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Do Rio à China, bibliotecas fascinantes têm obras de arte e até morcegos

Felipe Floresti

Do UOL, em São Paulo

15/03/2015 07h00

"Tesouros dos remédios da alma". Assim eram chamadas as bibliotecas no Egito. Algumas, porém, extrapolam a ideia de "tesouro", com obras de arte, arquitetura sofisticada, relíquias antigas e até morcegos para proteger tudo. O UOL Viagem preparou uma lista de lugares onde ler um livro é levado a um outro patamar.

Biblioteca Joanina - Coimbra, Portugal 

O nome Biblioteca Joanina, em Coimbra, Portugal, é em homenagem ao rei D. João V - Biblioteca Joanina/Divulgação - Biblioteca Joanina/Divulgação
Imagem: Biblioteca Joanina/Divulgação

Com um dos acervos mais ricos entre as bibliotecas europeias, a Casa da Livraria, seu nome original, tem em seu prédio um dos principais expoentes do barroco português. O nome Joanina vem em homenagem ao rei D. João V, que patrocinou sua construção, entre 1717 2 1728. A referência ao monarca não está só no nome. Toda arquitetura da Joanina é pensada em função a um retrato de D. João V. A nave central do prédio tem estrutura semelhante à de uma capela, sendo que o retrato do rei fica onde seria o altar.

Outra curiosidade é o modo de conservação dos seus cerca de 70 mil livros. Uma colônia de morcegos já estabelecida ao longo dos séculos mantém sob controle a população de insetos que comem papel.

Biblioteca Liyuan - Jiaojiehe, China 

Biblioteca Liyuan, em Jiaojiehe, na China - Creative Commons/Forgemind - Creative Commons/Forgemind
Imagem: Creative Commons/Forgemind

O que costuma ser usado como lenha no vilarejo de Jiaojiehe, perto de Pequim, se transformou em uma biblioteca comunitária graças à obra do arquiteto Li Xiadong. Localizada a cinco minutos de caminhada da vila, fica em meio à floresta e montanhas, na beira de um lago. Pensada para providenciar perfeita integração com a natureza, tem seu interior protegido por vidro, permitindo constante iluminação natural. Apesar de vencer diversos prêmios de arquitetura, Li Xiadong conseguiu o que mais queria: proporcionar um lugar agradável para os cerca de 300 moradores de Jiaojiehe ler um livro.

Biblioteca do Palácio de Mafra- Lisboa, Portugal 

Biblioteca do Palácio de Mafra, em Lisboa, Portugal  - Creative Commons/Orizzonti - Creative Commons/Orizzonti
Imagem: Creative Commons/Orizzonti

O monumental palácio/monastério que mistura estilos barroco e neoclássico tem em sua biblioteca o seu maior tesouro. Abriga mais de 36 mil livros com encadernação de couro e gravados à ouro, sendo a segunda edição d’Os Lusíadas, de Luís de Camões, sua maior relíquia. O salão, desenhado pelo arquiteto Manuel Caetano de Sousa, tem piso todo revestido com mármore, estantes de madeira estilo rococó. Sob as estantes, os guardiões da biblioteca, uma colônia de morcegos é liberada toda noite para devorar os insetos que ameaçam as relíquias dos séculos 14 ao 19.

Biblioteca Sainte-Geneviève - Paris, França 

Biblioteca Sainte-Geneviève, em Paris, na França - Creative Commons/Marie-Lan Nguyen - Creative Commons/Marie-Lan Nguyen
Imagem: Creative Commons/Marie-Lan Nguyen

"Um templo do conhecimento e espaço de contemplação". Assim foi descrita a biblioteca de Sainte-Geneviève na época em que foi construída, entre os anos 1830 e 1850. Desenhada pelo arquiteto Henri Labrouste, a biblioteca tem o ferro como sua principal matéria prima, sendo reverenciada por introduzir alta tecnologia (da época) na realização de um prédio monumental. Sua coleção inclui cerca de 2.000 documentos, sendo boa parte herdada da da Abadia de St. Genevive, a maior da França, com obras do século 6.

Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro 

Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro - Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro/Divulgação - Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro/Divulgação
Imagem: Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro/Divulgação

A maior biblioteca de autores lusitanos fora de Portugal fica no Rio de Janeiro. São mais de 350 mil livros distribuídos por suas estantes, entre elas a primeira edição de d’Os Lusíadas, de 1572. A arquitetura do prédio também tem influência portuguesa, sendo inspirada no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa. Sua inauguração, em 1837, contou com a presença da princesa Isabel, além de ter sido sede dos primeiros encontros da Academia Brasileira de Letras, com participação de Machado de Assis. Outra relíquia lá abrigada é o Altar da Pátria, feito em marfim, prata e mármore, que simboliza as grandes navegações lusitanas.

