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Vivencie o charme e o mistério de Marrakech em 36 horas

CHARLY WILDER

New York Times Syndicate

15/04/2011 19h15

Em 1939, George Orwell escreveu sobre os ocidentais seguindo para Marrakech em busca de “camelos, castelos, palmeiras, legionários estrangeiros, bandejas de latão e bandidos”. Desde então, a cidade tem encantado os visitantes com suas souks (feiras) cheias de gente, palácios ornamentados e vida noturna hedonista. Nos últimos anos, uma sucessão de restaurações e aberturas de luxo - mais notadamente a opulenta reabertura do hotel La Mamounia- transformou a cidade em uma parada obrigatória para o jet-set. Mas apesar do novo toque de classe de Marrakech, os verdadeiros tesouros da cidade enigmática ainda estão escondidos em ruelas e atrás de fachadas caindo aos pedaços.


Sexta-feira

17h - Medina, refinada
Para simples energia e intriga, poucos lugares rivalizam as souks (feiras) da cidade antiga fortificada de Marrakech. Artesãos usando barretes transpiram sobre tornos antigos enquanto turistas franceses vestidos de modo pomposo mascateiam caixas de cedro incrustadas e candelabros de prata. Nos últimos anos, estilistas em ascensão têm aberto butiques elegantes na Souk Cherifia, que dão um toque contemporâneo aos motivos árabes-andaluzes. A Lalla (Souk Cherifia, Primeiro Andar, Sidi Abdelaziz; 212-661-477-228; lalla.fr) abriu em 2008 e oferece bolsas de couro da Mauritânia que são vendidas em lojas elegantes de Londres como Paul & Joe e Coco Ribbon. A estilista Marion Theard abriu recentemente a La Maison Bahira (Souk Cherifia, Primeiro Andar, Sidi Abdelaziz; 212-524-386-365; maison-bahira.com), que vende seus característicos tecidos feitos à mão, toalhas de hammam e almofadas bordadas. Para uma pausa na pechincha, pare no Le Jardin (32 Sidi Abdelaziz, Souk Jeld; 212-524-378-295), um café que abriu as portas em novembro e é de propriedade de Kamal Laftimi, um jovem marroquino também por trás dos populares Café des Épices e Terrace des Épices.


19h - Pratos da praça
Djemaa el Fna, a praça principal da Medina (distrito histórico), é uma tapeçaria diversificada de vida, onde os compradores caminham em meio a um caos de pessoas que leem a sorte, encantadores de serpentes e pintores de henna insistentes. Mas também é um dos melhores lugares para se familiarizar com os ricos sabores e texturas da cozinha marroquina. Vá ao entardecer à miríade de barracas de comida da praça, quando centenas de lanternas a gás iluminam as ondas de vapor. Ignore os homens que tentam desviar o movimento para suas próprias barracas e pegue um lugar onde houver muitos moradores locais. Um bom começo é uma tigela de lesmas em caldo de açafrão, de uma das barracas de lesmas no extremo lesta da praça (10 dirhams, ou aproximadamente US$ 1,23, com o dólar cotado a 8,20 dirhams). Depois prove o cuscuz de cordeiro em molho harissa em uma das barracas no extremo norte (30 dirhams). As pessoas mais aventureiras devem experimentar uma das barracas de carneiro perto do centro da praça, onde é vendido de tudo, do cérebro ao coração em um espeto.


21h - Bebendo à la Churchill
Le Bar Churchill, no brilhantemente reformado La Mamounia (Avenue Bab Jdid; 212-524-388-600; mamounia.com), é um local perfeito para dividir o espaço com a clientela endinheirada. Batizado com o nome de seu cliente mais famoso, Le Bar Churchill escapou da reforma do hotel em grande parte inalterado e ainda mantém o couro preto, pele de leopardo e cromo polido. Se estiver à procura de dançarinas do ventre, Le Comptoir Darna (Avenue Echouhada; 212-524-437-702; comptoirdarna.com), uma brasserie franco-marroquina no bairro emergente de Hivernage, oferece um dos melhores shows da cidade, com dançarinas que descem pela escadaria central e ingressam no salão de jantar.
 

  • Ingrid Pullar/The New York Times

    Na terra dos mil hammams, mega-spas parecem ficar maiores a cada dia, mas é difícil ficar mais opulento que o Royal Mansour, em Marrakech

Sábado

10h - Chef da souk
Não se cansa de tajine? Aprenda a fazer o prato no Souk Cuisine (Zniquat Rahba, Derb Tahtah 5; 212-673-804-955; soukcuisine.com), uma das várias oficinas de culinária marroquina que surgiram nos últimos anos. Dirigida por Gemma van de Burgt, uma holandesa, a oficina que dura meio dia (das 10h às 15h30) começa com uma visita ao mercado de Rahba Kedima para compra de marmelo, óleo de argânia e outros ingredientes marroquinos. A classe se reúne no pátio interno de uma casa, onde chefs aprendem a fazer pratos como tajine de cordeiro e cuscuz de uva passa, culminando em um almoço com quatro pratos no terraço, servido com chá de hortelã e vinho (40 euros).


15h - Floresta bem cuidada
O colonialismo francês ainda informa facetas da cidade, e a mistura das sensibilidades francesa e marroquina talvez seja expressa de forma mais bela no Jardim Majorelle (212-524-313-047; JardinMajorelle.com), um jardim botânico com cinco hectares no distrito francês de Gueliz. Os jardins azul-cobalto foram projetados nos anos 20 pelo pintor Jacques Majorelle e estão repletos de palmeiras, iúcas, nenúfares e uma grande variedade de flores tropicais e cáctus. Eles posteriormente se transformaram no quintal de Yves Saint Laurent, cujo amor profundo por Marrakech é evidente em sua coleção pessoal de artesanato e tecidos marroquinos, em exibição no Museu de Arte Islâmica vizinho.


