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"Cadeados do amor" tomam conta de ponte parisiense

23/08/2013 16h20

Paris - O peso dos "cadeados do amor" que lotam a Pont des Arts de Paris fez a prefeitura se preocupar com a estabilidade das grades da construção, mas eles não representam um perigo real para a estrutura do famoso cenário romântico.

Quatro mãos estão ocupadas prendendo um pequeno cadeado com os nomes de seus donos escritos e depois jogando a chave no rio como uma promessa de amor eterno. A qualquer hora do dia casais de apaixonados, grupos de amigos e famílias "trancam" o amor ali com um cadeado e jogam a chave no Sena.

  • © Paris Tourist Office - Photographe : Jacques Lebar

    A Pont des Arts é destino de pessoas apaixonadas que visitam a cidade de Paris, na França

O monumento cruza o rio, do Museu do Louvre até o Palácio das Artes. A última reforma da ponte aconteceu em 1984, e a moda de cobrí-la de cadeados tem menos de uma década.

Não está claro quando ou como começou a tradição, embora pareça vir do leste europeu e ter sido intensificada com "Ho Voglia di te" (Eu queria que você, em tradução livre), romance do italiano Federico Moccia em que os personagens colocavam um cadeado na "Ponte Milvio", em Roma.

Na "Cidade Luz", os cadeados começaram a surgir a partir de 2008, mas não eram um fenômeno até alguns anos atrás, contou o engenheiro responsável pelas pontes do Sena em Paris, Ambroise Dufayet.

Desde então, o fenômeno cresceu até se tornar um desafio encontrar pontos livres, um excesso que "pode degradar pontualmente as grades", comenta Dufayet, que regularmente "precisa inspecionar seu estado".

Mas ninguém precisa se preocupar, nem os amantes nem os muitos vendedores que fazem do afeto alheio sua fonte de renda, um negócio que aparentemente vai de vento em popa, como afirma Shari, comerciante ambulante indiano instalado no banco mais próximo ao Louvre há dois anos.

Shari não revela qual é seu lucro, mas explica, em inglês, que o preço dos cadeados não mudou muito. Embora haja outras pontes em Paris onde os cadeados se multiplicam, a das Artes é a melhor para ele, pois "não é só famosa na França, mas também no Facebook", diz.

Ele e outros comerciantes afirmam que os turistas são os que mais compram os cadeados, e os penduram e depois, claro, imortalizando o momento com uma foto.

Homenagens na ponte

Lola é uma garota de Buenos Aires que quer deixar uma lembrança com seus pais; Hikari e Ai, dois japoneses que desejam reforçar seu sentimento; Elisa, uma espanhola que espera que suas amigas encontrem o cadeado quando visitarem Paris.

No monumento, transformado em atração turística, são ouvidos todos os idiomas, como uma espécie de torre de Babel horizontal em que é possível até encontrar nativos franceses, como o casal Elene e Emmanuel.

O casal são dois "antigos parisienses" estabelecidos em Israel que querem eternizar seu carinho após 55 anos juntos porque sua relação está "apenas no começo", diz Emmanuel com um sorriso.

"Isso não existia quando vivíamos em Paris, vimos em um programa de televisão e, como estamos de férias, queremos deixar um cadeado", acrescenta ela com cumplicidade.

Casais que desejam tentar a sorte podem continuar a fazê-lo, já que o engenheiro responsável pela ponte confirma que "atualmente a prática não envolve riscos estruturais às grades". "Regularmente há agentes que checam se há buracos ou elementos metálicos que possam apresentar perigo, especialmente para as crianças, pois suas cabeças ficam à altura das grades", prossegue Dufayet.

Quando há perigo, o painel danificado é substituído e fica livre para novos amores e novos cadeados.