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Oktoberfest na Alemanha: diversão com consciência ecológica

Ruth Krause

22/09/2015 13h30

A Oktoberfest de Munique é uma festa dos superlativos: 170 montanhas-russas e outros brinquedos de parque de diversão brilhando em cores ofuscantes; ribombantes aparelhagens de som ao lado de barracas de tiro-ao-alvo decoradas com rosas de plástico; tendas de cervejaria do tamanho de ginásios esportivos.

Entre todas essas atrações, se acotovelam seis milhões de visitantes, em graus diversos de embriaguez, os quais devoram meio milhão de galetos acompanhados por quase oito milhões de litros de cerveja - mais ou menos o volume de uma piscina bem cheia.

Como praticar todo esse excesso sem um impacto excessivo sobre o meio ambiente? É difícil, mas praticável, pois a Oktoberfest conseguiu fazer jus ao status de megaevento verde, e em 1997 até recebeu o "Oscar ambiental". Só que quase ninguém sabe disso.

Da cozinha à toalete
Tudo começa com a comida: desde o galeto na brasa - conhecido em Munique como "Wiesn Hendl" - passando pelo joelho de porco e a salsicha assada, até as amêndoas caramelizadas e as frutas cobertas de chocolate: tudo também pode ser adquirido com selo orgânico.

A taverna Schichtl, por exemplo, só tem em seu cardápio carne orgânica da Hermannsdorfer, uma conceituada fazenda da região. "Em relação à carne, o predicado 'orgânico' é especialmente importante, claro, e por isso os clientes vêm direto para nós", afirma a gerente da gastronomia, Conny Berke.

Não importa qual tenda de cervejaria o visitante escolha: ele pode ter certeza de que a bebida foi preparada segundo o "preceito alemão de pureza" - que só admite o emprego de lúpulo, malte, levedo e água -, sem cereais transgênicos e servida em canecos de vidro ou louça.

Por isso nem adianta procurar cerveja em lata na Oktoberfest: após serem devidamente esvaziados, os canecos são simplesmente lavados. Quanto à água da lavagem, em cinco das 14 tendas ela não vai parar no esgoto, sendo usada na descarga das toaletes.

"Não" aos descartáveis
A grande reviravolta ecológica se deu em 1991, quando a prefeitura muniquense proibiu os pratos descartáveis, que foram substituídos pelos de louça. Em consequência o volume de resíduos se reduziu em quase 90%, passando, de 8.100 toneladas na época para 958 toneladas em 2014 - o equivalente a menos de 200 gramas de lixo por frequentador.

"Ainda pode haver melhoras na separação de papel e resíduos orgânicos. Mas de resto, estamos satisfeitos", é a conclusão de Evi Thiermann, da firma local AWM, responsável pela eliminação dos resíduos das tendas. Para ela, a proibição dos pratos de plástico é uma bênção: senão o trabalho de sua firma seria muito mais complicado.

Os turistas também apreciam bastante a renúncia aos utensílios descartáveis, embora por um motivo totalmente diferente. Um canecão de cerveja genuíno roubado e, apesar da bebedeira, contrabandeado debaixo do nariz dos seguranças é um suvenir ilegal, mas - por isso mesmo - extremamente cobiçado.

Publicidade positiva
Quem quer se candidatar a abrir um estande na Oktoberfest da capital bávara precisa convencer a municipalidade em 13 quesitos, entre eles o cuidado ambiental. Desse modo os participantes são, em princípio, forçados a praticar o comércio verde, já que a concorrência por um lugar no "Wiesn" é grande.

"Queremos poupar o meio ambiente. Eu acho isso importante, justamente num evento grande assim, onde, é claro, se gasta muita energia e se produz um monte de lixo e de CO2", comenta Hans Spindler, diretor da seção de eventos da cidade de Munique. Afinal de contas, diz, também dá boa publicidade.

Desde 2000 a direção do festival passou a empregar eletricidade de fontes renováveis em todos os setores da Oktoberfest - por exemplo, na iluminação das ruas e nos toaletes. Mais de 60% dos animadores autônomos e operadores de tendas seguiram o exemplo, igualmente adotando a energia ecológica. Diversões como a roda gigante, a "Freefall Tower" ou a montanha-russa "Wilde Maus" funcionam exclusivamente com eletricidade fornecida pelas hidrelétricas da empresa municipal.

Tudo isso sai um pouco mais caro, porém é importante, já que, apesar de todos os esforços ecológicos, a maior festa popular do mundo continua sendo uma devoradora de energia. A cada edição consomem-se 3 milhões de quilowatts - o suficiente para abastecer 1.200 residências muniquenses durante um ano.

Aliás, é possível chegar e partir da área da festa totalmente sem consumo de energia nem emissão de CO2: durante a Oktoberfest circulam pela cidade mais de 200 ciclotáxis. A maioria desses riquixás sobre três rodas, com capacidade para até dois passageiros, é movida apenas pela força muscular dos taxistas.

Em nome do meio ambiente
Os frequentadores da festa, no entanto, só se interessam até certo ponto por tais esforços ambientalistas, admite o funcionário municipal Hans Spindler. "A maioria dos festeiros não presta atenção nisso: para eles a Oktoberfest é o lugar para se 'soltar a franga'. Prazer e alegria de vida estão claramente em primeiro plano."

Por isso praticamente nenhum comerciante faz grande alarde do próprio engajamento ecológico. Mas felizmente, em princípio o desinteresse da multidão de foliões não é o argumento decisivo.

Pois quando, durante os 16 dias do evento, todos comem seu "Wiesn Hendl" orgânico em pratos de louça não descartável, volteiam na montanha-russa movidos por energia ecológica e voltam para o hotel de riquixá, não são só eles que têm motivos para estar feliz, mas também o meio ambiente.