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No Leste europeu, você pode se hospedar em esconderijo da 2ª Guerra

Carlos Oliveira

Colaboração para o UOL, de Brno (República Tcheca)

07/12/2016 17h22

Um bunker nuclear construído durante a Segunda Guerra Mundial é hoje um hostel com salas e aposentos temáticos em Brno, segunda cidade mais populosa da República Tcheca. Construído em 1943, em uma colina, ele atinge até 30m de profundidade e é decorado com artigos como máscaras, roupas antirradiação, máquinas de escrever e estações antigas de telefonia.

Com um museu sobre as guerras do século 20, o espaço de 1,5km² já foi usado em apresentações musicais e até em despedida de solteiro.

O fundador, Pavel Palecek, 39, é natural de Brno e sempre teve fascinação pelo abrigo. "Ele era secreto e não aparecia nos mapas da cidade", lembra. O local tinha capacidade para 600 pessoas e chegou a ser usado durante três bombardeios à cidade. Após a guerra, foi transformado em loja de vinhos por pouco tempo, antes de ser confiscado pelos comunistas e virar centro de comando.

Hoje propriedade do governo municipal, o local passou a ser usado como ponto de encontro por locais, conta Palecek. Ele revela que gastou mais de 100 mil euros para renovar e adequar o espaço às normas sanitárias e de segurança, garantindo ventilação, fornecimento contínuo de água e aquecimento. Quando as obras começaram, o chão estava inundado e muitos artigos, mofados. 

Hostel ainda precisa funcionar como abrigo
A negociação com o governo não foi fácil e durou 15 meses. "Está no contrato que o espaço deve ficar disponível a qualquer momento como abrigo em caso de ataques ou desastres naturais", revela o empresário.

O hostel comecou as atividades em abril de 2016 e Palecek estima que terá cerca de 30 mil visitantes em um ano. O público é composto principalmente por jovens do centro-leste europeu e mochileiros. Uma noite em quarto compartilhado custa 490 coroas checas (R$ 63*) no inverno. 

"Queremos que as pessoas sintam na pele como é ficar num bunker nuclear e se informem sobre as dificuldades da guerra. Após sair daqui, o dia parece mais claro", acredita Palecek. 

Parte da experiência está nos funcionários: eles se vestem a caráter, como oficiais militares ou enfermeiras de décadas passadas. O fundador acredita que aproveitou a empreitada para fazer um projeto social: "Todos que trabalham aqui são estudantes ou têm algum tipo de deficiência. O tempo de treinamento é maior, mas são pessoas muito comprometidas". Eles organizam tours gratuitos em inglês e tcheco pelo bunker e pela cidade. 

Proteção nuclear
Idealizado para garantir proteção até em um eventual ataque com bomba atômica, o bunker conta com um sistema avançado de filtração, capaz de limpar partículas radioativas do ar. Salas de descontaminação aumentam a segurança - os hóspedes podem experimentar roupas e máscaras. Uma das saídas de emergência ainda está ativa e hoje desemboca em um parque. 

Um motor a diesel foi instalado ainda na década de 1940 para abastecer toda a estrutura, mas o período máximo de isolamento é de três dias, por conta da água: mesmo com um tanque com capacidade de 2.000 litros, não há sistema de captação ou purificação e o recurso logo acabaria.

O hostel guarda ainda salas de comunicação, preservadas com equipamentos originais. Trata-se de estações manuais de telefone, máquinas de escrever e telégrafos, usados pelos comunistas no passado para receber e enviar ordens. Um conjunto de cubículos, nunca usado, é dedicado à criptografia: uma mensagem seria dividida em partes e entregue a diferentes soldados para codificação - desta forma, nenhum deles teria acesso ao conteúdo integral.

* Preço consultado e convertido em dezembro de 2016 e sujeito a alterações