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Cavernas sagradas pelo mundo já foram abrigo de deuses e moradas de santos

Felipe Floresti

Do UOL, em São Paulo

22/03/2015 08h00

Zeus nasceu em uma caverna. Já São Paulo morou em uma. O arcanjo São Miguel apareceu dentro de uma gruta, enquanto outras tantas foram transformadas em templos. De simples cavidades naturais em rochas, algumas cavernas foram elevadas ao sagrado, sendo alvo de peregrinação, ou abrigo da fé de diversas religiões. Preparamos uma lista com algumas das mais impressionantes cavernas sagradas do mundo.

Caverna Diketon – Creta, Grécia 

Caverna Diketon, em Creta, na Grécia - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Antes de existirem os deuses, existiam os titãs. E um deles, Kronos, tinha a mania de comer seus filhos assim que nasciam. A titã Reia não gostava muito dessa ideia, e um deles foi escondido em uma caverna no Monte Aegaeon, perto da antiga cidade conhecida como Lyttos. A criança era, nada mais nada menos, que o pai dos deuses e dos homens, Zeus. A caverna foi identificada como a Dikteon, próxima à pequena vila de Psyhro, no lado leste de Creta. Durante muitos anos foi local de oferendas, mas com o vertiginoso declínio do número de pessoas que creem no politeísmo grego, hoje serve como atração turística da ilha, com suas impressionantes formações geológicas.

Gruta de São Paulo - Malta 

Gruta de São Paulo, em Malta  - James Stringer/Creative Commons - James Stringer/Creative Commons
Imagem: James Stringer/Creative Commons

No ano 60 D.C, São Paulo era prisioneiro do Império Romano. Acusado de ser um rebelde político, estava sendo transportado de navio para cumprir pena onde hoje fica a capital Italiana. O navio, porém, afundou próximo à ilha de Malta, onde se abrigou juntamente com os outros 274 presos. Foi quando uma cobra o picou que a sorte de São Paulo começou a mudar. Ele não sentiu os efeitos da picada, passando a ser respeitado pelos moradores locais. Consta que ele ainda curou o pai do líder local de uma forte febre. Foi o bastante para converter a ilha ao cristianismo e elevar ao sagrado os locais por onde passou, como na gruta que serviu de abrigo durante sua passagem por Malta. Uma capela foi erguida sobre ela, enquanto a caverna foi decorada em homenagem ao apóstolo de Jesus Cristo.

Templo de São Miguel - Itália 

Templo de São Miguel, na Itália - Terry Feuerborn/Creative Commons - Terry Feuerborn/Creative Commons
Imagem: Terry Feuerborn/Creative Commons

Quatro aparições do arcanjo São Miguel alçaram uma caverna no Monte Gargano, na província italiana de Foggia, à ponto de peregrinação, incluindo a visita de São Francisco de Assis e de seis papas. As três primeiras aparições foram por volta do ano de 490, para o Bispo do antigo vilarejo de Siponto. Na época, São Miguel impediu um ataque da cidade pagã de Odoacre sobre Siponto, além de ter deixado um manto vermelho e uma cruz de cristal dentro da caverna. A outra aparição foi 1656, atendendo ao pedido de um bispo local para livrar a cidade da peste negra, que assolava a região. Hoje a caverna foi transformada em templo, com belos afrescos da era medieval e muitas esculturas.   

Cavernas Sof Omar – Etiópia 

Cavernas Sof Omar, na Etiópia - Rod Waddington/Creative Commons - Rod Waddington/Creative Commons
Imagem: Rod Waddington/Creative Commons

Com 15 km de extensão, as cavernas Sof Omar representam um dos maiores sistemas de cavernas da África, esculpidas ao longo do tempo pelas águas do rio Weib. Considerada Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade, é sagrada para os Islâmicos. Por indicação de Alá, o sheik Sof Omar encontrou a entrada da caverna e juntamente com seus seguidores passaram a usá-la como mesquita, se aproveitando das colunas, domos e abóbadas criadas pela erosão do calcário, em uma sofisticada obra de engenharia da natureza.

