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Rede de hotéis oferece mordomos para hóspedes de suítes luxuosas

Camareiros agora fazem parte do serviço oferecido nas suítes luxuosas do hotel Pierre, em NY - Lirado Romero/The New York Times
Camareiros agora fazem parte do serviço oferecido nas suítes luxuosas do hotel Pierre, em NY Imagem: Lirado Romero/The New York Times

Jesse McKinley

New York Times Syndicate

13/04/2013 10h05

Como mordomo formado pelo programa dos Hotéis Taj, em Nova Déli, Anupam Guha diz que já trabalhou com muita gente famosa, inclusive o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair ("Um homem muito digno", diz ele, "com um coração muito bom") e Aga Khan IV (fã de doces, a quem Guha serviu morangos glaçados).

Ultimamente, porém, vem cumprindo essa tarefa nos EUA, como parte do novo "serviço de assessoria real" do The Pierre, um hotel na Quinta Avenida, em Nova York. Iniciada em julho, a opção promete aos hóspedes das onze suítes especiais (cujas diárias variam de US$ 5 mil a US$ 20 mil) acesso praticamente ilimitado a Guha e outros dois indianos impecavelmente treinados que, além de tudo, usam luvas, têm uma postura perfeita e um sotaque colonial impecável.

"O importante nesse trabalho não é só cumprir uma tarefa ou fazer alguma coisa; conta também realizar isso da forma mais atraente possível", explica Guha. "É o princípio da realeza."

O tratamento diferenciado inclui a solução de pequenas chateações e realização de atividades rotineiras – desfazer as malas, consertar um cadarço, preparar uma vitamina – além de providenciar prazeres mais refinados como o banho real: na temperatura ideal, com o volume exato de água, que deve estar cheia de coisas como gel Pink Pepperpod e Celestial Maracuja Sugar Polish. (Em tempo: O mordomo prepara o banho, mas não esfrega as costas.)

Como o mais velho da tríade, Guha, de 29 anos, conta que é especialista em 22 temas relacionados ao padrão cinco estrelas, incluindo jantar no quarto, conhecimento de costumes internacionais e, é claro, administrar reclamações. Entre suas habilidades também estão a manipulação do controle remoto, retirada de manchas do tapete e conhecimento sobre o estilo "power dressing". Guha diz que sua função primordial, porém, é agir como um "elo" entre o hóspede e os funcionários do hotel – que serve para resolver problemas, agir como secretário e faz-tudo.

"Eu nunca considero um pedido 'bizarro'; prefiro chamar de 'desafio'", explica ele. "Sempre me ensinaram que o hóspede é deus e deus não pode ter pedidos bizarros."

É um trabalho que também inclui ser "o amigo na falta de amigos" para os viajantes, entrega ele, embora isso inclua um dossiê intrincado de detalhes como o tipo de colchão que você prefere ou como toma seu café. De fato, parte do apelo de ter um mordomo/camareiro à sua disposição é o fato de que "até os desejos não revelados são intuídos", façanha que Guha desempenha graças à observação cuidadosa dos gostos e desgostos dos hóspedes.

"O 'assessor real' não é a pessoa que cumpre a tarefa, mas mantém o perfil do hóspede", diferencia. "Temos habilidades múltiplas: somos detetives, médicos, engenheiros, pode nos chamar do que for. Podemos ser qualquer coisa."

De fato, a impressão é a de que o bom mordomo é como um bom colega de quarto que pode correr até a pizzaria no meio da noite – "Com certeza, sem problemas", garante Guha – além de ouvir reclamações e confidências. "Se alguém quiser compartilhar alguma coisa, algum tipo de experiência, você deve agir como se fosse uma parede impenetrável", explica. "Assim que sair da suíte, deve estar zerado e limpo feito um quadro negro."

E se houver lágrimas, ele sempre tem um lenço pronto. "E se o lenço for pequeno demais", brinca, "posso até usar o paletó. É por isso que temos vários uniformes".

Essa solicitude elegante é parte do treinamento de mordomos na Índia, onde fica a sede do grupo a qual pertence o The Pierre, o Taj Hotéis, Resorts e Palácios e onde Guha, que é de Jamshedpur, foi treinado. No ano passado, ele e dois colegas, Rishabh Jain, de 22 anos, e Sujoy Choudhury, de 24, foram escolhidos entre milhares de outros candidatos para irem aos EUA para um estágio de seis meses antes de começarem em Nova York.

Desde que chegaram, os três são muito requisitados, mas ainda assim encontram tempo de realizar atividades fora do hotel. Jain, por exemplo, já saltou de paraquedas e está aprendendo a tocar teclado e estudando espanhol. Choudhury tem jogado bilhar com uma equipe no centro da cidade. Guha visitou Niagara Falls, embora sinta saudade da mulher, com quem está casado há quatro anos e que ainda mora na Índia.

Porém, como convém à sua posição, não deixa transparecer as emoções. Quando pergunto o que pediria se ficasse hospedado numa das suítes, ele se diverte. "Sou a pessoa que realiza", ri Guha, "não a pessoa que deseja. Nunca pensei nisso: o que eu pediria?". O que seria? "Minhas preferências são mínimas", ele diz. "Pode me dar um colchão duro ou macio porque, no fim das contas, vou estar tão cansado que vou dormir de qualquer jeito."