Topo

Turismo grego tenta se adaptar à austeridade fiscal

Navios de cruzeiro em Santorini, na Grécia, um dos principais destinos turísticos do país - Getty Images
Navios de cruzeiro em Santorini, na Grécia, um dos principais destinos turísticos do país Imagem: Getty Images

Marianthi Milona

De Tessalônica

03/08/2015 18h26

O setor turístico, principal motor da economia grega, está entre os principais afetados pelo aumento do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA), um dos pontos do acordo com Bruxelas, que visa o restabelecimento econômico da Grécia. Em pleno verão europeu, alta temporada de turismo, donos de restaurantes e hotéis tentam encontrar um meio de aplicar as novas taxas.

Como os preços são negociados com agências de viagens e companhias aéreas meses antes, os turistas que já pagaram por suas férias ficariam relutantes em ter que desembolsar mais dinheiro. "Isso é muito ruim para a indústria do turismo, mas também para todo o país", diz Giorgos Livanis, dono de um restaurante na costa de Tessalônica.

Segundo o empresário, daqui a algum tempo, os comerciantes locais não serão capazes de competir com outros países mediterrâneos, como Turquia, Itália e Espanha, onde o IVA é mais baixo que na Grécia. Para evitar perder clientes, Giorgos decidiu manter os preços já programados para a atual temporada. A carga de impostos sobre a receita, porém, será de 23%, e não de 13% - o que significa que ele provavelmente vai ganhar menos dinheiro este ano.

Dilema para hotéis
Em geral, muitos comerciantes gregos concordaram com o acordo alcançado em Bruxelas, mesmo que cada centavo de imposto mais alto arranhe a economia da Grécia. A surpresa, sobretudo para o setor turístico, foi a velocidade com que a medida foi implementada. "Eu penso nas pessoas na cidade que precisam comprar tudo. Para nós, que vivemos no campo, é mais fácil", afirma Maria Vassiliadou, de 50 anos, mãe de duas filhas de cerca de 20.

Segundo ela, se vivesse em algum centro urbano, sua família não seria capaz de enfrentar os sucessivos aumentos no preço da comida. "No campo, muita gente se prepara há bastante tempo para o período de dificuldade. Temos azeitonas e azeite, um pequeno barco para pescar e uma horta em que praticamente tudo cresce", conta, enquanto admira seus pés de tomate.

Anna Karenou, proprietária de uma pousada na costa norte, também faz as suas contas. Ela não quer que o aumento do IVA afaste os turistas - apesar de, para ela, a medida só ser obrigatória a partir de outubro. A empresária sabe que não pode pedir mais que 70 euros por noite em uma pousada como a sua, de 14 acomodações modestas. Os turistas gregos já deixaram de vir, forçando-a a buscar alternativas.

"Se mantiver os velhos preços, terei que pagar a diferença pelo aumento dos impostos. Se aumentar o preço dos quartos, os visitantes vão pensar duas vezes antes de fazer uma reserva", calcula. Para negócios como o de Anna, o imposto aumentou de 6% para 13%: "Eu realmente não sei como lidar com isso. As reservas já foram confirmadas. Não tem como mudar neste ano", afirma ela, que pensa em dividir com os turistas o custo do aumento das taxas.

Manter clientes é o desafio
Para Stavros Drivas, dono de um café na península da Calcídica, a situação é clara: "Eles podem fazer o que quiserem: nós não podemos funcionar apenas com números. É por isso que essas mudanças nos incomodam." Stavros trabalha no setor de turismo há mais de 30 anos.

Ele decidiu manter os preços para bebidas não alcoólicas -- dois euros para uma taça de café, por exemplo --. Sua ideia é adicionar o imposto de 23% apenas a vinhos e drinques, como uísque e vodca. A única coisa que quer evitar, afirma o comerciante, é deixar os clientes desconfortáveis: "Aqui, nosso interesse é na relação humana e nas emoções."

Uma vez, conta Stavros, um amigo alemão chamou sua atenção pode ele ter cobrando cinco centavos a menos de seu filho por um souvenir. "Ele me apontou o dedo e disse que era um erro, mas nós lidamos de forma diferente com pequenas quantias de dinheiro por aqui. Eu nunca iria pedir cinco centavos para um dos meninos dele". Sensibilidade na relação com outro é mais importante do que dinheiro, afirma Stavros.