Quer ir embora pra Pasárgada? Celebrado por Manuel Bandeira, o lugar existe
Em um de seus mais famosos poemas, Manuel Bandeira anuncia: "vou-me embora pra Pasárgada", um lugar onde "sou amigo do rei" e "tenho a mulher que quero, na cama que escolherei".
Este local idílico, apresentado por Bandeira como um destino onde é possível viver, com grande intensidade, os prazeres da vida, não é totalmente fictício. Pasárgada existe, é uma antiga capital do Império Aquemênida e, hoje, está situada dentro da República Islâmica do Irã.
Lá, não há chance de reproduzir "os banhos de mar" idealizados pelo poeta: o sítio arqueológico fica no meio de uma região árida, sem acesso ao oceano. E esqueça a parte de "tem prostitutas bonitas, para a gente namorar".
Mas o encontro com um rei faz parte do passeio: no local está o mausoléu que, segundo os iranianos, abriga os restos mortais de Ciro, o Grande, líder do império Aquemênida e que, no século 6 a.C., construiu Pasárgada como a sede de seu governo.
O túmulo de Ciro, que controlou vastos territórios na Ásia, é a grande atração da área: trata-se de uma estrutura rochosa com quase dez metros de altura e cercada por seis degraus de calcário, que lhe dão aparência de templo religioso.
Ao redor dela, aparecem outros monumentos espalhados por uma área de 1,5 km², como as ruínas de palácios reais (umas delas pontuadas pelos restos de 30 colunas) e resquícios do que teriam sido alguns dos primeiros exemplos de "chahar bagh", um estilo de jardim persa com lindos espaços verdes simétricos e que até hoje pode ser admirado em várias cidades do Irã.
Um túmulo que, acredita-se, abriga os restos de Cambises 2º, filho e sucessor de Ciro, o Grande, também marca presença em Pasárgada -- lugar que entrou em declínio depois que os aquemênidas mudaram sua capital para outras bandas (como Susa e Persépolis) e que teve sua estrutura danificada ao ser saqueado por soldados de Alexandre, o Grande, quando este invadiu a Pérsia no século 4 a.C.
Hoje, é preciso forçar um pouco a mente para, no meio dessas ruínas, visualizar a imponência que Pasárgada ostentava na época do Império Aquemênida. Mas, como Manuel Bandeira provou em sua poesia, a imaginação pode tudo.
Leia o poema completo abaixo, depois das fotos.
SERVIÇO
A melhor maneira de visitar Pasárgada é a partir da cidade de Shiraz, que fica a 140 km do sítio arqueológico. É aconselhável contratar um tour que disponibilize veículo e guia, pois não é fácil chegar à antiga capital do império Aquemênida de transporte público. O passeio ainda pode incluir uma visita a Persépolis, que também está na região. Para saber mais sobre viagens no Irã, clique aqui.
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
*O jornalista Marcel Vincenti viajou ao Oriente Médio com o apoio da companhia aérea Turkish Airlines.
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