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Elas perderam o medo de viajar sozinhas e contam como foi a 1ª experiência

Thais Carvalho Diniz

Do UOL, em São Paulo

22/01/2018 08h30

Estar na própria companhia pode ser um problema para algumas pessoas, desde almoçar, sair para a balada até ir ao cinema ou tomar um simples café. Quando estendemos essa solitude para uma viagem, a dificuldade abrange outros aspectos, como a insegurança de estar em uma cidade ou país desconhecido.

Por se sentirem vulneráveis em diversas situações, mulheres podem sofrer ainda mais com isso. E quando se veem diante de uma oportunidade de conhecer um lugar dos sonhos precisam de uma companhia, afinal "não é muito perigoso?".
 
Mas como mais sinal de que os tempos estão mudando, a independência financeira e emocional faz com que algumas consigam encarar o desafio e se aventurar na empreitada da viagem solo. 
 
A seguir, conversamos com quatro mulheres, de 27 a 59, que nos contaram como deixaram os medos e julgamentos de lado e passaram dias por aí consigo mesmas. 


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Do Chile ao Uruguai

Luiza na Cordilheira dos Andes, na fronteira entre Chile e Argentina - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Luiza na Cordilheira dos Andes, na fronteira entre Chile e Argentina
Imagem: Arquivo pessoal

"Minha primeira viagem sozinha foi em 2010, com 23 anos. O destino foi Chile, Argentina e Uruguai. A minha ideia era ir de São Paulo para Santiago e, por terra, para o Uruguai. Foram 15 dias viajando. Não foi exatamente uma escolha ir sozinha. Tive férias, dinheiro, mas ninguém podia ir comigo. Lembro que senti muito medo. Na noite anterior, pensei em desistir. Foi minha primeira grande viagem internacional e eu nunca tinha viajado tanto por terra. Atravessei a Argentina! Tirei boas lições e coragem para as próximas aventuras comigo mesma. Sempre tive a autoestima muito baixa, fiz terapia por anos. Viajar sozinha foi a melhor ferramenta para testar minha autoconfiança. É um momento em que você só tem a si mesma. E isso é muito legal", Luiza Buchaul, 31, jornalista.

Mochilão pela Europa

Lorena em Dublin, na Irlanda, durante o mochilão pela Europa - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lorena em Dublin, na Irlanda, durante o mochilão pela Europa
Imagem: Arquivo pessoal

"Em 2013 realizei meu sonho de fazer um mochilão pela Europa. Passei por Dublin (Irlanda), Londres (Inglaterra), Paris (França) e Lisboa (Portugal). Nos primeiros dez dias, tive a companhia de uma amiga, mas nos outros 21 fiquei sozinha. Não tinha feito antes por falta de oportunidade. Quando falava sobre essa vontade, a reação que eu recebia era: mas não é perigoso? E se algo acontecer? Isso jamais seria perguntado a um homem. É óbvio que as mulheres estão numa situação de maior vulnerabilidade, mas esse excesso de zelo é um resquício do machismo. A mulher brasileira, no seu dia a dia, corre mais risco do que viajando sozinha pela Europa, por exemplo. Em Paris, fiquei em Montmartre, um bairro que tem muita prostituição, mais sombrio. Fui ao Museu do Sexo e, ao voltar sozinha andando de madrugada --um trajeto de 20 minutos--, não passei por uma esquina sem que um homem me abordasse. Simplesmente falava 'não', fechava a cara e continuava andando. Viajar sozinha é um desafio grande para mulher que não está acostumada a se virar. Mas é possível escolher destinos mais seguros. Mesmo com medo dá para traçar um plano sem riscos. É desafiador, enriquecedor e um sinal de tempos em que mais mulheres são donas do seu destino", Lorena Monnerat, 37, professora de inglês.

Roland Garros e dez dias em Paris

Maria Lucia no torneio de Roland Garros, em Paris - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Maria Lucia no torneio de tênis Roland Garros, em Paris
Imagem: Arquivo pessoal

"Meu sonho era assistir o torneio de tênis Roland Garros. Em maio do ano passado, comprei tudo e, mesmo sem ninguém poder ir comigo, me aventurei. Três meses antes fiz um cursinho bem básico de francês para me virar. Passei dez dias em Paris sozinha. Dei conta de decifrar o mapa da cidade e do metrô, algo sempre muito difícil para mim. Visitei todos os lugares que eu quis, fui ao torneio de tênis diariamente e fiz tudo da forma que eu queria, no horário estabelecido por mim. Em um país no qual eu não dominava a língua e eles pouco falam inglês, me virei superbem. Foi fantástico! Me senti a melhor mulher do mundo, empoderada. Um dia cismei que queria ver acenderem as luzes da Torre Eiffel. Tomei o metrô às 23h e fui. Não me senti sozinha em nenhum momento, falava com as pessoas na rua, pedia para tirarem as fotos para mim. Não me senti vulnerável. Isso me mostrou que não dependo de ninguém e que sou uma boa companhia para mim mesma. Se eu puder dar um conselho às mulheres é: façam o que quiserem, quando desejarem. É uma experiência incrível", Maria Lucia Aleixo, 59, aposentada.

Dez dias em Portugal

Isabela em Belém, durante a viagem em Portugal - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Isabela em Belém, durante a viagem em Portugal
Imagem: Arquivo pessoal

"Em agosto de 2017 decidi que viajaria sozinha pela primeira vez. Meu namorado foi fazer um curso de quatro semanas de alemão na Universidade de Munique, na Alemanha, mas seria muito tempo para ficar em um lugar só. Como eu queria conhecer Portugal, arrisquei e fui sozinha. Sou uma pessoa tímida e achei que não ia curtir sair, jantar sozinha e não faria amigos. Além disso, tinha a insegurança e o medo de ser uma mulher viajando solo. Como sempre que viajo não fico em hotel, a primeira questão foi escolher uma casa só com mulheres. Mesmo assim, rolou uma preocupação maior, afinal você está dentro da casa da pessoa e sozinha. Fiquei bastante atenta à vizinhança, perguntei sobre o movimento da rua e em alguns lugares as pessoas nem entendiam a minha preocupação. Esse medo de chegar tarde é cultural, porque nos acostumamos a senti-lo no Brasil. Várias pessoas que eu conheci em Lisboa andavam a pé, mesmo de madrugada. A melhor parte foi conhecer pessoas. Quando estamos acompanhados em viagens, ninguém fala com você. E isso aconteceu desde o garçom até quem estava a turismo também. Foi uma experiência muito legal", Isabela Barreto, 27, advogada.