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Floresta, cachoeira e arte: conheça o jardim surreal na selva mexicana

Felipe Floresti

Do UOL, em São Paulo

04/05/2015 17h37

Grandes ruínas dos Maias e Astecas estão espalhadas pelo território mexicano, encantando os milhões de turistas que visitam o país anualmente. Mas quem estiver de passagem pelo estado de San Luis Potosí, nos arredores da cidade de Xilitla, vai achar que, em algum momento, as civilizações originais mexicanas enlouqueceram. São vigas reclinadas como enormes serpentes - instaladas para segurar um único vaso, escadas que levam a lugar nenhum, portas que não podem ser abertas e uma biblioteca sem livros: tudo embrenhado na floresta tropical.

Estas construções malucas, porém, são bem mais recentes que Maias e Astecas. Foram criadas graças à iniciativa do inglês Edward James. Filho de um magnata americano, ele dedicou parte de sua vida às artes. Apaixonado pelo surrealismo, foi um dos principais apoiadores de grandes artistas como Salvador Dalí e René Magritte, aparecendo inclusive em duas obras do segundo.

No final da década de 40, James adquiriu um terreno de 32 hectares em meio à floresta de Huastecan, no alto das montanhas da Sierra Madre Oriental, a 610m de altitude, onde inicialmente estabeleceu um grande orquidário. Mas o surrealismo estava tão presente na vida de James que a natureza deu sua contribuição. Em 1962, durante uma viagem sua para Nova York, uma improvável nevasca atingiu a região, arruinando as flores do lugar. “Cinzas brancas caíram do céu e queimaram tudo”, explicaram os atordoados nativos ao patrão, quando ele chegou. 

O jardim surrealista ganhou o nome de "Las Pozas" ("as piscinas", em espanhol) devido às suas piscinas naturais e cachoeiras  - Creative Commons/Rod Waddington - Creative Commons/Rod Waddington
O jardim surrealista ganhou o nome de "Las Pozas" ("as piscinas", em espanhol)
Imagem: Creative Commons/Rod Waddington

Ele decidiu então construir algo que não poderia ser destruído por más condições meteorológicas. Por 20 anos dedicou seu tempo e fortuna na concepção de Las Pozas, um jardim gigante tomado por cachoeiras e piscinas naturais, intercaladas com grandes esculturas surrealistas de concreto. Enquanto algumas esculturas são inspiradas em plantas e árvores da floresta, outras tiveram base no acervo de artistas surrealistas que James trouxe da Inglaterra.

São totens, salas ocultas, torres e escadas sem propósito, em meio a prédios com os sugestivos nomes de “Casa de três andares que poderiam ser cinco”, “Casa com o teto de baleia” e “Templo dos Patos”. James chegou ao ponto de instruir alguns artesãos (dentre os centenas que trabalharam para ele) a deixar suas obras incompletas.

No ano de 1984, quando faleceu, James deixou completas 38 esculturas inspiradas no movimento surrealista. Porém, sem os recursos do milionário, o local ficou à beira do abandono, com a vegetação dominando as obras, criando uma integração ainda mais interessante entre arte e natureza, mas causando sérios danos às estruturas.

Somente em 1997 um fundo foi criado para restaurar e preservar a criação de James. Hoje o jardim surreal está aberto para visitação. Mais informações no site do local.