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Uganda: pouco procurado por turistas e perfeito para ver gorilas selvagens

Mãe-gorila oferece colo ao seu bebê - Renê Castro/UOL
Mãe-gorila oferece colo ao seu bebê Imagem: Renê Castro/UOL

Renê Castro

Colaboração para o UOL

06/02/2018 04h00

A República da Uganda, localizada no coração da África, está fora da lista de desejos dos viajantes. Não é para menos: em colapso econômico, o território convive com uma situação de desemprego acima de 50%, com renda média anual por cidadão de cerca de US$ 108, segundo dados da ONU. O resultado é visto nas ruas, com a população vivendo em extrema pobreza e a falta de condições básicas para viver.

Uganda, porém, tem como trunfo turístico o Bwindi  National Park, uma área localizada no sudoeste do país, na fronteira com o Congo e Ruanda, onde vivem alguns dos raros gorilas-das-montanhas.

A espécie vive um momento delicado, com apenas 880 primatas formando a comunidade, mas conta com o auxílio da reserva para se recuperar de anos de sofrimento gerados pela caça ilegal. Para financiar o projeto, o governo local autorizou visitas guiadas de turistas até o habitat natural dos animais. Isso mesmo: nada de jaulas ou calmantes para selfies perfeitas. Para ver os astros dessa floresta, é preciso encontrá-los.

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Guardas florestais desbravam mata fechada atrás de gorilas
Imagem: Renê Castro/UOL

Como chegar lá

Não pense que a frágil situação de Uganda faz desse passeio algo fácil de se conquistar. É necessário sair do Brasil em um voo até Johanesburgo, na África do Sul, fazer conexão para Entebbe, em Uganda, e andar mais um trajeto de dez horas de estrada até a região do parque (ou cerca de uma hora e meia a bordo de uma avião de pequeno porte)

Você também precisará de uma autorização da Uganda Wildlife  Authority (UWA). Os valores variam entre US$ 450 e US$ 600 por pessoa, dependendo da época do ano, e a agenda é sempre concorrida, já que o parque recebe apenas algumas dezenas de pessoas por dia.

Para um estrangeiro conseguir a autorização sozinho é complicado. Portanto, contar com um receptivo local é fundamental para agilizar a papelada.

Hospedagem e alimentação

As acomodações próximas ao parque são a melhor opção, pois proporcionam um clima de ansiedade pré-caminhada  gostoso e facilitam a vida do turista no dia do passeio, que começa cedo.

Em nenhum momento da viagem espere refeições sofisticadas. A culinária ugandense é simples, mas rica em sabor. 

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Uganda vive situação política e econômica delicada
Imagem: Renê Castro/UOL

Aventura extrema

O acesso ao parque é feito de carro, por uma estrada de terra. Após receber as instruções do passeio, o guia e os visitantes seguem até um dos pontos de acesso à floresta. A partir desse momento, não há mais volta.

Uma vez na mata fechada, esteja pronto para tudo. Os guias estão sempre próximos, mas a caminhada tem ritmo forte. Para encarar tudo isso, casaco impermeável, botas de montanha, calças leves e meias compridas são praticamente obrigatórios.

Gorilas atacam?

Há 11 anos não é registrado nenhum caso de ataque de gorila. O processo de aceitação dos gorilas à presença humana, porém, foi lento e envolveu exposição gradual por vários anos. Os guardas florestais interagem diariamente com os primatas, desvendando o comportamento e simulando os mesmos hábitos, na tentativa de ganhar a confiança do grupo.

Para rastrear as famílias, os guias fazem vigílias na floresta e acompanham a movimentação dos primatas pelo parque de mais de 32 mil hectares. É com esse monitoramento manual que, via rádio, estima-se o tempo de caminhada. E ela pode ser bem longa, de até oito horas em mata fechada, com trechos acidentados, lama, sol e chuva a qualquer momento.

O motivo de tamanha dificuldade está no fato de que, claro, os gorilas-das-montanhas não estão esperando visitas, e se deslocam constantemente em busca de alimento.

O grande momento

Quando finalmente encontra-se um grupo de primatas, o guarda afirma que a visitação tem 60 minutos. Fotos e vídeos são permitidos, mas sem qualquer interação. Acredite: você passa boa parte deste tempo em transe ao se deparar com um animal de mais de 200 quilos a poucos metros de distância.

Alguns sortudos, como este que escreve, podem ter uma experiência inimaginável, frente a frente com o gorila, que resolve mudar sua rota e caminha em sua direção. Apreensão. Desespero. Êxtase. Admiração. Ele passa e me ignora. Sobrevivi. O ranger, com um rifle na mão, também fica aliviado. Acabou o tempo. É hora de voltar.

Para quem acha que dedicar uma viagem toda a este encontro de uma hora é loucura, tenha certeza: é mesmo. E é inesquecível.

Exigências para a viagem

  • Idade mínima: 15 anos
  • Passaporte com validade mínima de seis meses
  • Carteira internacional de vacinação contra febre amarela
  • Visto de entrada simples (preenchimento pode ser feito on-line, com taxa de US$ 50)
  • Permissão para visita aos gorilas (recomenda-se fazer o processo com no mínimo três meses de antecedência. A alta temporada vai de junho a setembro e dezembro a fevereiro)