Topo

Destruída na Segunda Guerra, Dresden, na Alemanha, se reinventa sem esquecer o passado

Rachel B. Doyle

New York Times Syndicate

31/08/2012 07h50

Dresden, cidade alemã cujo nome evoca uma história de destruição, está cada vez mais parecida com o que era antes da Segunda Guerra Mundial. Mais ou menos no meio do caminho entre Berlim e Praga, a capital da Saxônia recuperou os principais tesouros arquitetônicos destruídos pelos ataques aéreos dos Aliados: o Palácio Zwinger, o Frauenkirche e o Semperoper.

Entretanto, enquanto a Cidade Velha (ou Altstadt) estava ocupada voltando ao passado, a Neustadt, na outra margem do rio Elba, estava mais preocupada com o futuro. O bairro de Aussere Neustadt hoje está lotado de lojas e bares novos para servir uma geração mais jovem que não se lembra dos dias sob o comunismo, muito menos da guerra.

No centro desse bairro de clima boêmio, você vai encontrar encantos como o complexo Kunsthofpassage, onde fica um prédio turquesa para lá de engenhoso que transformou suas calhas, em forma de instrumentos musicais, para tocar "música aquática" depois que chove. O antigo e o novo se unem no Museu da História Militar, recriado por Daniel Libeskind, em 2011, que, com foco nas causas e consequências da guerra e violência, representa uma reavaliação contemporânea bastante crítica do passado.

Sexta-feira

16h - No rio
Embora a maior parte de Dresden tenha sido modernizada, o incrível panorama que se tem dos prédios barrocos ao longo do Elba explica por que a cidade era chamada a "Florença do Norte" antes da guerra. As melhores vistas são a do Bruhlsche Terrasse, o calçadão elevado às margens do rio, nos limites da região norte de Altstadt. Depois do passeio, passe por trás da esplanada e vá ao Albertinum (Georg-Treu-Platz 2; 49-351-4914-2000; skd.museum; 8 euros), um museu de arte moderna de 125 anos que foi reaberto em 2010, após uma reforma de 51 milhões de euros. A coleção de retratos começa com um dos pintores alemães mais românticos, Caspar David Friedrich, e termina com seu artista vivo mais famoso, Gerhard Richter, sendo que ambos passaram a infância em Dresden.

19h - Flertando com o passado
Volte a um tempo em que as senhoras usavam peles e chapéus de penas no grandioso Semperoper (Theaterplatz 2; 49-351-4911-705; semperoper.de), onde Richard Strauss lançou vários de seus trabalhos, assim como Richard Wagner. A casa de concertos, ópera e balé tem uma dramática história: inaugurada em 1841, ela foi destruída por um incêndio em 1869, bombardeada em 1945, triunfalmente reaberta pela República Democrática Alemã (a Alemanha Oriental) em 1985 e restaurada meticulosamente depois de uma enchente em 2002. A acústica é soberba, os assentos são forrados em veludo vermelho, com frisos elaborados e um público que se veste com esmero para apresentações tradicionais (mas brilhantes) de óperas como "La Bohème" e "Rusalka", de Dvorak.

  • Mustafah Abdulaziz/The New York Times

    Algumas melhores vistas de Dresden estão no Bruhlsche Terrasse, às margens do rio Elba

21h30 - Criaturas marinhas
Restaurante de frutos do mar moderno que funciona dentro de um palácio rococó reconstruído, o Kastenmeiers im Kurlander Palais (Tzschirnerplatz 3-5; 49-351-4848-4801; kastenmeiers.de) é, de longe, a opção mais elegante no centro da cidade. A primeira coisa que se vê ao entrar na casa, inaugurada em 2010, é a cozinha aberta sob um aquário comprido cheio de cações, peixes e lagostas, criaturas que, mais tarde, aparecem no salão de jantar em pratos como o esturjão com molho de salmão e caviar (25 euros) e risoto de lagosta (28 euros).

Sábado

10h - Enfrentando o passado
Depois de pegar um café e um muffin no sofisticado Café Combo (Louisenstrasse 66), você pode se maravilhar com a transformação promovida por Daniel Libeskind no Museu de História Militar (Olbrichtplatz 2; 49-351-823-2803; mhmbw.de, 5 euros), aberto em outubro e sem dúvida um dos maiores e mais audaciosos da Alemanha. O espaço de exposições oferece duas experiências: uma, a história cronológica da guerra alemã, com ênfase no século 20; a outra – que fica num bloco de aço e vidro de cinco andares que Libeskind acrescentou ao prédio – trata dos aspectos sociais do conflito, com exposições como "Guerra e Lembrança", a evolução das próteses e a forma como os animais eram explorados durante as batalhas.

13h - Um repasto saxão
Faça uma refeição saxã substanciosa no Watkze Ball & Brauhaus (Kotzschenbroder Strasse 1; 49-351-852-920; watzke.de), um restaurante, salão de baile e cervejaria de 114 anos de frente para o rio. As especialidades regionais incluem pescoço de porco em molho de cerveja com ensopado de cogumelos (7,90 euros) e cervejas artesanais excelentes (a partir de 2 euros), desfrutados entre uma clientela bem regional. As paredes são decoradas com fotos antigas de Dresden e o clima é de descontração. No verão, o Watzke abre o pátio às margens do Elba.

