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Passeie por vinícolas amplas e luxuosas no Chile e deguste seus vinhos

Ondine Cohane

New York Times Syndicate

05/04/2013 08h01

De cima do cavalo, eu podia ver as videiras que se estendiam até o horizonte, espalhadas por toda a extensão do vale. A oeste, as montanhas, imensas, se erguiam por trás de um lago que mais parecia de vidro verde que refletia as nuvens; uma família de garças descansava à beira d'água. Tirando o vinicultor que cavalgava ao meu lado, alguns empregados, centenas de cabeças de gado, de garças e milhões de uvas, eu estava só nessa propriedade de 4,4 mil hectares no Chile.

Já fiz várias degustações de vinhos, de Napa a Bordeaux, e vivo a maior parte do ano nas proximidades dos produtores na Toscana, mas nunca senti tamanho isolamento e amplidão numa região produtora – e isso a apenas duas horas de carro ao sul de Santiago.

Isso talvez se deva ao fato de que a Viña Vik, única vinícola na região oriental da Cordillera de la Costa, no Vale Millahue, fica a 16 quilômetros em linha reta (embora a 45 minutos de carro) da região mais estabelecida da Província Colchagua.

A alquimia desse belo lugar, porém, não é só um acidente fortuito; o solo sob nossos pés foi analisado e dissecado exaustivamente para se saber o que cresceria ali. "Queríamos trazer a qualidade das melhores propriedades de Bordeaux", explica Patrick Valette, principal vinicultor da Viña Vik, parando para admirar um cacho de uvas maduras, "e, ao mesmo tempo, enfatizar o que torna o terroir chileno tão especial".

Com Alex Vik, um empresário norueguês, bancando o projeto, a esperança é de que o rótulo – e o vale, ainda pouco conhecido – recebam o reconhecimento que merecem.

Conforme as marcas da região vão ganhando mais notoriedade, ela também ganha mais luxo e sofisticação, incluindo vinícolas e hotéis modernos que apostam na presença de um novo tipo de turista - e embora a rede de serviços seja bem organizada, não chega a ser exagerada, como às vezes acontece em lugares como Napa.

Isso se torna bem evidente na Viña Vik, que, embora separada de Colchagua pela imponente cordilheira, tem condições semelhantes - ou até melhores - de cultivo de uvas: bastante sol, índice pluviométrico ideal e variedade de altitudes e solos. Na propriedade também há uma cantina primorosa, projetada pelo arquiteto chileno do momento, Smiljan Radic, e um resort de 22 quartos que será inaugurado ainda este ano.

Vik já tem dois hotéis bem conceituados no Uruguai: o Playa Vik de José Ignacio e a Estância Vik, de 1,1 hectares, a 8 km rumo ao interior, mas o projeto chileno é mais grandioso e mais ambicioso. Vik e Valette, produtor nascido no Chile e criado em Bordeaux, querem criar algo novo e diferente. "Levamos em consideração detalhes como a luz do sol, que é extraordinária aqui, excelente para a uva carmenère, que na França sofre com a falta de luminosidade natural", explica Valette.

  • Victo­r Ruiz Cabal­lero/The New York Times­

    Cordeiro assado servido na Viña Vik

Seu método é, no mínimo, meticuloso - afinal mapeou uma área de 404 hectares, constituída de inúmeros microclimas, analisando quatro mil amostras de solo.

E os resultados sugerem que eles estão no caminho certo: a primeira safra, de 2009, foi vendida a US$ 100/garrafa e se esgotou (embora eu tenha dado sorte de prová-la antes disso). É um blend tinto delicioso que combina cinco tipos de uvas, com sabores complexos de fruta madura e sabor que perdura. Para quem tem um paladar acostumado a vinhos europeus (como o meu), o gosto é familiar, mas diferente a ponto de ser interessante – como se fosse um produto de Bordeaux em outro continente. E Valette acredita que a safra de 2010, lançada em novembro passado, seja ainda melhor.

Entretanto, além do vinho, a paisagem da Vik foi que me conquistou. Ao contemplar o sol se pôr sobre a propriedade de uma das suítes do prédio principal, veio-me à mente a vastidão da savana africana e a beleza organizada das regiões vinícolas da França e Itália. "Queríamos que as plantações mantivessem uma relação simbiótica com a natureza", Vik me explicou, "e que fosse um lugar belo que as pessoas quisessem visitar".