17h - Um foco nos berberes
Após ser marginalizada por séculos, a cultura bérber agora é uma causa célebre para donos de galeria e historiadores marroquinos. A Maison de la Photographie (46 Ahal Fès; 212-524-385-721; maison-delaphotographie.com) abriu no ano passado em uma fondouk (pousada tradicional) restaurada, dedicada a documentar a vida bérber na Medina. Uma coleção de 4.500 fotos inclui vislumbres raros dos berberes judeus e uma reunião fascinante de pratos de vidro que datam de 1862. O museu possui um café na cobertura, que oferece vistas espetaculares da Medina. O ingresso de 40 dirhams também dá direito a visitar o Ecomusée Berbere de l’Ourika (Vilage de Tafza, Route de l’Ourika, Km. 37; 212-524-385-721; ecomuseeberbere.com), um novo museu a 37 quilômetros fora da cidade, que captura a vida em um vilarejo bérber tradicional.


20h - De Beirute, com amor
Se os hotéis da cidade se tornaram luxuosos, a cena de restaurantes não fez por menos. Marcel Chiche, um dono de restaurantes e titã da vida noturna local, abriu recentemente o Azar (Rue de Yougoslavie, perto do Boulevard Hassan II; 212-524-430-920; azarmarrakech.com), um restaurante libanês espalhafatoso que atrai a clientela pronta para a festa. O design cintilante do salão de jantar é trabalho de Younes Duret, um designer franco-marroquino promissor. Os pratos libaneses modernos incluem caviar de berinjela com tajine (40 dirhams) e frango rotisserie (140 dirhams). Depois do jantar, tome o elevador acarpetado Astroturf até o bar no andar de baixo, onde as pessoas bonitas da cidade dançam ao som de música pop árabe ao vivo.


23h - Noites norte-africanas
Apesar de Gueliz ainda estar movimentada com bares e clubes, a ação mais recente está situada no distrito industrial de Hivernage. Um dos pontos mais badalados é o Lotus Club (Rue Ahmed Chawki; 212-524-431-537; riadslotus.com), um restaurante descontraído e clube noturno com cara de retiro urbano. Nos fins de semana, pessoas na faixa dos 20 e 30 anos se misturam sob lâmpadas brancas florais-kitsch enquanto DJs misturam batidas eletrônicas com pop de Bollywood.
 

  • Ingrid Pullar/The New York Times

    Se estiver à procura de dançarinas do ventre, Le Comptoir Darna, uma brasserie franco-marroquina no bairro emergente de Hivernage, oferece um dos melhores shows de Marrakech

Domingo

10h - Suor real
Na terra dos mil hammams, mega-spas parecem ficar maiores a cada dia. É difícil ficar mais opulento que o Royal Mansour (Rue Abou Abbas el Sebti; 212-529-808-080; royalmansour.com), um palácio-fortaleza do prazer, que consiste de 53 pátios internos interligados por túneis, que é de propriedade do rei Mohammed 6º. Mulheres trajando túnicas com bordados elaborados conduzem os visitantes pela portaria palaciana até as câmaras privadas, onde os tratamentos incluem massagens aromáticas com óleo de argânia, a partir de 1.200 dirhams.


12h - Compras em butiques
Com cansaço de pechinchar? Siga para as butiques elegantes que abriram recentemente ao longo da Rue de la Liberté, em Gueliz. Moor (7 Rue des Anciens Marrakchis; 212-524-458-274; akbardelights.com) vende almofadões de couro e túnicas cheias de estilo sob um teto coberto de lanternas brancas gigantes. Apesar do nome dessa loja para crianças ser difícil até mesmo para quem fala francês, La Manufacture de Vêtements Pour Enfants Sages (44 Rue des Anciens Marrakchis; 212-524-446-704) oferece de tudo, de pijamas marroquinos feitos à mão até camelos de pelúcia coloridos. Uma queixa comum entre os colecionadores de arte de Marrakech é que todos os bons artistas jovens partem para a Europa. Mas novas galerias como a David Bloch Gallery (8 bis Rue des Vieux Marrakchis; 212-524-457-595; davidblochgallery.com), que é especializada em arte de rua, se transformaram em uma plataforma para artistas franceses e marroquinos promissores. A galeria, situada em um bloco de concreto coberto por grafite colorido, cria outro nível de contraste na cidade em evolução constante.
 

O básico

O boho-chic Peacock Pavilions (Km 13, Route de Ourzazate; peacockpavilions.com), aberto em 2010, fica em um bosque de 3,5 hectares fora da cidade. Ele é composto de dois pavilhões deslumbrantes. A diária do menor, um pavilhão com 120 metros quadrados com dois quartos, custa 350 euros, US$ 460, com o euro cotado a US$ 1,31; um dos quartos também pode ser alugado por 150 euros.

Após uma reforma de três anos pelo arquiteto parisiense Jacques Garcia, La Mamounia (Avenue Bab Jdid; 212-524-388-600; mamounia.com), originalmente aberto em 1923, nunca foi tão grandioso. Ele agora possui piscinas internas e externas e chefs com estrelas Michelin, sem contar passeios de helicóptero por sobre as Montanhas Atlas. Quartos a partir de 665 euros.

Em um riad tradicional reformado, bem situado dentro da Medina, o acolhedor e barato Riad Dar Khmissa (166 Derb Jamaa; Arset Moussa Lakbira; 212-524-443-707; www.dar-khmissa-marrakech.com) oferece sete quartos confortáveis e um adorável terraço na cobertura. A partir de 50 euros, incluindo um delicioso café da manhã marroquino caseiro.