  • Mustafah Abdulaziz/The New York Times

    Em Dresden, não deixe de fazer uma refeição saxã substanciosa no Watkze Ball & Brauhaus

14h30 - Coleção clássica
Desde o século 17, os líderes da Saxônia começaram a colecionar arte europeia com apetite voraz. A época era propícia para isso e a maioria dos trabalhos que estão na Gemaldegalerie Alte Meister (Theaterplatz 1; 49-351- 4914-6679; skd.museum; 10 euros) foi reunida durante um período de 50 anos. Nesse museu esplêndido, a obra mais famosa é "Madonna Sistina", de Rafael, com seu icônico par de querubins; impressionante também é o melancólico "Dresden Altar", de Albrecht Durer, e a maior coleção do mundo de pinturas dos dois Lucas Cranachs, o Velho e o Novo.

16h45 - Vamos às compras
O centro da contracultura de Dresden, o Aussere Neustadt, praticamente poupado pelos bombardeios, é um tesouro do século 19 com casas patrícias e muitos bares, lojas e cafés descolados. Confira a boutique unissex The Spot (Alaunstrasse 29; 49-351-312-6591; wearethespot.com), onde vai encontrar roupas e acessórios criados por jovens estilistas alemães e europeus como Patrick Mohr e Bibi Chemnitz. Depois, pare na Pfunds Molkerei (Bautzner Strasse 79; 49-351-808-080; pfunds.de), uma loja de queijos de 132 anos coberta do chão ao teto com azulejos pintados de vaquinhas e anjos com equipamentos para a ordenha. Vende leitelho e queijo frescos, além de produtos estranhos como geleia de leite e grapa de leite.

19h - Spaetzle e arenque
A versão alemã das tapas é servida em vidros de conserva no Lila Sosse (Alaunstrasse 70; 49-351-803-6723; lilasosse.de), um restaurante estiloso, todo em madeira escura que abriu em 2010 num belo conjunto com pátio decorado por artistas do chamado Kunsthofpassage (kunsthof-dresden.de). As opções são versões mais sofisticadas de petiscos tradicionais como o spaetzle de queijo com cebola frita (6,90 euros) e tartar de arenque com beterraba (4,50 euros); o cheesecake russo de chocolate e pera (4,50 euros) é assado no pote. A cada meia hora, o prédio turquesa do complexo toca "música aquática" pelas calhas.

21h30 - Gosto do passado
Para bebericar e ouvir música num clima totalmente alemão oriental, vá para o Ost-pol (Konigsbrucker Strasse 47; ost-pol.de), onde a impressão que se tem é a de que se está em 1968. O esquema de cores é amarelo e laranja e as cervejas na lista que fica sobre o velho computador Robotron vêm de países do bloco comunista. O clube sempre organiza shows de rock intimistas (de graça ou até 8 euros), num salão ao lado das máquinas de pebolim e um forno de carvão verde. Siga em frente até chegar ao Altes Wettburo (Antonstrasse 8; 49-351-658-8983; altes-wettbuero.de), um antigo salão de apostas onde hoje toca música eletrônica e soul.

  • Mustafah Abdulaziz/The New York Times

    O Ost-pol é o lugar ideal para bebericar e ouvir música num clima totalmente alemão oriental

Domingo

11h - Jantar numa fábrica
Tome o café da manhã numa montadora no Lesage (Lennestrasse 1; 49-351-420-4250; lesage.de; é bom fazer reserva), um restaurante fino na ecologicamente correta Fábrica Transparente da Volkswagen. O brunch de domingo (33 euros) consiste num bufê quente e outro frio, música ao piano e um passeio pela fábrica (49-18-0589-6268; glaesernemanufaktur.de) onde o Phaeton é montado à mão. Depois, vale dar uma volta pelo lago e as fontes do Grosser Garten, bem ali na porta.

14h - Passeios com sabor
Nos tempos comunistas, os cidadãos podiam trocar uma garrafa do espumante Schloss Wackerbarth por peças de carros e eletrodomésticos; hoje, todo domingo, a vinícola histórica (Wackerbarthstrasse 1, Radebeul; 49-351-89550; schloss-wackerbarth.de), fundada em 1727 como refúgio para a corte de Augustus, o Forte, abre o castelo barroco e os jardins ao público. Passeios com degustação são oferecidos a cada hora, do meio-dia às 17h (de 11 a 26 euros). Depois, experimente a lasanha de peixe-espada e aspargo (17 euros) combinada com um riesling da casa no maravilhoso restaurante saxão-mediterrâneo.

Se você for

O Innside by Meliá Dresden (Salzgasse 4; 49-351-795-150; innside.com; a partir de 87 euros) oferece 180 quartos e suítes bem decorados no centro de Altstadt, um centro de bem-estar elegante e o VEN, um dos melhores restaurantes da cidade.

O Maritim Hotel Dresden (Devrientstrasse 10-12; 49-351-2160; maritim.com; a partir de 95 euros) é um hotel clássico num monumento arquitetônico, com 328 quartos e suítes, um centro de bem-estar e piano bar.

O Rothenburger Hof (Rothenburger Strasse 15- 17; 49-351-81260; dresden-hotel.de; a partir de 75 euros, com café da manhã incluído) é um hotel de família confortável em Aussere Neustadt, com 26 quartos duplos e 13 apartamentos. Há sauna e uma pequena piscina.