Biblioteca de Trinity College - Dublin, Irlanda 

Biblioteca de Trinity College, em Dublin, na Irlanda - Gety Images - Gety Images
Imagem: Gety Images

Fundada juntamente com a universidade, é a maior biblioteca da Irlanda. São seis milhões de documentos, entre livros, jornais, manuscritos, mapas e músicas, que refletem os 400 anos do desenvolvimento acadêmico. O Long Room (ou salão longo) é o mais chamativo da biblioteca. Promovido a atração turística da cidade de Dublin, foi construído entre 1712 e 1731, abrigando 200 mil dos mais antigos livros da Trinity.

É enfeitado por uma coleção de bustos de mármore, homenageando escritores, filósofos e apoiadores da universidade. Lá também fica a harpa medieval que se tornou simbolo do país, sendo estampada nas moedas de Euro irlandesas. Em outro salão, porém, a mais famosa atração da biblioteca: o Livro de Kells. Escrito a mão por monges celtas em 800 d.C, é famoso pela preciosidade dos detalhes nele impressos, com ilustrações e gravuras contendo os quatro evangelhos de Novo Testamento.

Monastério de San Florian - San Florian, Áustria 

Monastério de San Florian, em San Florian, na Áustria - Divulgação/St. Florian - Divulgação/St. Florian
Imagem: Divulgação/St. Florian

Em um dos mais antigos e belos monastérios da Áustria, uma biblioteca é sua maior atração. São cerca de 150 mil livros, sendo 108 mil de antes de 1900, incluindo alguns do século 16, e mais de 800 manuscritos medievais. Isso abrigado em um belo hall do prédio construído em arquitetura barroca, com grandes estantes de madeira minuciosamente entalhadas, cobrindo paredes inteiras. No teto, os afrescos de Bartolomeo Altomonte e Antonio Tassi, pintado em 1747, mostram o casamento da virtude com a ciência sob a proteção da igreja.

Biblioteca de Admont - Admont, Áustria 

Biblioteca de Admont, em Admont, na Áustria  - Creative Commons/Jorge Royan - Creative Commons/Jorge Royan
Imagem: Creative Commons/Jorge Royan

Os monastérios da Áustria parecem mesmo destinados a abrigar belas bibliotecas. Essa na cidade de Admont, no centro geográfico do País, é outro bom exemplo. Conhecida como a maior biblioteca monástica do mundo, tem um acervo de 70 mil livros desde 1776, quando foi criada. O monastério é bem mais velho, fundado por monges beneditinos em 1074.

A arquitetura da biblioteca se destaca por sua composição toda em branco e dourado, combinando com os belos afrescos do teto, que representam as ideias do período iluminista. O interesse no monastério, porém, não fica só no passado. Desde 1997 vem investindo na patronagem de novos artistas com a organização de exposições de arte moderna em suas dependências, além de criar uma espécie de selo “Made for Admont” (ou “feito para Admont”).

Biblioteca Nacional da Áustria - Viena, Áustria 

Biblioteca Nacional da Áustria, em Viena - Creative Commons/Tina Monimentalla - Creative Commons/Tina Monimentalla
Imagem: Creative Commons/Tina Monimentalla

A fartura de belas bibliotecas da Áustria tem seu ápice na capital. Construída em 1722, a Biblioteca Nacional da Áustria possui mais de 7,4 milhões de registros, incluindo antigos papiros e uma área toda dedicada ao Esperanto, a língua universal. A imponente sala principal, com cerca de 80 metros de largura e 20 de altura, tem a cúpula toda decorada com afrescos do antigo pintor da corte Daniel Gran. O capricho se explica: fundada pelos Habsburgos, era utilizada como residência de inverno pelo imperador Carlos VI.

Biblioteca Central de UNAM - Cidade do México, México 

Biblioteca Central de UNAM, na Cidade do México - Creative Commons/Héctor Ferreiro  - Creative Commons/Héctor Ferreiro
Imagem: Creative Commons/Héctor Ferreiro

A Biblioteca Central da Universidade Nacional Autônoma do México se tornou um dos elementos urbanos mais fotografados da capital e um emblema da cultura mexicana. Tudo por causa do artista Juan O’Gorman. Foi ele que transformou os 4.000 metros quadrados de fachada do prédio em um mural gigante, todo em mosaico de vidro colorido, contando a história mexicana pelo ponto de vista das civilizações pré-colombianas. Todo o edifício foi inspirado na representação de Tláloc, deus da chuva e da fertilidade na religião antiga de Nahua-Culhua. A biblioteca contribuiu para que a Unesco considerasse seu prédio, juntamente com os outros da universidade, patrimônio cultural da humanidade.