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Parque Nacional guarda mundo pré-histórico em plena Amazônia colombiana

Gonzalo Domínguez Loeda

De Bogotá

04/08/2015 12h56

Um mundo perdido no coração da Amazônia colombiana. Assim é a Serra de Chiribiquete, o parque nacional que guarda uma joia arqueológica e antropológica: cavernas com pinturas rupestres que serviram de casas a indígenas há 19.500 anos. Durante anos, exploradores experientes passaram por este lugar oculto até que, em 1986, uma forte tempestade fez o então diretor do Sistema de Parques Nacionais Naturais da Colômbia, Carlos Castaño-Uribe, desviar o caminho e aterrissar de improviso nos arredores da Serra.

"Depois de uma hora de voo, comecei a ver no horizonte uma formação geológica que jamais tínhamos visto. Muito pouca gente sabia disso, pois a cartografia da época não era tão desenvolvida. Achei muito curioso e decidi explorar", contou Castaño-Uribe. O antropólogo foi até o local e, ao entrar, observou as pinturas rupestres. "Absolutamente maravilhado" pela paisagem, ele acabou não podendo avançar por falta de gasolina para continuar a expedição.

Até aquele momento, nenhum representante do mundo atual havia entrado no Chiribiquete, que mantém as mesmas peculiares condições meteorológicas que o transformaram em refúgio no período Pleistoceno, com um microclima que lhe confere características mais quentes na flora e a fauna. "Nunca tinha visto condições tão especiais quanto as do Chiribiquete", resumiu Castaño-Uribe.

Apesar disso, a grande surpresa surgiu entre 1990 e 1991, nas primeiras expedições organizadas por ele, à frente de um grupo interdisciplinar de cientistas. Descobriu-se uma jazida cultural inédita na arqueologia americana por sua "intrinca, complexa, pródiga e superlativa arte rupestre", além de sua profundidade cronológica que data as pinturas mais antigas de 19.500 anos.

Cultos
Entre as imagens desenhadas em Chiribiquete há milênios estão representações de animais, desenhos esquemáticos e mãos em dezenas de cavernas que ainda não foram completamente exploradas. Uma autêntica pedra preciosa de arte rupestre em plena floresta amazônica em uma área que, segundo Castaño-Uribe, foi um lugar de culto "de tipo xamânico" e que representou "um marco" para os habitantes da região.

Para chegar a esse lugar sagrado, que tem 2.782.353 hectares, o equivalente a área da Bélgica, os seres que viveram ali tiveram que se valer das conexões dos corredores especiais que permitiu a mobilidade na região, essencialmente por via fluvial. "O mais surpreendente é que, durante muitos séculos, os indígenas continuaram usando os refúgios de Chiribiquete e provavelmente seguiram utilizando até hoje", segundo Castaño-Uribe.

Como se não tivessem passado por lá incas, espanhóis, libertadores e exploradores europeus, membros das nações indígenas continuariam usando esses abrigos para realizar seus cultos ancestrais como faziam há milhares de anos. Esse é um dos grandes temores de Castaño-Uribe que, junto com as autoridades, decidiu não dar grande destaque sobre o que há por lá, por conta do nível de isolamento e a dificuldade de monitorar.

Caso essas condições não sejam garantidas, a sobrevivência do local poderia correr risco. Em sua opinião, é necessário "cercar este tesouro que é muito vulnerável e frágil". Ante a expectativa de que essa região seja incluída entre as novas áreas de patrimônio mundial da Unesco, Chiribiquete continua isolado e misterioso para o mundo, mas seus segredos são revelados aos poucos.