânico Shaun Kenworthy ? que chega às mesas em iPads e inclui saladas, massas, pizzas, pratos de influência sul-asiática e, em consideração ao apelo bengalês, peixe (no caso, bhetki) ao molho de mostarda. Jantar para dois, incluindo dois copos de vinho italiano ou australiano, sai por 1.800 rúpias.

22h30 - Rock 'n' roll
Na Park Street havia um sem-fim de casas noturnas onde se podia ouvir jazz e outros ritmos ocidentais, mas desde 1997, o cenário roqueiro da cidade é dominado por um único local: o Someplace Else, dentro do Park Hotel (17 Park St.; 91-33-2249-9000; theparkhotels.com/kolkata/kolkata.html). Com luminárias de metal, corrimãos de ferro e paredes de tijolo aparente, o salão se parece muito com um pub meio sombrio (exceto pelo fato de estar localizado num hotel boutique). Todas as noites, o palco pequenino recebe uma banda talentosa fazendo cover do The Doors ou Foreigner ou uma banda local como o Friends of Fusion.

Domingo

7h - Vai comida chinesa aí?
Durante o período de auge político e econômico, Calcutá recebeu imigrantes não só de outros estados, mas do mundo inteiro. Comunidades judaicas, armênias, parsi e chinesas se estabeleceram e cresceram ali ? e embora a maioria esteja em franco declínio, as manhãs de domingo oferecem uma chance real (e deliciosa) de interagir com o que restou da população chinesa. Acorde cedo e pare no Tiretta Bazar (na esquina da Chatawala Gali e Sun Yat Sen), em Chinatown, que ganha vida às seis da manhã com os vendedores de comida – e de legumes – espalhados pelas calçadas oferecendo pãezinhos frescos, bolinhos, sopas e o clássico petisco dim sum.

10h - Monumento à grandiosidade
Troque o agito da cidade pela relativa tranquilidade dos jardins do Victoria Memorial Hall (1 Queen's Way; 91-33-2223-1890; victoriamemorial-cal.org), cujo ingresso custa 150 rúpias (só para estrangeiros). Construído ao longo de quinze anos na primeira metade do século 20, o salão de mármore branco é um lembrete da grandiosidade que há por trás do projeto britânico. Passeando pelo gramado é possível ver garças e papagaios em pleno voo (além de casais apaixonados abraçados nos bancos à sombra) antes de entrar no memorial. Lá dentro, você vai encontrar litografias e pinturas da era colonial e uma mostra com toda a história local, desde suas origens até os dias de hoje.

Se você for

Na movimentada Park Street fica o Park Hotel (17 Park St., 91-33-2249-9000; theparkhotels.com/kolkata/kolkata.html) que mantém um clima contemporâneo (e continua sendo o centro ao agito noturno) depois de quatro décadas. Nas áreas comuns, há uma mostra impressionante da arte regional. Diárias a partir de nove mil rúpias (cerca de US$ 167); promoções disponíveis on-line.

Oásis de sossego perto da estação de metrô Rabindra Sarovar, em South Kolkata, o Bodhi Tree (48/44 Swiss Park; 91-33-2424-6534; bodhitreekolkata.com) oferece seis quartos temáticos ao redor de um espaço comum que serve de jardim, galeria de arte e café. Diárias a partir de 2.200 rúpias.