Actun Tunichil Muknal - Belize 

Actun Tunichil Muknal, em Belize - Bernard Dupont/Creative Commons - Bernard Dupont/Creative Commons
Imagem: Bernard Dupont/Creative Commons

Adentrar ao mundo dos mortos da civilização Maia não é fácil. É preciso escalar pedras, mergulhar e caminhar em um percurso de 1,6 km para chegar à Caverna do Sepulcro de Cristal. Utilizado como local de sacrifícios, tem esse nome por conta de sua principal atração, a “Donzela de Cristal”, o esqueleto de uma adolescente que, por meio de um processo natural da caverna, obteve um visual reluzente cristalizado. Objetos de cerâmica utilizados em rituais também seguem conservados dentro da caverna, que tem quase cinco quilômetros de extensão, e fica dentro da Reserva Natural da Montanha Tapir.

Cavernas Elephanta - Índia 

Cavernas Elephanta, na Índia - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

A 10 km do porto de Mumbai, está a Cidade das Cavernas, ou Gharapuri, em Hindu, uma ilha que, como o nome diz, está tomada por diversas cavernas. O impressionante, porém, é que elas foram todas esculpidas dentro das duas grandes montanhas que formam a ilha. Cinco cavernas formam o primeiro grupo, seguindo tradições hindus, dedicada à deusa Shiva, enquanto o segundo, menor, é formado por duas de tradições budistas, totalizando 5.6 km² de cavernas. Não se sabe exatamente quem criou, nem quando, mas estima-se que foi entre os séculos 5 a 8. Muitos acreditam que a obra não foi feita pela mão humana, mas sim por deuses. Seja o que for, o fato é que é considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 1987, passando por uma intensa restauração após anos de abandono.

Cavernas Longmen - China 

Cavernas Longmen, na China - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Cem mil estátuas budistas estão espalhadas pelos 1.000 metros das cavernas Longmen, situadas no sul da cidade chinesa de Luoyang, entre as montanhas Xiang e Longmen. São ainda 2.300 grutas, 2.800 monólitos entalhados e 40 pagodes, todos construídos ao longo de 400 anos, quando no ano 493 o imperador Xiaowen da dinastia Wei decidiu mudar a capital de seu reino para lá. É um dos maiores exemplos da arte budista chinesa, representando não somente a crença, mas os costumes de toda uma era. As grutas foram declaradas Patrimônio Mundial pela Unesco em 2000.

Caverna Dambulla - Sri Lanka 

Caverna Dambulla, no Sri Lanka - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Há 22 séculos este monastério encravados nas montanhas da região central do Sri Lanka é alvo de peregrinação. Sua história começou no século 1 a.C, construído pelo rei Valagambahu, que ordenou a construção do que hoje é o mais bem preservado templo em um complexo cavernícola do país. No total são cinco santuários interconectados, abrigando 2.100 m² de murais budistas, sendo a maioria pintado diretamente no interior das cavernas, além de 157 estátuas. O complexo ainda passou por diversas reformas e ampliações ao longo da história, até ser considerado patrimônio da Unesco em 1991.

Batu Caves - Malásia 

Batu Caves, na Malásia - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Um dos mais importantes santuários hindus fora da Índia fica em um complexo de cavernas de 13 km de extensão ao norte de Kuala Lumpur. Formado por três grandes cavernas, e diversas outras menores, o templo foi construído há cerca de 100 anos em homenagem ao deus da guerra Hingu, Murugan. É dele a estátua gigante localizada na entrada, com mais de 42 metros de altura. É uma das principais atrações turísticas da Malásia, com direito à museu e galeria de arte, todas repletas de estátuas e pinturas hindus.

Cavernas Mogao  - China 

Cavernas Mogao, na China - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

O maior conjunto de arte budista do mundo está localizado na cidade de Dunhuang, na província de Gansu, na China. São 735 grutas com mais de 45 mil m² de pinturas murais e mais de 2.000 esculturas, sendo boa parte representações de buda, ganhando o nome de “Montanhas dos Mil Budas”. Sua construção iniciou no ano 366, durando até o século 14. Localizado em um ponto privilegiado da antiga rota da seda, retrata a evolução da arte budista ao longo de mil anos. É considerado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco desde 1987.