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Praias, montanhas e terrorismo: veja o cenário real de "Os Dez Mandamentos"

Marcel Vincenti

Colaboração para o UOL, do Cairo (Egito)

25/11/2015 08h00

O monte Sinai e o mar Vermelho foram cenários para momentos fundamentais da novela "Os Dez Mandamentos", da Record, que teve sua primeira parte concluída nesta segunda-feira (23). 

A região, onde Moisés teria recebido as Tábuas da Lei enquanto conduzia o povo hebreu em sua travessia para a Terra Prometida, é hoje um misto de terreno de peregrinações, paraíso de hedonistas e cenário de guerra.

O monte Sinai é um grande ponto de atração de turistas para o Egito, que costumam subir a montanha percorrida por Moisés durante a madrugada e, ao chegar lá em cima pelo amanhecer, admirar o que talvez seja o mais mágico nascer do sol do Oriente Médio, que envolve em luz e neblina os áridos vales que marcam a área. 

Chamado pelos árabes de "Jebel Musa" (Montanha de Moisés), o monte Sinai tem 2.290 metros de altura e seu cume pode ser atingido de duas maneiras: sobre o lombo de camelos ou a pé, através de uma trilha conhecida como Escada da Penitência, na qual os andarilhos devem superar 750 degraus irregulares de pedra. A empreitada é cansativa e, geralmente, se vê envolta por temperaturas gélidas. Mas tais desafios só fazem o passeio ganhar ainda mais sua cara de peregrinação.

Atrações religiosas não faltam no destino: na área da montanha fica o monastério de Santa Catarina, cuja origem remonta ao século 4 d.C. e que abriga uma das comunidades monásticas mais antigas do mundo. No complexo é possível visitar edifícios como a Capela da Sarça Ardente (no local onde Deus teria falado com Moisés) e a Igreja da Transfiguração, onde se encontram os restos da mártir Santa Catarina, que batiza o complexo. 

Mar Vermelho

A península do Sinai, onde se situam o monte Sinai e o monastério de Santa Catarina, é banhada por outro ícone bíblico: o mar Vermelho. Se Moisés o cruzou durante o Velho Testamento, em uma cena que deu pico de audiência à Record, hoje os turistas gostam é de afundar nesse corpo de água.

A poucas horas do monte Sinai ficam dois balneários antagonistas. De um lado, está Sharm el-Sheikh, um recanto de hotéis caros, cassinos e discotecas, com ótimas águas para o nado e snorkel. Do outro fica Dahab, um lugar de atmosfera hippie recheado de pousadas baratas, restaurantes em conta e uma orla que exibe um mar cristalino.

Esta parte do litoral egípcio tem alguns dos melhores pontos de mergulho do Oriente Médio, com recifes extremamente coloridos e lindos peixes. O famoso Buraco Azul, por exemplo, indicado apenas para mergulhadores experientes, tem mais de 100 metros de profundidade. 

Infelizmente, a península do Sinai está hoje mais propensa a ser vista através de uma tela de TV do que em uma jornada de verdade. O lugar é atualmente território de atuação de grupos terroristas. Há indícios de que a queda da aeronave russa que viajava entre o balneário de Sharm el-Sheikh e São Petersburgo no último dia 31 de outubro foi causada por uma bomba plantada no avião, em solo egípcio, pelo Estado Islâmico.

Essa instabilidade faz com que diversos países do mundo não aconselhem, neste momento, jornadas para a maior parte do Sinai. O ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, por exemplo, diz que apenas "viagens extremamente essenciais" devem ser realizadas à área que rodeia o monastério de Santa Catarina e sua montanha sagrada.

Sharm el-Sheikh, por sua vez, não é um destino proibido pelo governo britânico. Mas ir à região e não poder visitar o monte Sinai por medo de ataques terroristas é, sem dúvida, um grande pecado.