Sem dúvida, o Chile é um país onde a natureza ganha lugar de destaque – com desertos, belas praias, cordilheiras absurdamente altas e geleiras espetaculares. Talvez tudo isso seja mais evidente nos 400 km do Vale Central, que fica entre os Andes e o Oceano Pacífico, com encostas suaves e quilômetros e mais quilômetros de videiras.

As melhores vinícolas estão no Vale Colchagua, separadas da Vik pelas montanhas, onde uma nova geração de produtores começou a conferir qualidade às excelentes uvas graças às técnicas artesanais europeias aplicadas às condições do Novo Mundo.

Em 2008, a revista Wine Spectator colocou a região no mapa enófilo ao eleger o Clos Apalta 2005 da Lapostolle o vinho do ano, o que acabou sendo benéfico não só para a vinícola, mas toda a área. (A propriedade é de Alexandra Marnier Lapostolle, bisneta do criador do Grand Marnier.) E simboliza as aspirações do tipo de turismo sofisticado local, com pernoites numa das quatro "casitas", ou villas de luxo, incluindo passeios particulares, todas as refeições, aulas matinais de ioga e visitas às vinícolas de outras regiões.

A cantina da Lapostolle é uma verdadeira instalação de arte, descendo em espiral por cinco andares para se abrir num salão de degustação com piso de vidro, suspenso sobre os barris das safras mais premiadas da família, incluindo garrafas de várias partes do mundo. A arquitetura complexa do prédio contrasta com o processo simples de produção no qual as uvas ainda são colhidas à mão pelas mulheres locais e o suco que delas resulta é ligeiramente filtrado, criando um produto final muito leve, mas bastante saboroso.

Embora a Lapostolle seja a estrela da região, tive experiências incríveis nas propriedades menores como a Viu Manent, fundada em 1935 e que produz o Gran Reserva Malbec, que recebeu inúmeros prêmios pela safra de 2010.

O almoço se estendeu por horas, apesar do cardápio bem simples: o filé grelhado e a salada orgânica que, combinados ao malbec, provaram ser uma das melhores refeições da viagem. Sob a sombra de uma figueira, observando os cavalos nos pastos, a beleza do lugar nunca se mostrou tão reveladora.

  • Victo­r Ruiz Cabal­lero/The New York Times­

    Detalhe da arquitetura de um dos ambientes da vinícola Lapostolle

Se você for

Como chegar
A região fica a duas horas de carro de Santiago. Você pode alugar um carro; as estradas são bem sinalizadas e de fácil acesso. Se preferir, a maioria dos resorts tem motoristas para o trajeto.

Se você não puder viajar, a Puro Wine, no SoHo de Nova York (161 Grand St.; 212-925-0090; purowine.com) se dedica exclusivamente às safras do país.

Onde ficar
Há quatro "casitas" na Lapostolle Residence (56-72-953-360; lapostolle.com) com diárias a partir de 283.500 pesos (cerca de US$ 590 com US$ 1 a 462 pesos chilenos), incluindo todas as refeições, passeio e degustação na vinícola Clos Apalta e visitas às propriedades vizinhas. Há também um restaurante, a Casa Parron, aberto de terça a domingo para almoço, com cardápio degustação combinado com vinhos de 30 mil a 60 mil pesos, dependendo da safra.

O resort da Viña Vik (vik.cl) deve abrir em novembro, com 22 quartos, piscina, restaurante, spa e atividades como passeios a cavalo e mountain bike, com diárias de US$ 1.200 e tudo incluído (a preferência é por dólares americanos). Por enquanto há quatro suítes luxuosas no prédio principal, com vista para o vale, e a estadia inclui sessões de degustação, refeições e passeios de bicicleta e cavalo (a partir de US$ 800).

Situada num antigo monastério jesuíta, a Residência Histórica de Marchihue (56-9-307-4183; residenciahistorica.com) serve de excelente base para explorar as vinícolas do Vale Colchagua. Possui 23 quartos com diárias a partir de 78 mil pesos.

Onde comer
Entre os excelentes restaurantes da área está o Rayuela Wine & Grill, da Viu Manent (56-2-2840-3180; viumanent.cl) com grelhados simples, mas muito saborosos - como o salmão selvagem com creme de milho. Não deixe de provar as ostras servidas com um copo de sauvignon blanc.