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Museu recria os tempos de totalitarismo soviético no Leste Europeu

Felipe Floresti

Do UOL, em São Paulo

05/05/2015 08h00

“Vai pra Cuba” já se tornou bordão para qualquer um que se coça só de escutar a palavra comunismo. Mas para quem realmente deseja ver seu colega esquerdista sofrer com o pior do regime, deveria aconselhar “vai pra Lituânia”. É que lá foi criado o primeiro museu subterrâneo do socialismo, que coloca os visitantes durante três horas como se estivesse vivendo sob as regras de um regime totalitário dirigido pela União Soviética.

No final da década de 70, em meio à Guerra Fria, os soviéticos começaram a construir uma série de instalações subterrâneas resistentes a bombas, para abrigar o sistema de televisão em caso de um ataque nucelar americano. O terceiro deles foi construído em 1984 nos arredores da cidade de Vilnius, atual capital da Lituânia, parte da URSS de 1940 a 1990. Nesse espaço de três mil metros quadrados, seis metros abaixo da terra, foi construído o museu.

Logo ao descer os degraus, subsolo adentro, já dá para ter o primeiro gostinho da imersão ao mundo soviético, com o hino tocando repetidamente em um velho rádio, enquanto lâmpadas piscam sem parar em um ambiente todo antigo e mal cuidado. “Esqueça seu passado! Esqueça sua história!”, vocifera um guarda vestido em uniformes verdes, enquanto segura um grande pastor-alemão que late e rosna sem parar. “Bem-vindo à União Soviética! Aqui você é ninguém”.

Os visitantes (cerca de 40 por vez) logo são presenteados com um sobretudo muito úmido e uma xícara de café soviético (que nada tem de café, já que é feito de cevada), não sem antes assinar um termo de segurança que, entre outras cláusulas, concorda em receber punições físicas e psicológicas em caso de desobediência. 

Outra "atração" do museu é a experiência de ser deportado da URSS - Divulgação/Soviet Bunker - Divulgação/Soviet Bunker
Imagem: Divulgação/Soviet Bunker

Durante três horas os participantes são obrigados a marchar por corredores gelados, sempre sob a atenção de cães ferozes. São humilhados, interrogados, forçados a assinar confissões falsas de crimes imaginários, além de assistir à muita propaganda soviética e receber treinamento em caso de um ataque dos “porcos imperialistas”. Tudo recriando o que, segundo eles, era a vida na Lituânia sob as regras da URSS.

Entre os soldados, atores se misturam com antigos membros da KGB, o que garante o realismo da vivência. “Eles podem ficar presos no tempo e esquecer que são realmente atores”, conta a criadora do Bunker, Ruta Vanagaite, em entrevista ao jornal inglês The Guardian. “Nós tivemos que demitir alguns dos guardas porque eles eram um pouco duros demais com as pessoas. É muito fácil quebrar a livre vontade das pessoas. Uma vez que você está aqui embaixo, seis metros sob a terra, sente como se não tivesse saída”, revela Ruta, que afirma ser normal desmaios durante as três horas que as pessoas passam por ali.

A maioria dos visitantes é de jovens lituanos que pouco viveram o período de dominação soviética no país e querem ter uma ideia de como era, além de alguns estrangeiros curiosos. É uma boa também para aqueles que sonham com o retorno da ditadura, já que, de esquerda ou direita, regimes totalitários se assemelham muito na hora da repressão.

Quem se interessou e tiver a oportunidade de conhecer a Lituânia, pode checar datas e agendar a visita no site do espaço.